Propriedade - Examen corrige
com morte por parada respiratória. ...... (PIO) seja mantida próxima dos valores
normais, para. que o globo ...... Waldron DF, Willinghan TD, Thomp SO (1999).
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Lisboa Ano 106º Vol. CII Nº 561-562 pp 1-192 Jan - Jun 2007
Publicação Semestral
Tiragem 1200 exemplares
Preço 25,00 Euro
A Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, fundada em 1902, está inscrita na Entidade Reguladora para a Comunicação Social sob o registo nº 125123.
É permitida a reprodução do conteúdo desta revista
The reproduction of the contents of this publication is permitted
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R E V I S TA P O R T U G U E S A
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
DE
Índice
Artigos de revisão
Avaliação da exposição às fumonisinas: biomarcadores
Evaluation of fumonisins exposure: biomarkers
Celeste M. Lino, Liliana J. G. Silva, Angelina S. Pena
Instabilidade da caseína em leite sem acidez adquirida
Casein instability in milk without acquired acidity
Daniela S. Oliveira, Cláudio D. Timm
Clostridioses dos pequenos ruminantes
Clostridiosis of small ruminants
Francisco C. F. Lobato, Felipe M. Salvarani, Ronnie A. de Assis
Anestesia para cirurgias oftálmicas em canídeos
Anesthesia for ophthalmic surgeries in canines
Roberta Carareto, Newton Nunes, Marlos Gonçalves Sousa, Patrícia Cristina Ferro,
Piedad Natália Henao Guerrero, Celina Tie Nishimori, Danielli Parrilha de Paula,
Elaine Dione Venêga da Conceição
Memórias científicas originais
Morfologia e morfometria do timo em galinhas de Angola (Numidea meleagris galeata)
Morphology and morphometry of thymus in Guinea fowl (Numidea meleagris galeata)
Marcelo Ismar Santana, Pedro Primo Bombonato, Frederico Ozanam C. e Silva,
Hildebrando Gomes Benedicto
Ramos do arco aórtico no mocó (Kerodon rupestris)
Aortic arch branches of the in rock cavy (Kerodon rupestris)
Marcela dos S. Magalhães, José Fernando G. de Albuquerque, Moacir F. de Oliveira,
Paula de C. Papa, Carlos Eduardo B. de Moura
Sarcomas dos tecidos moles no gato: estudo do conteúdo de ADN nuclear e do seu valor prognóstico
pela técnica de citometria de imagem
Soft tissue sarcomas in cats: nuclear DNA content study and its prognostic value by image cytometry
Cristina Ochôa, Carlos Palmeira
Avaliação radiográfica da ocorrência de displasia coxofemoral em gatos sem raça definida na
cidade de São Paulo - Brasil
Radiographic evaluation of the occurrence of hip dysplasia in domestic cats in the city of
San Paulo - Brazil
Luís Carlos Medeiros Júnior, Sérgio Ajzen, Greg G. Keller
Utilização de um ensaio de RT-PCR - nested PCR para avaliação da infecção do Coronavírus Felino
Application of a RT-PCR - nested PCR assay for the evaluation of Feline Coronavirus infection
Ana Duarte, Luis Tavares
Uso do teste de compressão tibial e do deslocamento do sesamóide poplíteo no diagnóstico radiográfico
da ruptura do ligamento cruzado cranial em cães
Radiographic diagnosis of cranial cruciate ligament rupture in dogs using the tibial compression test
and popliteal sesamoid displacement
Durval Baraúna Júnior, Eduardo Alberto Tudury
5
17
23
35
43
49
53
61
65
71
Estudo comparativo entre métodos de determinação da glicemia em macacos-prego (Cebus apella)
mantidos em cativeiro
Comparative study of glicemia methods in capuchin-monkey (Cebus apella) in captivity
Marcela Miranda Luppi, José Anselmo B. Bastos, Marcelo de Campos Cordeiro Malta,
Maria Elvira Loyola Teixeira da Costa, Marcelo Martins Pereira
Implante jugular homólogo fixado em glutaraldeído, nos eqüinos
Homologous jugular graft fixed in glutaraldehyde, in horses
Peterson T. Dornbusch, Carlos A. Hussni,Winston B.Yoshida, Júlio L. Sequeira, Luis C.Vulcano,
Gustavo P. de Cillo
Toracotomia trans-esternal e intercostal simples em caprinos
Transsternal and intercostal thoracotomy in goats
Ezequiel C. S. de Almeida, Francisco S. Feitosa Júnior, Severino V. da Silva, Dêmis C. R. Menezes,
Antonio A. N. Machado Júnior, Raimundo R.C. Rocha, Paull A. C. dos Santos, João M. F. Sobrinho,
Antônio M. M. da Silva
A seroprevalência de anticorpos contra quatro vírus respiratórios em vacadas de carne do Ribatejo
Seroprevalence of antibodies to four respiratory viruses in beef herds of the Ribatejo region of Portugal
George Stilwell, Miguel Matos, Nuno Carolino
Pitiose equina na região sul do Brasil
Equine pythiosis in southern Brazil
Friedrich Frey Jr, Janaína R.Velho, Luciana A. Lins, Carlos E.W. Nogueira, Janio M. Santurio
Sexagem de embriões bovinos: eficiência e precisão, distribuição do sexo e viabilidade após vitrificação
Sex determination of bovine preimplantation embryos: efficiency and accuracy, sex ratio and viability of
vitrified embryos
Isabel Carvalhais, Jorge Pimenta, Carla C. Marques, Maria C. Baptista, Maria I.Vasques,
António E. M. Horta, Ingrid C. Santos, Maria R. Marques, Rosa M. L. N. Pereira
Variação sazonal do volume testicular, da produção e qualidade do sémen e do comportamento sexual
de cavalos Lusitanos
Seasonal variation of testicular size, semen production and sexual behaviour of Lusitano stallions
J. Robalo Silva, R. Agrícola, M. Barbosa, L. Lopes da Costa
Desempenho reprodutivo de cabras SRD (sem raça definida) inseminadas com sêmen congelado por
via transcervical ou laparoscópica
The reproductive performance of undefined breed goats inseminated with frozen semen by transcervical or
laparoscopic route
João Mendes Frazão Sobrinho, Rômulo José Vieira, Francisco Solano Feitosa Júnior,
Ezequiel Cardoso Saraiva de Almeida, Nicodemos Alves Macedo, Absai Oliveira Sousa,
Antônio de Sousa Júnior
Nutritional quality of intramuscular fat in Carnalentejana-PDO beef
Qualidade nutricional da gordura intramuscular da Carnalentejana-DOP
Cristina M. M. Alfaia, Marta R. A. Lourenço, Mário A. G. Quaresma, Susana I.V. Martins, Ana P.V. Portugal,
Carlos M. G. A. Fontes, Matilde L. F. Castro, Rui J. B. Bessa, José A. M. Prates
Avaliação do prazo de vida útil da salsicha fresca
Shelf life evaluation of Portuguese fresh sausage
Marília C. Ferreira, Maria João Fraqueza, António S. Barreto
Utilização de diferentes meios de cultura na identificação e recuperação de bactérias lácticas
Recovery and identification of lactic acid bacteria using different culture media
M. E. Potes, A. A. Marinho
75
81
87
97
107
113
119
127
133
141
145
Canibalismo em fêmeas de Macrobrachium rosenbergii (De Man, 1879) (Crustacea, Palaemonidae):
efeito da retirada das quelas
Cannibalism in Macrobrachium rosenbergii (De Man, 1879) females (Crustacea, Palaemonidae):
effect of claw excision
Sônia S. S. Brugiolo, José Milton Barbosa, Francisco J. Hernandez Blazquez, Paulo A. M. Nascimento
Caso clínico
Infecção por Trypanosoma evansi em equinos do Brasil
Infection by Trypanosoma evansi in horses from Brazil
Carina Martins de Moraes, Bruna da Rosa Curcio, Fredrich Frey Junior, Leandro do Monte Ribas,
Leandro Quintana Nizoli, Carlos Eduardo Wayne Nogueira
Comunicação breve
Babesiose equina: Enzootia em Nova Friburgo, Rio de Janeiro, Brasil
Equine Babesiosis: Enzootie in Nova Friburgo, Rio de Janeiro, Brazil
Maria A.V. da Costa Pereira, Carlos L. Massard e Gilmar F.Vita
Evaluation of diagnostic tests to bovine leukemia virus
Avaliação de testes de diagnóstico para o vírus da leucemia bovina
Marcelo F. Camargos, Francesco Feliziani, Antônio De Giuseppe, Leandro M. Lessa, Jenner K. P. Reis,
Rômulo C. Leite
Mastites subclínicas em cabras Serranas. Resultados preliminares
Subclinical mastitis in Serrana goats. Preliminary results
Álvaro Mendonça, Ramiro Valentim, Raimundo Maurício, Manuel Cardoso, Teresa Correia, Alípio Coelho
Suplemento
Cristiano Sheppard Cruz
Condecoração do Professor Doutor Apolinário Vaz Portugal
Vida associativa
Instruções aos autores
153
159
165
169
175
183
189
189
190
Avaliação da exposição às fumonisinas: biomarcadores
Evaluation of fumonisins exposure: biomarkers
Celeste M. Lino*, Liliana J. G. Silva, Angelina S. Pena
Grupo de Bromatologia - Centro de Estudos Farmacêuticos, Faculdade de Farmácia,
Universidade de Coimbra, 3000-295 Coimbra, Portugal
ARTIGO DE REVISÃO
5
Resumo: As fumonisinas, toxinas fúngicas produzidas,
principalmente, pelo Fusarium verticillioides, contaminam o
milho, alimentos e alimentos compostos a nível mundial.
Com o presente artigo pretende-se rever a utilidade e validade
de dois biomarcadores utilizados na avaliação da exposição, por
via alimentar, a estas micotoxinas, dada a frequente necessidade
em determinar alterações após o seu eventual consumo. As
fumonisinas podem ser detectadas em fluidos biológicos,
fezes e tecidos, mas a sensibilidade da metodologia usada
actualmente implica que apenas exposições elevadas possam
ser facilmente monitorizadas. Estudos mecanísticos indicam
que a ceramida sintetase, uma enzima envolvida na síntese dos
esfingolípidos, é o alvo celular para as fumonisinas, conduzindo
a um aumento da razão esfinganina-esfingosina em tecidos,
soro e urina, sendo esta razão considerada outro biomarcador
útil na avaliação da exposição às fumonisinas e na monitorização
dos efeitos biológicos causados pelas mesmas.
Summary: Fumonisins, fungal toxins mainly produced by
Fusarium verticillioides, contaminate maize and maize based
foods and feeds throughout the world.
This paper reviews the two biomarkers used for the evaluation
of dietary exposure to fumonisins given the frequently need to
determine changes following intake. Fumonisins can be detected
in biological fluids, faeces, and tissues, but the sensitivity of the
current methodology means that only high exposure can be
monitored easily. Mechanistic studies indicate that ceramide
synthase, an enzyme involved in sphingolipid synthesis, is one
cellular target for fumonisins toxicity leading to the increase of
the sphinganine-sphingosine ratio in tissues, serum, and urine,
being this ratio considered another useful biomarker for monitoring
the biological effect of fumonisins.
Introdução
As fumonisinas (FB), cuja estrutura foi identificada
pela pela primeira por Bezuidenhout et al. em 1988,
são um grupo de micotoxinas estruturalmente análogas
à esfingosina e esfinganina (Figura 1) (Lerda et al.,
2005) e produzidas, em determinados alimentos,
principalmente por Fusarium verticillioides,
Fusarium proliferatum e outras espécies fúngicas da
secção Liseola (Thiel et al., 1991). As FB ocorrem
fundamentalmente no milho e em alimentos à base de
milho, sendo as mais comuns a FB1, FB2 e FB3. A FB1
é a mais tóxica e abundante, seguida pela FB2 (Labuda
et al., 2003). Os métodos utilizados nos processos de
fabrico de produtos derivados do milho podem
converter fumonisinas intactas em fumonisinas
hidrolisadas (HFB) e parcialmente hidrolisadas (PHFB),
sendo a sua quantidade bastante inferior relativamente
à quantidade de fumonisinas intactas (Polling e
Plattner, 1999).
A contaminação de alimentos e rações com fumonisinas
tem sido associada a doenças várias, quer em
animais quer em humanos (Lino et al., 2004).
Nas espécies animais estudadas todos os problemas
causados pelas FB estão relacionados com a inibição
da biossíntese de esfingolípidos, sendo os órgãos mais
R E V I S TA P O R T U G U E S A
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
DE
*Correspondência: cmlino@ci.uc.pt
Tel: +351 239859994, Fax +351 239827126
Esfinganina
Esfingosina
Fumonisina B1
Figura 1 Estrutura química da esfinganina, esfingosina e fumonisina
B1 (adaptado de Solfrizzo et al., 1997).
Lino CM et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 5-15
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afectados o fígado e o rim. No entanto, as manifestações
clínicas que decorrem das toxicoses provocadas
pelas fumonisinas, bem como os órgãos atingidos,
variam de espécie para espécie.
Em ratos, lesões mais avançadas de ambos os órgãos
são caracterizadas por morte celular (apoptose)
simultânea à proliferação celular (Voss et al., 2001).
Em ovelhas, ratos e coelhos levam a toxicidade renal,
sendo também hepatotóxicas para os segundos. Em
ratos adultos estão descritos alguns efeitos anti-nutricionais
e consequências fisiopatológicas, nomeadamente
a redução da incorporação de folatos. Em
cavalos e suínos conduzem, respectivamente, ao
aparecimento de leucoencefalomalacia (ELEM) e
edema pulmonar (PPE). Outras espécies são também
atingidas por toxicoses induzidas por estas micotoxinas
(Carratù et al., 2003; Lino et al., 2004).
No Homem, as fumonisinas têm sido epidemiologicamente
relacionadas com o aparecimento de cancro
esofágico (EC) (Meyer et al., 2003). As populações da
África do Sul e da China apresentam os números mais
elevados de EC do mundo. Enquanto no Ocidente o
aparecimento deste tumor é atribuído a factores como
o tabaco e álcool, nas regiões referidas estes factores
não são considerados significativos (Turner et al.,
1999). Estas micotoxinas são citotóxicas, inibem a
síntese proteica e do ADN, promovem stress oxidativo,
induzem a fragmentação do ADN e interrompem o
ciclo celular (Creppy et al., 2004). As fumonisinas
têm também sido consideradas como suspeitas no
aumento da incidência de defeitos no tubo neural
(NTD) entre a população que vive ao longo da
fronteira Texas-México (Stack, 1998).
Assim, com base nos dados actuais, a Agência
Internacional de Pesquisa sobre o Cancro classificou a
FB1 como possivelmente carcinogénica para o
Homem, incluindo-a no grupo 2B (IARC, 2002).
Para evitar a ocorrência dos efeitos adversos
referidos existe uma necessidade premente de limitar
a exposição às fumonisinas, assegurando a qualidade
dos alimentos destinados ao consumo humano, mas
também a produtividade animal que apresenta uma
importância económica extrema. A possibilidade da
transmissão de micotoxinas através de produtos de
origem animal ingeridos pelos consumidores é preocupante.
Consequentemente é importante determinar a
respectiva contaminação por forma a garantir a Saúde
Pública (Prelusky et al., 1996). É, portanto, fundamental
desenvolver métodos eficientes para analisar
alimentos e monitorizar a exposição humana recorrendo
ao uso de biomarcadores apropriados (Chelule et al.,
2000).
Muitas das dificuldades que surgem aquando da
utilização de biomarcadores decorrem da necessidade
de determinar alterações após exposições de longa
duração e a baixas concentrações de certos componentes
da dieta ou de determinar ausência de
exposição. Sendo os biomarcadores usados como
indicativos de possíveis alterações sistémicas e
funcionais em órgãos, tecidos, células e estruturas
sub-celulares para monitorizar a exposição de indivíduos
e populações a determinados compostos, eles
devem ser específicos, sensíveis e recorrer a técnicas
pouco invasivas, principalmente no caso dos humanos
(Crew et al., 2001).
Uma das formas de avaliação da exposição de
populações às fumonisinas consiste em calcular a
respectiva ingestão diária estimada (EDI), através da
determinação dos níveis de fumonisinas nos distintos
itens alimentares que possam ser ingeridos, o que
conduz a um intenso, árduo e moroso trabalho de
avaliação (Turner et al., 1999). Apesar dos resultados
obtidos a partir do cálculo da ingestão diária com base
na análise de alimentos e em tabelas de consumo
serem úteis numa primeira etapa, revelam-se pouco
precisos (Crews et al., 2001). Para obstar esta
situação, a avaliação da exposição das populações às
fumonisinas consiste em avaliar os níveis de FB ou de
outros biomarcadores, como a razão esfinganina/
esfingosina (Sa/So), em fluidos biológicos e tecidos,
que podem constituir uma medida mais correcta da
exposição às referidas micotoxinas (Shetty e Bhat,
1998; Solfrizzo et al., 1997; Turner et al., 1999).
Fumonisinas
Um número apreciável de publicações científicas
tem revelado a preocupação da comunidade científica
internacional em avaliar os níveis de FB em fluidos
biológicos, fezes e tecidos.
Para avaliar a exposição às FB em animais e no
Homem são usados distintos fluidos biológicos (urina,
plasma e bílis) bem como fezes e tecidos (Shetty e
Bhat, 1998; Prelusky et al., 1996; Chelule et al., 2000;
Sewram et al., 2001; Sewram et al., 2003; Meyer et
al., 2003).
Os resultados de estudos de toxicocinética indicam
que a FB1 apresenta uma diminuta biodisponibilidade
oral em ratos, suínos, aves, bovinos e macacos
(Sewram et al., 2003; Fodor et al., 2006). A reduzida
biodisponibilidade da FB1 deve-se sobretudo à sua
fraca absorção e também à sua eliminação pelo efeito
de primeira passagem no fígado após a sua absorção.
A dúvida persiste em saber se a reduzida absorção e,
consequentemente, reduzida biodisponibilidade, se
deve ao facto do transporte através do epitélio
intestinal ser pobre ou ao facto de existir uma forte
associação entre as FB e o conteúdo intestinal
(Shephard e Snijam, 1999). Enquanto que Angelis et
al. (2005) concluem que a FB1 não atravessa a
barreira epitelial do intestino, não alterando por isso a
sua integridade, Loiseau et al. (2007) defendem que
uma exposição prolongada à FB1 pode aumentar o
respectivo fluxo trans-epitelial. Pensa-se que o facto
de a FB1 ser polianiónica, pela presença de aniões
carboxilos em C14 e C15, pode interferir na sua
Lino CM et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 5-15
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própria absorção ao ligar-se a catiões como o sódio, o
potássio e outras grandes moléculas necessárias para o
transporte activo através da membrana intestinal. Os
policatiões inibem o transporte activo de moléculas
como açúcares e aminoácidos através da membrana
intestinal de ratos (Elsenhans et al., 1983).
Hopmans et al. (1997) verificaram que uma pequena
porção de FB1 é absorvida para a corrente sanguínea
na sua forma intacta. No entanto, a absorção aumenta
quando por hidrólise a molécula perde um grupo de
ácido tricarboxílico. Este facto pode explicar a maior
toxicidade da HFB1 relativamente à FB1.
As características hidrofílicas das FB contribuem
para a sua rápida eliminação dos tecidos animais
(Buim et al., 1999).
Fluidos biológicos e fezes. A determinação da
fumonisina B1 em fluidos biológicos (plasma e urina)
foi referenciada por Shephard et al. (1992a) dois anos
após a determinação de FB1 em milho da região de
Transkei, na África do Sul, e cuja população humana
apresentava alta incidência de EC (Sydenham et al.,
1990). A urina é uma matriz biológica útil para monitorizar
a exposição das populações às FB, tendo sido
já demonstrada a excreção destas toxinas através deste
fluido biológico (Shetty e Bhat, 1998).
De acordo com Chelule et al. (2000) a pesquisa de
FB1 em plasma é impraticável dada a sua fraca
absorção e rápida eliminação pelo tubo digestivo,
factos que conduzem à sua baixa concentração neste
fluido biológico como foi constatado, em suínos, por
Prelusky et al. (1996) e Meyer et al. (2003). Por outro
lado, aparentemente, a FB1 não forma conjugados com
o ADN nem com proteínas plasmáticas, como a
albumina, conforme acontece por exemplo com a
aflatoxina B1 (Chelule et al., 2000).
No estudo realizado por Prelusky et al. (1996) em
suínos aos quais foi administrada por via oral FB1
marcada com 14C, foi detectada radioactividade na
bílis, o que confirma que existe alguma absorção desta
toxina. Meyer et al. (2003) encontraram níveis elevados
(358 mg/kg) de FB1 na bílis dos suínos estudados.
Estes dados confirmam que a FB1 é eliminada
essencialmente por via hepática (Prelusky et al., 1996;
Meyer et al., 2003). Os estudos realizados em
primatas não-humanos e outros animais permitiram
concluir que apenas 1% da dose administrada é
absorvida, o que parece explicar o facto de que seja
necessária a exposição (por ingestão) a doses elevadas
(superiores a 5 mg/kg) para obter concentrações
tecidulares passíveis de produzirem sintomas de
doença (Chelule et al., 2000).
Como as FB são fracamente absorvidas e a maior
parte da porção absorvida é excretada através da bílis
é sensato pesquisar FB e produtos resultantes da sua
degradação em fezes. Outra vantagem na análise desta
matriz resulta do facto de poder ser recolhida por
rotina nos hospitais, sem necessidade de sujeitar os
doentes a técnicas invasivas (Chelule et al., 2000).
Shephard et al. (1992b) administraram FB1 marcada
com 14C a ratos e avaliaram o seu percurso no
organismo. Aparentemente a FB1 não sofre biotransformações
significativas sendo eliminada, em 24
horas, maioritariamente através das fezes onde foi
detectada cerca de 80% da radioactividade, detectando-
se níveis vestigiais na urina.
Segundo Prelusky et al. (1996) a eliminação da
toxina através das fezes e urina de suínos Yorkshire
Barrow, durante os 3 dias que se seguiram à primeira
administração de rações contaminadas, foi baixa
cerca de 35% do total consumido. Após este período
inicial verificou-se um aumento rápido na eliminação
da FB1 atingindo-se os 85% no final da experiência,
que decorreu durante 33 dias. A eliminação por via
urinária contribuiu apenas com 0 a 2,5% do total
recuperado. A excreção urinária não é, portanto, a
principal via de eliminação da FB1.
Chelule et al. (2000) avaliaram a presença de FB1
em fezes de crianças em idade escolar de zonas rurais
e urbanas da África do Sul. Verificaram que 35% das
amostras provenientes de crianças de zonas rurais
eram positivas para a presença de FB1. Não é contudo
possível estabelecer uma relação entre os valores
encontrados e os teores de FB1 que possam ser
consumidos diariamente. Certamente, as populações
rurais terão níveis de exposição mais elevados do que
as urbanas, já que consomem produtos naturais à base
de milho que não estão sujeitos a qualquer controlo.
Constata-se assim que a determinação das quantidades
de FB1 em fezes pode constituir um biomarcador de
exposição à micotoxina, mas durante um período de
tempo curto após essa mesma exposição.
Segundo Shephard e Snijam (1999), a FB2, tal como
a FB1, apresenta uma biodisponibilidade baixa. Em
experiências realizadas com macacos vervet [macacos-
de-gibraltar ou macaco verde africano]
(Cercopithecus aethiops) verificou-se que, após a
administração intravenosa de 2 mg FB2/kg massa
corporal, a micotoxina foi rapidamente removida do
plasma. Para tal contribuiu uma fase inicial de
distribuição e uma fase seguinte de eliminação, esta
com um tempo de semi-vida de 18 minutos.
Aparentemente, a FB2 apresenta uma biodisponibilidade
ainda mais reduzida do que a FB1. Após administração
intravenosa a excreção de FB2 por via
urinária foi extremamente baixa. Apenas 4,1% da dose
administrada por via intravenosa e 0,2% da dose
administrada por via oral foram recuperadas na urina
durante um período de 7 dias após a exposição. Já a
comparação entre a excreção urinária de FB1 e de FB2,
em ratos, havia mostrado que a segunda é eliminada
em menor percentagem por via renal do que a FB1
(Shephard e Snijam, 1999). Parece assim que a via
predominante para a excreção desta micotoxina
intacta ou parcialmente hidrolisada é a via biliar.
Os factores que determinam a via de eliminação de
Lino CM et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 5-15
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xenobióticos são o peso molecular e a solubilidade em
água. Assim, pesos moleculares mais baixos e maior
hidrossolubilidade favorecem a eliminação por via
renal em detrimento da via biliar. A disparidade na
excreção renal das referidas FB pode provavelmente
ser explicada pelas diferenças observadas na polaridade
das mesmas. Assim, a FB1, que apresenta maior
polaridade, experimenta maior excreção renal, apesar
da sua massa molecular ser ligeiramente mais elevada.
A excreção extremamente reduzida de FB2, após
administração oral, através da urina reflecte a limitada
biodisponibilidade da toxina, uma vez que apenas
pequenas quantidades atingem a circulação sanguínea,
verificando-se a predominância da via biliar sobre a
via renal no seu processo de eliminação (Shephard e
Snijman, 1999).
Tal como foi referido para a FB1, a maior parte da
dose de FB2 administrada por via oral ou por via intravenosa
é recuperada nas fezes nas formas intacta
(FB2), hidrolisada (HFB2) ou parcialmente hidrolisada
(PHFB2). Destes três componentes, as quantidades
relativas de FB2 e PHFB2 variam largamente, enquanto
que a HFB2 aparece em pequenas quantidades.
Considerando a sua reduzida biodisponibilidade, a
FB2, tal como a FB1, sofrerá assim hidrólise no intestino
por acção de esterases ou por acção de microorganismos,
que predominantemente removem um dos dois
grupos de ácido tricarboxílico (Shephard e Snijman,
1999; Fodor et al., 2007). Apesar destes produtos de
hidrólise constituirem uma porção substancial da dose
de FB2 recuperada nas fezes, não foi detectada a sua
presença na urina (Shephard e Snijman, 1999).
Tal como para a FB1, também para a FB2 não é
possível recuperar completamente a dose administrada.
O metabolismo das FB no tubo digestivo poderá, no
entanto, explicar estas perdas (Shephard e Snijman,
1999).
Tecidos. Tendencialmente a FB1 acumula-se em
tecidos específicos do organismo dos animais, particularmente,
no fígado e nos rins. Esta tendência foi
confirmada por estudos realizados em suínos que
foram alimentados com rações contaminadas com FB1
(Prelusky et al., 1996; Meyer et al., 2003).
Em 1996, Prelusky et al. alimentaram suínos
durante 12 dias com ração contaminada com FB1
marcada com 14C. As doses administradas foram
diminuindo ao longo do tempo, sendo a dose máxima
inicial de 3,0 mg/kg de peso vivo. Vinte e quatro
dias após o início da experiência os animais foram
alimentados com ração não contaminada. Não foram
detectadas (LOD = 11,5 ng/g) quaisquer concentrações
de FB1 em amostras de baço, músculo, cérebro,
glândulas adrenais, tecido adiposo e pele. Foram
encontradas quantidades vestigiais (11,5 ng/g a
18,4 ng/g) nos pulmões, coração e ossos. No fígado e
rim a radioactividade foi detectada 3 dias após o
início da experiência. Nestes tecidos, os níveis de
radioactividade aumentaram com a ingestão continuada
da dieta contaminada com FB1. A acumulação de
radioactividade cessou logo que os animais passaram
a ser alimentados com ração não contaminada.
Contudo, 9 dias após o fim da administração de FB1
ainda era possível encontrar níveis marginais acima do
limite de detecção de radioactividade. O ciclo enterohepático
pode ter um papel importante no protelar da
eliminação total da FB1.
Meyer et al. (2003) procederam à administração
oral, a suínos de 12 a 14 kg de peso vivo, de 100 mg
de FB1/animal/dia, durante 5 a 11 dias. As concentrações
de FB1 foram determinadas, por LC-MS
(LOD=1,5 ng/g), em diversas amostras de tecidos. Os
autores verificaram que todas as matrizes analisadas
apresentavam quantidades detectáveis de FB1. As concentrações
médias encontradas foram particularmente
elevados no baço (854 ìðg/kg), rim (824 ìðg/kg),
fígado (231 ìðg/kg) e pulmão (170 ìðg/kg). Foi,
contudo, observada uma grande variabilidade nos
valores da concentração de FB1 nos mesmos tecidos
para diferentes animais. Tal pode dever-se à variação
analítica, mas também e sobretudo a diferenças individuais,
nomeadamente a capacidade individual de
absorção e de metabolização da FB1 bem como a
distribuição heterogénea da micotoxina em cada um
dos órgãos. É de notar que o metabolismo e a farmacocinética
da toxina podem estar alterados pelas
elevadas doses administradas
Recentemente, alguns autores têm avaliado as concentrações
de FB em faneras, como o pêlo de ratos e de
macacos vervet (Cercopithecus aethiops) e cabelo de
humanos, para prever o nível de exposição às toxinas.
Sendo a recolha destas matrizes uma técnica não
invasiva e observando-se nelas a acumulação destas
micotoxinas, a sua utilização será mais vantajosa
quando comparada com outras matrizes (Sewram et
al., 2001; Sewram et al., 2003).
A popularidade da utilização de cabelo na avaliação
de exposição a substâncias tóxicas tem vindo a
aumentar nas últimas décadas. Este interesse deve-se
sobretudo à facilidade na obtenção de amostras e, de
acordo com o comprimento do cabelo, à possibilidade
de avaliar a eventual exposição durante períodos de
tempo mais longos. Este facto acompanhado do
progresso das técnicas de separação, bem como da
selectividade e sensibilidade dos métodos analíticos
de detecção, tornou possível a detecção de xenobióticos
em cabelo na ordem dos pmol/mg (Sewram et al.,
2003).
Em 1992, quando se estudou a relação entre a contaminação
do milho por Fusarium moniliforme e FB e a
elevada incidência de cancro esofágico em vários
distritos da região de Transkei (África do Sul), obteve-
-se um valor de 13,8 ìðg de FB1/kg de peso corporal
(considerando um adulto de 70kg que consuma 460 g
de milho/dia) para a ingestão diária provável (PDI)
(Rheeder et al., 1992). No estudo realizado por
Lino CM et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 5-15
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Sewram et al. (2003) em amostras de cabelo de
pessoas oriundas da mesma região concluíu-se que a
PDI era de 20,4 ìðg de FB1/kg de peso corporal. A
diferença entre estes valores dever-se-à ao consumo
de outros alimentos contaminados. Para estimar
correctamente a exposição humana à FB1 através da
alimentação é necessário que a informação relativa ao
consumo de diversos alimentos, e não apenas o milho,
esteja disponível. A análise da matriz cabelo permite
medir a exposição cumulativa às FB, independentemente
das fontes de contaminação que podem ser
extremamente variáveis.
No entanto, a avaliação do nível de FB no cabelo
requer uma consideração atenta de factores como a
deposição passiva de esporos fúngicos, possíveis
alterações induzidas por tratamentos cosméticos e a
disposição das toxinas ao longo do cabelo (Sewram et
al., 2003). Estes autores verificaram que a quantidade
de FB detectada pode variar consideravelmente de
amostra para amostra, podendo este facto dever-se a
uma variabilidade interindividual, uma vez que os
factores que afectam a análise de xenobióticos no
cabelo são heterogéneos, incluindo-se o crescimento e
a cor do cabelo, a etnia, a idade e o sexo do indivíduo,
e ainda a biodisponibilidade e o metabolismo das
toxinas. A presença de interferentes pode ser ultrapassada
usando uma metodologia por MS-MS que
permite uma maior especificidade na análise. Apesar
destes factores a quantificação dos teores de FB1 no
cabelo permite efectuar uma qualitativa da exposição.
Razão esfinganina/esfingosina (Sa/So)
O mecanismo de acção das FB está relacionado com
a sua interferência com o metabolismo da esfingosinaesfinganina
(So-Sa) (Cirillo et al., 2003), perturbando
o metabolismo dos esfingolípidos (Figura 2) (Turner
et al., 1999; Soriano et al., 2005).
Os níveis reduzidos de FB no plasma e o seu rápido
declínio após a exposição, bem como o insucesso de
todos os estudos em detectar quantidades significativas
de analitos circulantes, mostram que estes parâmetros
não são adequados para serem utilizados como biomarcadores
na exposição de animais a estas toxinas.
Contudo, a observação de que a FB1 e a FB2 inibem a
enzima N-aciltransferase na biossíntese de novo de
esfingolípidos levando a uma acumulação de esfinganina,
uma base esfingóide, e a um aumento da razão
esfinganina-esfingosina sugere que o valor desta
razão poderá ser um biomarcador potencial e preferencial
relativamente à exposição às FB (Shephard e
Snijam, 1999).
Os esfingolípidos estão presentes nas membranas
celulares, desempenhando um papel fundamental na
regulação celular e no controlo de proteínas membranares
mediando o crescimento, a diferenciação e a
morte celular (Turner et al., 1999). Os esfingolípidos
mais simples são as bases esfingóides. Nas células dos
mamíferos as bases esfingóides mais comuns são a
esfingosina e a esfinganina. Normalmente a concentração
de esfingosina é 3 a 5 vezes mais elevada do
que a de esfinganina e a manutenção de baixas
concentrações de esfinganina e esfingosina livres é
importante uma vez que estes compostos têm uma
actividade biológica intrínseca considerável (Riley et
al., 1994a).
Em estudos in vivo e in vitro foi demonstrado que as
FB, com excepção da série A, são potentes inibidores
competitivos da esfinganina N-aciltransferase e da
esfingosina N-aciltransferase (ceramida sintetase)
uma vez que, são estruturalmente análogas de bases
esfingóides (Figura 1). As enzimas anteriormente
referidas são elementos chave para a via metabólica da
biossíntese de novo dos esfingolípidos e turnover dos
mesmos. Deste modo, as FB podem alterar a concentração
e a razão entre a esfinganina e a esfingosina,
diminuindo a biossíntese de esfingosina e promovendo
a acumulação de esfinganina (Figura 2) (Riley et al.,
1994a; Turner et al., 1999; Desai et al., 2002; Carratù
et al., 2003; Soriano et al., 2005). Daqui pode resultar
o bloqueio da biossíntese de esfingolípidos complexos
em células eucarióticas. Os esfingolípidos complexos
desempenham funções muito importantes a nível
membranar, estando também na base da formação de
mensageiros secundários que controlam diferentes
processos celulares, incluindo a expressão genética e a
activação/desactivação de proteínas específicas (Riley
et al., 1994a). Assim, estas micotoxinas contribuem
para uma variedade de consequências a nível celular,
como sejam a indução da apoptose e efeitos carcinogénicos
(Turner et al., 1999; Momany e Dombrink-
Kurtzman, 2001; Desai et al., 2002; Meyer et al., 2003).
Foi em 1991 que Wang et al. comprovaram que
as FB levam à desregulação do mecanismo dos
esfingolípidos, podendo eventualmente ter efeitos
terapêuticos. A incubação de hepatócitos de ratos
macho Sprague-Dawley com FB1 1 M, na altura considerada
suspeita de provocar leucoencefalomalacia
em cavalos, edema pulmonar em suínos e cancro do
Figura 2 - Mecanismo da biossíntese de novo dos esfingolípidos em
células animais (adaptado de Soriano et al., 2005).
Lino CM et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 5-15
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fígado em ratos, levou à inibição da incorporação de
serina - 14C na fracção da esfingosina dos esfingolípidos
celulares. Por outro lado, a exposição à FB1 conduziu
ao aumento de esfinganina, por inibição da actividade
da esfingosina N-aciltransferase (ceramida sintetase),
levando à desregulação da biossíntese de novo dos
esfingolípidos, tendo a sua acção sido rápida e persistente.
Resultados semelhantes foram obtidos com a
FB2. Wang et al. (1991) defendem que, apesar de
tóxicas, as FB podem ser de utilidade terapêutica em
doenças nas quais perturbações no turnover dos
esfingolípidos levam as células a acumular elevadas
quantidades destas biomoléculas.
A determinação da razão Sa/So, em fluidos biológicos,
permite assim avaliar a exposição à FB1 (Riley et
al., 1994a; Solfrizzo et al., 1997; Castegnaro et al.,
1998; Turner et al., 1999) (Figura 2).
Riley et al. (1994b) reportaram, pela primeira vez,
uma metodologia para a utilização da razão Sa/So
como biomarcador da exposição às FB. Uma vez que
os níveis de bases esfingóides livres ocorrem antes do
aparecimento de outros marcadores bioquímicos
induzidos por danos celulares causados pelas FB,
como por exemplo, a elevação dos níveis de enzimas
hepáticas, esta razão foi proposta como um biomarcador
específico no caso de consumo de dietas
contaminadas com FB.
A sensibilidade deste biomarcador foi já demonstrada
em diferentes espécies animais: ratos, póneis, suínos e
primatas não humanos (Wang et al., 1991; Riley et al.,
1994a; Yoo et al., 1996; Castegnaro et al., 1996;
Shephard et al., 1996; Solfrizzo et al., 1997;
Castegnaro et al., 1998; Westhuizen et al., 1999;
Abnet et al., 2001; Qui e Liu, 2001; Seefelder et al.,
2002).
Fluidos biológicos. Em 1996, Shephard et al., estudaram,
pela primeira vez, a inibição do metabolismo
dos esfingolípidos em macacos vervet (Cercopithecus
aethiops) alimentados durante 60 semanas com dietas
contaminadas com quantidades reduzidas (0,3 mg/kg
peso corporal /dia) e elevadas (0,8 mg/kg p.c./dia) de
materiais de cultura de F. moniliforme. Verificaram
que ocorreu um aumento da razão Sa/So no soro
sanguíneo. Alterações similares foram observadas na
urina (Tabela1).
De modo a confirmar os resultados obtidos, os autores
monitorizaram os níveis de 5 enzimas funcionais
hepáticas (AST, ALT, ãð-GT, LDH e fosfatase alcalina),
tendo verificado um aumento dos mesmos nos grupos
de animais expostos a dietas contaminadas, indicando
assim que o fígado é um órgão alvo para as FB. Neste
estudo um grupo experimental foi exposto por via oral
a 0,3 mg de FB/kg peso corporal/dia, durante o
período de ensaio. Este nível de exposição pode
ser relacionado com o estimado para diferentes
populações humanas. A PDI de FB para um habitante
da região de Transkei, que consome milho não contaminado,
é de 0,047 mg/kg peso corporal/dia. No
entanto, a PDI de um habitante que consome milho
contaminado aumenta para 0,355 mg/kg peso
corporal/dia. Assim, a razão Sa/So pode ser usada em
regiões cujas populações têm risco elevado por
exposição às FB. Já em áreas urbanas e em países
desenvolvidos, onde o milho não é o constituinte
principal da dieta mas é apenas um item da mesma,
estando o consumo diário provável de FB abaixo de
0,001 mg/kg peso corporal/dia, a razão Sa/So pode
ser mascarada por variações naturais intra ou
interindividuais (Shephard et al., 1996).
Estudos realizados em ratos Sprague-Dawley por
Riley et al. (1994a) indicam os rins como órgão alvo
da toxicidade induzida por FB, tendo sido sugerido
que as alterações na razão Sa/So verificadas na urina
possam constituir um biomarcador mais sensível do
que as verificadas no soro. No entanto, nos estudos
realizados por Shephard et al. (1996) com macacos
vervet, o rácio Sa/So no soro apresentou-se mais
significativo como indicador da exposição a FB.
O facto dos estudos realizados por Riley et al.
(1994b), nos quais se determinou a razão Sa/So
no soro, pulmões, fígado e rins após a exposição de
Tabela 1 - Valores da razão Sa/So observados em estudos realizados em animais.
Animais Quantidade de FB Razão Sa/So Referência
adicionada à dieta Soro Urina Tecidos (rim)
Ratos BD IV - Castegnaro et al.. (1996)
(grupo controlo) - 0,1 a 0,7 0,1
(grupo teste) 1-5mg FB1/kg p.c/dia 1,2 a 10 4 a 10
Macacos vervet - 0,43 0,87 - Shephard et al. (1996)
(grupo controlo) 0,3mg FB1/kg p.c/dia 1,72 1,58
(grupo teste) 0,8mg FB1/kg p.c/dia 2,57 2,17
Ratos BD IV
(grupo controlo) - 0,50 a 0,81 - - Castegnaro et al. (1998)
(grupo teste) 1mg FB1/kg p.c/dia 0,35 a 0,42
Ratos BD IV
(grupo controlo) 0,26 a 0,6
(grupo teste) 16,8mg FB1/kg p.c/dia 0,21 a 0,82 Castegnaro et al. (1998)
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Lino CM et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 5-15
animais a FB, terem evidenciado que o rim é o órgão
mais sensível e o facto de a elevação desta razão se
verificar inicialmente na urina, levaram Solfrizzo et
al. (1997) a desenvolver e reportar um método rápido
para a determinação da razão Sa/So em urina de ratos
macho Wistar e de humanos com o intuito de esta
razão funcionar como biomarcador da exposição a FB.
Porém, no que diz respeito à urina humana, estes
autores depararam-se com algumas dificuldades. Os
valores de Sa e So eram mais elevados em urina de
mulheres do que na dos homens, não sendo possível
estabelecer um valor para a razão no caso da urina
masculina, uma vez que a Sa não pôde ser detectada
abaixo de 0,1 ng/ml em nenhuma das amostras
analisadas (Tabela 2). Todavia, caso se verifique uma
exposição elevada a FB existe acumulação de Sa,
tornando-se a razão um biomarcador eficiente.
Solfrizzo et al. (1997) referiram também que os níveis
Tabela 2 - Valores da razão Sa/So observados em estudos realizados em humanos.
Região Proporção Sa/So Contaminação Ingestão Referência
Soro Plasma Urina do milho (ng/g) (¼g/kg p.c./dia)
Transkei __ 0,34±0,36 0,41±0,72 580 3,8 Westhuizen et al. (1999)
(África do Sul) (n=154) (n=153) (n=40)
Kwazulu-Natal __ 0,44±0,23 N.D. (< 10)
(África do Sul) (n=26) __ __
Bomet (Quénia) __ 0,28±0,07 0,34±0,20 60 (em apenas 0,06
(n=29) (n=27) uma amostra; n=7) __
Sul de Itália __ __ 0,29 __ __ Solfrizzo et al. (1997)
(n=6;
sexo feminino)
Lyon (França)
(dadores 0 a 0,78 __ __ __ __ Castegnaro et al. (1998)
saudáveis F) (n=10)
(dadores 0,11 a 0,57
saudáveis M) (n=8)
África do Sul
(dadores 0,09 a 0,44 __ __ __ __
saudáveis F) (n=13)
dadores 0,16 a 0,36
com EC M) (n=4)
Lixian (China)
(dadores 0,86±0,90 __ __ __ __ Abnet et al. (2001)
saudáveis) (n=185)
(dadores 0,79±0,75
com EC) (n=98)
Henan (China)
(dadores F) __ __ 0,20 (n=15) 80 a 41900 0,4 a 457 (F) Qiu e Liu (2001)
(dadores M) 0,11 (n=13) 0,5 a 740 (M)
Croatia
(controloF) 0,31±0,13 __ 0,25±0,08 __ __ Ribar et al. (2001)
(n=20) (n=20)
(controlo M) 0,29±0,12 0,18±0,12
(n=27) (n=20)
(dadores com 0,67 0,14±0,08
nefropatia F) (n=1) (n=5)
(dadores com 0,10 1,60±1,59
nefropatia M) (n=1) (n=4)
Sul Itália __ __ 0,36±0,02 __ sem consumo milho Solfrizzo et al. (2004)
Centro Argentina __ __ 0,36±0,02 __ sem consumo milho
Sul Brasil __ __ 1,57±0,49 350 0,57
Norte Argentina __ __ 0,69±0,12 350 0,55
Populações 1,27±0,332 0,56
combinadas
Lino CM et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 5-15
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isolados de Sa e So em urina humana podem variar
consideravelmente. Contudo, a razão Sa/So mantém-se
caso não haja exposição a FB.
Wang et al. (1999) verificaram que o consumo de FB1
por ratos macho Sprague-Dawley pode levar, de acordo
com a dose administrada, ao aumento irreversível de
esfingosina e esfinganina na urina.
Castegnaro et al. (1998) reportaram um método para
quantificar os níveis de Sa/So em soro humano e de
ratos BDIV macho. Não se verificaram variações
significativas nos valores de Sa/So em ratos adultos
aos quais se administraram diariamente 1 mg FB1/kg
peso corporal/dia durante 5 semanas; mas verificou-se
um aumento com significado estatístico marginal em
ratos jovens aos quais administraram 16,8 mg FB1/kg
peso corporal/dia, 3 vezes por semana, durante 63
semanas (Tabela 1).
Relativamente à determinação da razão Sa/So em soro
humano, Castegnaro et al. (1998) não verificaram
diferença significativa entre os níveis de Sa/So observados
em dadores saudáveis da África do Sul e em
pacientes com EC. No entanto, factores diversos
influenciaram este estudo: o reduzido número de
pacientes com EC, sendo exclusivamente do género
masculino ao invés do grupo controlo, e desconhecimento
da duração da hospitalização antes da recolha
das amostras. Uma conclusão importante deste estudo
é a grande variação interindividual que se verifica na
razão Sa/So quando se compararam dadores saudáveis
da África do Sul (com origem asiática) e de França
(Tabela 2). Factores genéticos e ambientais podem
influenciar a razão Sa/So dum indivíduo.
Em 1999, Westhuizen et al. determinaram pela
primeira vez a razão Sa/So em plasma e em urina de
comunidades rurais consumidoras de milho da região
de Transkei e da província de Kwazulu-Natal, na
África do Sul, bem como do distrito de Bomet no
Quénia. Nestas regiões foi correlacionada a contaminação
do milho por FB com a elevada incidência de
cancro esofágico. Foram também determinados os
níveis de Sa e So e da razão Sa/So em plasma e urina
de indivíduos masculinos e femininos e também os
níveis de FB em amostras de milho colhidas, na
mesma altura, nestas regiões. Os resultados obtidos
encontram-se detalhados na Tabela 2. Neste estudo os
autores (Westhuizen et al., 1999) não se depararam
com o problema anteriormente descrito por Solfrizzo
et al. (1997) no que diz respeito à baixa concentração
de bases esfingóides em indivíduos do género
masculino, tendo concluído que não existe uma
diferença significativa entre indivíduos dos dois
géneros para este parâmetro. Os valores reportados
por Westhuizen et al. (1999) estão de acordo com os
reportados por Solfrizzo et al. (1997) e Castegnaro et
al. (1998).
Os estudos realizados em variadas espécies animais às
quais foram administradas FB permitiram estabelecer
a razão Sa/So como um possível biomarcador para a
exposição a estas micotoxinas. Contudo, nestes
estudos foram administradas doses elevadas de FB
com o objectivo de investigar as respostas patológicas
das espécies animais à exposição às toxinas
(Westhuizen et al., 1999). De acordo com os níveis de
contaminação do milho apresentados na Tabela 2,
a PDI em Transkei será mais elevada do que a encontrada
no Quénia, sendo esta comparável à de algumas
populações da Europa ocidental. Em Kwazulu-Natal
não se registou exposição. O valor médio da razão
Sa/So no plasma e urina de indivíduos de Transkei não
é significativamente diferente do observado nos grupos
controlo, sendo possível que esta razão não seja
suficientemente sensível para ser usado como biomarcador
na exposição às FB a estes níveis de PDI.
Assim, esta razão pode apenas ser aplicada como
biomarcador em estudos animais em que a exposição
é relativamente elevada, havendo uma possível
excepção caso uma dieta baseada em milho com bolor
constituísse a dieta básica dos habitantes da região de
Transkei. Outro problema na utilização deste
biomarcador encontra-se no facto de se verificar uma
variação considerável entre indivíduos e no mesmo
indivíduo ao longo do tempo (Westhuizen et al.,
1999).
Qui e Liu (2001) determinaram os níveis de Sa, So e
Sa/So em urina de indivíduos adultos residentes na
província chinesa de Henan e expostos a uma dieta
rica em milho, durante um mês. Os autores pretendiam
desenvolver um método de cromatografia líquida
suficientemente sensível para determinar a Sa livre
em urina masculina, em consequência dos baixos
níveis presentes, e monitorizar a razão Sa/So em
indivíduos expostos a FB1 presente em dietas ricas em
milho. Tal como Solfrizzo et al. (1997) e Castegnaro
et al. (1998), aqueles autores concluíram que a
concentração de Sa e de So na urina feminina é mais
elevada do que na masculina (Tabela 2), apesar do
método detectar as baixas concentrações presentes na
urina masculina, em consequência da utilização de
maiores volumes da matriz. Esta diferença entre os
dois géneros permanece por explicar, podendo
dever-se à contaminação de células de zonas envolventes
do aparelho urinário feminino. Também neste
estudo se verificou que a razão Sa/So representa um
melhor biomarcador do que as concentrações de
Sa e de So isoladas uma vez que aquele se mantém
constante.
Os níveis de FB1 no milho foram também avaliados
por Qiu e Liu (2001) (Tabela 2), que concluíram igualmente
não haver uma relação estatística significativa
entre o consumo de FB e a razão Sa/So na urina dos
indivíduos, quer masculinos, quer femininos. Estes
resultados são concordantes com os apresentados
pelos autores referidos anteriormente, podendo a
razão Sa/So ser útil como biomarcador apenas quando
as populações consomem dietas com altos teores de
contaminação com FB.
Lino CM et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 5-15
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Em 2001, Abnet et al. estudaram a relação entre os
níveis de esfingolípidos decorrentes da exposição às
FB e o risco de EC na China. As concentrações de Sa
e de So determinadas no soro sanguíneo revelaram
não existir uma associação significativa entre estes
compostos nem uma relação entre a razão Sa/So com
a incidência de EC (Tabela 2). Estes resultados estão
de acordo com os apresentados por Westhuizen et al.
(1999).
Em 2004, Solfrizzo et al. compararam os níveis de
esfingolípidos na urina de populações humanas com
elevado e reduzido consumo de milho, mais uma vez
para avaliar a eficiência da razão Sa/So como biomarcador
da exposição a FB. Assim, as concentrações de
Sa e de So foram quantificadas em urina de indivíduos
residentes em duas regiões, uma no Norte da
Argentina e outra no Sul do Brasil, nas quais o
consumo de milho é elevado e onde existe uma elevada
incidência de EC e também na zona central da
Argentina e no Sul da Itália onde o consumo de milho
é muito reduzido ou mesmo inexistente. Verificaram
que o valor médio de Sa/So obtido nos dois grupos em
que não se verificou consumo de milho eram similares,
e semelhante ao descrito por Solfrizzo et al.
(1997) e Qiu e Liu (2001); já nos grupos com elevado
consumo de milho a média do valor da razão de Sa/So
na urina foi significativamente mais elevada. Todavia,
apesar dos níveis de FB no milho no Sul do Brasil e
Norte da Argentina serem semelhantes, os valores
médios da razão Sa/So foram diferentes (Tabela 2).
Deste modo, os elevados valores de Sa/So encontrados
no Brasil não podem ser associados só com a elevada
exposição às FB. Nos estudos levados a cabo com
ratos (Solfrizzo et al., 1997) e em que se comprovou
que a razão Sa/So é um biomarcador útil, a PDI a que
os animais foram expostos era 100 a 200 vezes mais
elevada relativamente à PDI calculada para este estudo.
Estes dados são similares aos estudos anteriormente
descritos que defendem que a razão em questão é útil
apenas quando a exposição é muito elevada.
Com o objectivo de estudar o papel das FB ou de outras
micotoxinas na etologia da nefropatia endémica (EN)
uma doença renal crónica presente em Brodska
Posavina, Croácia Ribar et al. (2001) determinaram
a razão Sa/So em soro e em urina de indivíduos
saudáveis e de indivíduos com EN da região endémica.
Concluíram não existir diferenças estatisticamente
significativas entre o valor da razão Sa/So no soro de
indíviduos saudáveis e no de doentes da região
endémica. Já na urina foram registadas alterações no
valor da razão Sa/So em indivíduos do sexo masculino
(Tabela 2). Quer no soro quer na urina foram observadas
variações nos níveis isolados de Sa e de So. O
aumento dos níveis de Sa e de So e as alterações na
razão Sa/So comprovaram a relação da EN com a
alteração do metabolismo dos esfingolípidos. Assim
os autores, de acordo com os dados bibliográficos
existentes, presumiram que os sujeitos estudados
podem ter estado expostos às FB, apesar de não
possuírem informação sobre a contaminação alimentar
por estas micotoxinas.
Tecidos. Apesar de não ser tão vulgar a análise de
esfinganina e de esfingosina em tecidos como é em
urina, plasma e soro sanguíneo, alguns autores
avaliaram a resposta de culturas celulares sujeitas à
presença de FB.
Delongchamp e Young, em 2001, desenvolveram
modelos matemáticos que comprovam que os níveis
de Sa em tecidos alvo (fígado e rins) constituem
um biomarcador para a resposta à FB1. Através do
modelo empregue os autores verificaram que a
concentração de Sa no fígado de murganhos B6C3F1
e nos rins de ratos F344/N sujeitos a uma dieta experimental,
está relaccionada com a incidência tumoral e
a morte celular por apoptose. No entanto, os resultados
parecem não ser tão fiáveis quando o modelo é
aplicado a murganhos. Este facto pode dever-se ao
facto de a FB1 ser eliminada mais rapidamente (tempo
de semi-vida de eliminação mais elevado) em murganhos
do que em ratos, pelo que para os mesmos
nível e período de exposição o efeito será menor
naquela espécie. Apesar de inicialmente os autores
questionarem a utilidade dos níveis de esfinganina
como biomarcador, uma vez que sofrem grandes
variações, consideram o modelo apresentado suficientemente
consistente para permitir o seu uso como
biomarcador de exposição às FB.
Em 2004, Sharma et al. concluíram que a actividade
da esfingosina cinase confere resistência à apoptose
celular induzida pela FB1 em células renais embrionárias
de origem humana. Apesar da FB1 induzir
citotoxicidade inibindo a ceramida sintetase, verificou-
se que células renais embrionárias humanas são
resistentes à toxicidade produzida por 25 ¼M de FB1
durante 48 horas, não manifestaram aumento de
incidência de apoptose celular. O mesmo não se
verificou em células do epitélio renal de suínos. No
entanto, a manifestação do efeito tóxico da FB1 nas
células renais embrionárias humanas foi potenciado
pela presença de um inibidor da esfingosina cinase.
Para além do bloqueio da biossíntese de esfingolípidos
complexos, a FB1 modula também a expressão de
muitos factores de sinalização celulares (He et al.,
2005). Estes autores concluíram que a miriocina,
inibidor específico da serina palmitoil transferase
(SPT), previne a acumulação de bases esfingóides no
tecido hepático de ratos expostos à FB1, sem, contudo,
reduzir a hepatotoxicidade induzida pela toxina. Os
autores concluíram ainda que a combinação de miriocina
com FB1 preveniu a elevação de esfinganina livre
nos tecidos hepáticos e também a indução de genes
sinalizadores selectivos. No entanto, a referida combinação
não preveniu o aumento da concentração
plasmática de alanina aminotransferase e apenas
reduziu ligeiramente a concentração de aspartato
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aminotransferase. Também não se verificou qualquer
alteração no que diz respeito à apoptose e proliferação
celular induzidas pela FB1.
Conclusões
A quantificação de FB em fluidos biológicos e tecidos
pode ser usada como biomarcador de exposição
àqueles contaminantes, mas dada a sensibilidade da
metodologia de análise, apenas em casos em que se
verifique uma exposição elevada. Por outro lado, a sua
rápida eliminação bem como a baixa biodisponibilidade
destas micotoxinas tornam a sua quantificação
directa menos fiável para ser usada como biomarcador.
A razão Sa/So é um bom exemplo dum biomarcador
para a exposição mas também útil para a monitorização
dos efeitos biológicos das FB, uma vez que a ceramida
sintetase é uma enzima chave no metabolismo dos
esfingolípidos e estes desempenham papéis importantes
nas membranas celulares. No entanto, serão
ainda necessárias provas mais convincentes que
permitam usar esta razão como biomarcador seguro na
exposição humana às FB.
Agradecimentos
Os autores agradecem à FCT e FEDER/POCTI a
bolsa de doutoramento concedida a Liliana J. G. Silva.
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Instabilidade da caseína em leite sem acidez adquirida
Casein instability in milk without acquired acidity
Daniela S. Oliveira, Cláudio D. Timm*
Inspeção de Leite e Derivados, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal de Pelotas,
prédio 34, campus universitário, Pelotas, RS, Brasil, CEP: 96010-900
ARTIGO DE REVISÃO
17
Resumo: O aparecimento de leite que reage positivamente à
prova do álcool, sem ter elevada acidez nem ser originário de
vacas com mastite, é um problema prático que acomete com
freqüência rebanhos leiteiros e/ou indústrias lácteas. Neste
trabalho, é apresentada uma breve revisão sobre a ocorrência
de leite com proteína instável, abordando alguns aspectos
relacionados à estabilidade coloidal da caseína. A caseína é uma
fosfoproteína com atividade anfipática por possuir regiões
hidrofílicas e hidrofóbicas, sendo os filamentos hidrofílicos da
êð-caseína na superfície da micela os responsáveis por sua
estabilidade. Hidrólise enzimática da êð-caseína, temperatura,
pH, excesso de Ca2+ e adição de etanol estão entre os principais
fatores que levam à instabilidade das micelas. Leites com
proteína instável sem acidez adquirida apresentam diminuição
no teor de caseína e aumento na concentração de íões, particularmente
cálcio, e parecem estar correlacionados com épocas de
carência alimentar ou dietas deficitárias. Embora as causas
da ocorrência de leite com estas alterações ainda não sejam
completamente conhecidas, os estudos realizados são sugestivos
de que estejam relacionadas com o manejo nutricional
inadequado.
Summary: Milk positive in alcohol test, without high acidity
and not from mastitic cows is a practical problem that frequently
happens in dairy herds and industries. This work presents a
short review about the occurrence of milk with instable protein,
concerning some aspects related to colloidal stability of the
casein. Casein is a phosphoprotein with anphypatic activity
because it has hydrophilic and hydrophobic regions. The
hydrophilic filaments of êð-casein on micelle surface are responsible
for its stability. Enzymatic hydrolysis of êð-casein, temperature,
pH, excess of Ca2+, and ethanol addition are the main factors
that induce instability of the micelle. Milk with instable protein
without acquired acidity shows decreased casein content and
increased ions concentration, especially calcium, and seems to
be correlated with periods of food shortage or deficient diets.
Although the causes of the occurrence of milk with this
alteration are not completely known yet, the studies carried out
suggest it is related to unsuitable nutritional handling.
Introdução
Há várias décadas existem dados sobre alterações
nas características físico-químicas do leite por causas
não totalmente esclarecidas. O aparecimento de leite
que reage positivamente à prova do álcool ou à prova
do cozimento, sem estar ácido nem ser originário de
vacas com mastite, é um problema prático que
acomete com freqüência rebanhos leiteiros e/ou
indústrias lácteas (Ponce, 1999).
A estabilidade do leite ao etanol, definida como a
concentração mínima de etanol em solução aquosa
que promove a coagulação do leite (Horne e Parker,
1979), tem sido utilizada em alguns países como
método rápido e barato para determinar a acidez
adquirida do leite. O leite produzido nas propriedades
rurais deve apresentar resultado negativo na prova do
álcool, ou seja, não deve formar grumos quando
misturado a igual volume de solução de etanol em
concentrações pré-estabelecidas, geralmente 70 ou 72 %
(v/v), antes de ser coletado para o tanque isotérmico
do caminhão transportador (Brasil, 2002; Chavez et
al., 2004). O leite com resultado positivo no teste é
considerado com baixa resistência térmica, podendo
coagular nas placas do pasteurizador durante o tratamento.
Entretanto, a ocorrência de leite sem acidez
adquirida, com baixa contagem bacteriana, positivo na
prova do álcool tem levado à rejeição de leite com boa
qualidade (Timm et al., 2002; Donatele et al., 2003),
acarretando perdas econômicas ao produtor, que não
recebe pagamento pelo leite, e à indústria de laticínios,
que tem o fornecimento de leite diminuído.
Alterações na estabilidade do leite frente ao etanol
também têm sido relatadas em outros países (Donnelly
e Horne, 1986; Ponce, 1999; Barros et al., 2000;
Negri, 2002).
Neste trabalho, é apresentada uma breve revisão
sobre leite positivo no teste do álcool, sem acidez
adquirida e com baixa contagem de células somáticas,
com objetivo de caracterizar sua ocorrência, abordando
alguns aspectos relacionados com a estabilidade
coloidal da caseína, sem, no entanto, ter a pretensão de
esgotar o tema.
R E V I S TA P O R T U G U E S A
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
DE
*Correspondência: timm@ufpel.tche.br
Tel: +55 53 32757216; Fax: +55 53 32757311
Oliveira DS e Timm CD RPCV (2007) 102 (561-562) 17-22
18
Caseína
Leite é uma solução contendo sais, lactose e proteínas
dispersos em fase aquosa, glóbulos de gordura em
emulsão e partículas hidratadas de proteína em
suspensão coloidal (Walstra e Jenness, 1984).
As proteínas do leite são divididas em duas classes
principais. A primeira fração, que corresponde a
aproximadamente 80% da proteína total do leite
bovino, é formada pela caseína. A segunda fração
compreende as proteínas do soro lácteo (Cheftel et al.,
1989).
Caseína pode ser definida como uma proteína micelar
precipitada por acidificação do leite desnatado a pH
4,6 e a temperatura de 20 °C, sendo classificada como
fosfoproteína, devido à presença de fósforo (Sgarbieri,
1996). A caseína tem atividade anfipática por possuir
regiões hidrofóbicas e hidrofílicas (de Kruif e
Grinberg, 2002). A conformação das moléculas expõe
consideravelmente os resíduos hidrofóbicos, o que
resulta em forte associação entre as caseínas e as torna
insolúveis em água (Goff, 2006).
A caseína possui seqüências fosforiladas através das
quais pode interagir com fosfato de cálcio, o que a
torna capaz de seqüestrar fosfato de cálcio, formando
minúsculos agrupamentos de íons circundados por
uma camada de proteína (Little e Holt, 2004; Holt,
2004). Segundo Smyth et al. (2004), além da função
nutricional, a caseína é o meio pelo qual grande
quantidade de cálcio pode passar pelo epitélio
mamário sem provocar problemas de calcificação.
Esta função impõe limites à seqüência primária da
proteína, influenciando sua conformação em solução e
sua organização com o fosfato de cálcio.
O termo micela tem sido usado para designar a
mistura complexa de proteínas dispersas do leite na
forma de partículas coloidais aproximadamente esféricas.
Cerca de 80-90% de toda caseína está nessa forma
(Sgarbieri, 1996). Micelas de caseína são agregados
relativamente grandes desta proteína, possuindo
aproximadamente 7% de fosfato de cálcio e pequenas
quantidades de citrato (Horne, 2003; Smyth et al.,
2004). Uma micela típica tem raio de 100 nm e massa
de 109 Da, contendo aproximadamente 800 núcleos de
fosfato de cálcio por micela. Cada núcleo tem 61 kDa
de massa e 2,4 nm de raio (Holt et al., 2003). A
principal força de formação das micelas em solução
aquosa é o efeito hidrofóbico, assim, todos os fatores
que promovem interações hidrofóbicas, como aumento
da temperatura e adição de alguns sais, facilitam a
organização das caseínas em micelas (Mikheeva et al.,
2003).
A natureza e a estrutura das micelas de caseína têm
sido extensivamente estudadas, mas sua exata estrutura
ainda permanece em debate. A maioria dos modelos
propostos enquadra-se em uma de três categorias
gerais: (1) modelo núcleo-córtex, baseado originalmente
em estudos da solubilidade da caseína em
soluções com Ca2+, (2) modelo das submicelas,
baseado na influência do tratamento com uréia e
oxalato sobre a ruptura das micelas de caseína, e (3)
modelo de estrutura interna, baseado nas propriedades
de cada componente isoladamente, causando ou
direcionando a formação da estrutura interna das
micelas de caseína. Os vários modelos de estrutura das
micelas de caseína propostos nas últimas três décadas
podem ser verificados de forma detalhada na revisão
elaborada por Phadungath (2005).
O leite de vaca contém quatro tipos de caseína,
áðs1, áðs2, âð ðe êð-caseína, na proporção 4:1:4:1 (de Kruif
e Grinberg, 2002), as quais são constituídas por 199,
207, 209 e 169 resíduos de aminoácidos, com pesos
moleculares de 23, 25, 24 e 19 kDa, respectivamente
(Goff, 2006).
A cadeia polipeptídica da caseína áðs1 está formada
por duas regiões hidrofóbicas separadas por uma zona
polar. Todos os grupos fosfatos, menos um, estão no
segmento polar 45-89 e 17 resíduos de prolina se
distribuem nos segmentos hidrofóbicos. Portanto, esta
proteína pode ser considerada como uma cadeia
polipeptídica frouxa e flexível. A caseína áðs1 precipita
com níveis de cálcio muito baixos.
A caseína áðs2 possui uma estrutura bipolar com
cargas negativas concentradas perto da extremidade
N-terminal e positivas na porção C-terminal. É mais
sensível à precipitação pelo Ca2+ que a caseína áðs1
(Walstra e Jenness, 1984).
A êð-caseína é uma fosfoproteína sensível ao Ca2+,
possuindo cinco serinas fosforiladas e 35 resíduos de
prolina (Mikheeva et al., 2003). É uma proteína
anfipática com uma região hidrofílica na porção
N-terminal e uma região C-terminal hidrofóbica com
carga quase zero. Nos sítios de ligação com o cálcio,
os resíduos de serina-fosfato têm carga -2 na ausência
de cálcio (Follows et al., 2004). Uma característica da
âð-caseína é sua dependência da temperatura, formando
grandes polímeros a 20 ºC, mas não a 4 ºC (Walstra e
Jenness, 1984; Goff, 2006). A adsorção de âð-caseína
aos núcleos de fosfato de cálcio limita o crescimento
desses (Follows et al., 2004). Segundo Horne (2003),
a âð-caseína ligada ao núcleo de fosfato de cálcio atua
como uma ponte de ligação a outras caseínas. Por ser
mais fosforilada que a êð-caseína, a âð-caseína é mais
sensível a altas concentrações de sais de cálcio,
embora seja menos sensível a precipitação com cálcio
do que as caseínas áð ð(Walstra, 1999).
Diferentemente das outras caseínas, a êð-caseína é
uma glicoproteína e possui apenas um grupo fosfoserina,
sendo, portanto, estável na presença de íons de
cálcio e assumindo importante papel na estabilidade
da micela de caseína (Dalgleish, 1998; Walstra, 1999).
O fosfato de cálcio atua como um agente cementante,
mas se não houver êð-caseína, a agregação continuará
até à formação de um gel ou de um precipitado
Oliveira DS e Timm CD RPCV (2007) 102 (561-562) 17-22
19
(Walstra, 1990). A êð-caseína se localiza na superfície
da micela, com a zona hidrofóbica da molécula ligada
à micela, enquanto a porção hidrofílica forma uma
capa de filamentos altamente hidratados que se projetam
na fase aquosa. Os filamentos de êð-caseína são os
responsáveis pela estabilidade estérica das micelas de
caseína (Varnam e Sutherland, 1995). Em estudo
recente, Bansai et al. (2006) demonstraram que o
peptídeo N-terminal da êð-caseína apresenta uma
irregular estrutura helicoidal que pode contribuir para
a estabilidade da caseína.
Estabilidade das micelas de caseína
A estabilidade da micela de caseína depende da
presença da êð-caseína na sua superfície, a qual se
constitui na fração hidrofílica da caseína, que reage
com a água e impede a agregação das micelas
(Creamer et al., 1998). Segundo Tuinier e de Kruif
(2002), a estabilidade estérica gerada pela relativamente
esparsa camada externa de êð-caseína em forma
de escova é o fator estabilizante mais importante.
Hidrólise enzimática da êð-caseína, temperatura, pH,
excesso de Ca2+ e adição de etanol estão entre os
principais fatores que afetam a estabilidade coloidal
das micelas de caseína (O Connell et al., 2006).
Hidrólise enzimática
A hidrólise enzimática da êð-caseína reduz a estabilização
estérica das micelas, bem como a repulsão
eletrostática intermicelar, resultando na coagulação do
leite (Fox et al., 1996).
Em um primeiro estágio, a quimosina cliva a ligação
entre os aminoácidos 105 (fenilalanina) e 106
(metionina) da cadeia peptídica da êð-caseína, eliminando
sua capacidade estabilizante e gerando como
produtos uma porção hidrofóbica, para-êð-caseína, e
uma hidrofílica chamada glicomacropeptídeo, ou mais
apropriadamente, caseínomacropeptídeo. No segundo
estágio, as micelas se agregam devido à perda da
repulsão estérica da êð-caseína (Goff, 2006).
Leites mastíticos apresentam grande quantidade de
células somáticas. Os lisossomos dessas células
contêm enzimas proteolíticas, dentre as quais a
catepsina D, que pode produzir para-êð-caseína e
caseínomacropeptídeo a partir de êð-caseína e, em altas
concentrações, pode coagular o leite (Larsen
et al., 1996; Hurley et al., 2000).
Microrganismos psicrotróficos, ao se multiplicarem
no leite armazenado em baixas temperaturas,
produzem enzimas proteolíticas termoestáveis, a
maioria das quais tem ação sobre a êð-caseína, resultando
na desestabilização das micelas e coagulação do
leite (Fairbairn e Law, 1986).
Temperatura
A 4-5 ºC a interação hidrofóbica fica fraca e parte
das caseínas, em especial, a âð-caseína inicia a dissociação
das micelas. A hidratação aumenta, já que
as cadeias de âð-caseína projetam-se da superfície
micelar e uma pequena parte do fosfato de cálcio se
dissolve. Estas trocas são responsáveis pela ligeira
desintegração das micelas. A 0 ºC a agregação micelar
é difícil de acontecer (Walstra, 1990). Em altas
temperaturas a quantidade de fosfato de cálcio associado
às micelas aumenta e ocorre dissociação da
êð-caseína, diminuindo a estabilidade (O Connell et
al., 2006).
Micelas de caseína de maior tamanho são menos
resistentes ao aquecimento do que micelas de menor
diâmetro, devido ao menor conteúdo de êð-caseína, o
que as torna mais susceptíveis ao Ca2+. O maior grau
de glicosilação da êð-caseína nas micelas de maior
tamanho em relação às micelas menores também
favorece a formação do complexo êð-caseína
âð-caseína (O Connell e Fox, 2000).
PH
A acidificação reduz a carga e a hidratação das
proteínas (OConnell et al., 2006). As ligações que
mantêm as micelas de caseína juntas são mais fracas e
escassas a pH 5,2 ou 5,3. A pH inferior, com o aumento
da atração electrostática entre as moléculas de
caseína, as micelas mantêm-se mais fortemente
juntas; a pH superior uma quantidade crescente de
fosfato de cálcio coloidal faz o mesmo (Walstra,
1990).
Leite mastítico e do final da lactação têm três vezes
mais probabilidade de ser instáveis do que leites de
vacas no início ou meio da lactação. O fator responsável
por este efeito é o aumento no pH do leite,
devido à maior permeabilidade do epitélio mamário
a pequenas partículas e íons (Holt, 2004).
Adição de etanol
A adição de etanol a uma solução aquosa diminui
a constante dielétrica do solvente, favorecendo as
interações eletrostáticas (Mikheeva et al., 2003).
A adição de etanol ao leite induz várias alterações
nas micelas de caseína: (1) colapso da região C-terminal
proeminente da êð-caseína, levando à redução da
repulsão estérica intermicelar e do potencial hidrodinâmico
das micelas; (2) o pKa dos resíduos de
glutamato e aspartato é aumentado, enquanto os
resíduos alcalinos lisina, arginina e histidina não são
afetados, o que leva à diminuição da carga negativa na
superfície das micelas; (3) redução na solubilidade do
cálcio e do fosfato associado às micelas de caseína. O
Oliveira DS e Timm CD RPCV (2007) 102 (561-562) 17-22
20
colapso da camada de êð-caseína, a redução na carga
micelar e a precipitação do fosfato de cálcio colaboram
para a redução da estabilidade micelar da
êð-caseína (O Connell et al., 2006).
Robitaille et al. (2001) demonstraram que um
polimorfismo na expressão do gene da êð-caseína afeta
a estabilidade do leite ao etanol. Leite obtido de vacas
que apresentam predominância na expressão do alelo
B do gene da êð-caseína em relação ao alelo A
precipitou frente a concentrações de etanol significativamente
maiores que as requeridas para precipitar
leite de vacas com expressão similar para os alelos
A e B.
Excesso de Ca2+
O aumento da força iônica ou a forte ligação de íons
específicos a grupos carregados da proteína pode
diminuir a repulsão eletrostática e favorecer a
auto-associação das proteínas (Mikheeva et al., 2003).
O excesso de Ca2+ é comparável ao salting out, ou seja,
quando ocorre excesso de sais diminui a solubilidade
das proteínas em água. O excesso de sais domina as
cargas do solvente (água), diminuindo, conseqüentemente,
o número de cargas disponíveis para se ligarem
ao soluto (proteína). Desta forma, aumenta a interação
soluto/soluto, ocorrendo a precipitação das proteínas
(Riegel, 2001).
De acordo com Varnam e Sutherland (1995), a
concentração de citrato afeta o conteúdo de cálcio
solúvel e a estabilidade do leite. O citrato seqüestra o
cálcio iônico, reduzindo o cálcio disponível para
unir-se com a caseína e estabilizando as micelas,
evitando sua agregação.
Leite com instabilidade das micelas
de caseína
Em trabalho sobre coagulação do leite fresco frente
ao álcool, Mitamura (1937) menciona variações na
estabilidade do leite que ocorreram em Utrecht, na
Holanda, em 1930. De acordo com Davies e White
(1958), nos casos de Utrecht, a instabilidade da
proteína ao calor e ao etanol estava relacionada com a
concentração de íons de cálcio no leite. A adição de
substâncias alcalinas ou ânions que combinam com o
cálcio, como citrato de sódio, reduz a concentração de
íons de cálcio, aumentando a estabilidade do leite ao
etanol.
Na Itália, Pecorari et al. (1984) estudando leite com
tempo de coagulação anormal, encontraram valores
baixos para os teores de caseína, lactose e minerais
(cálcio e fósforo) e alterações nas propriedades
físico-químicas, como baixa acidez titulável, alto pH e
resultado positivo na prova do álcool.
Em Cuba, Ponce (1999) relatou que desde 1976
ocorria, em uma região deste país, produção de leite
com reação alcalina e resultado positivo à prova do
álcool, sem que este leite fosse proveniente de vacas
com mastite ou com lactação prolongada. A única
condição associada a estas alterações foi a alimentação
de animais da raça Holandês de alto potencial
genético baseada na utilização de cana-de-açúcar
como forragem durante a época de seca. O autor
propôs a denominação Síndrome do Leite Anormal
(SILA) para este tipo de anormalidade do leite.
A SILA, de acordo com Ponce e Hernández (2001),
refere-se a um conjunto de alterações nas
propriedades físico-químicas do leite, caracterizadas
por diminuição dos sólidos totais, da estabilidade
térmica e da capacidade tamponante, que causam
transtornos nos processos de elaboração de derivados
lácteos, no seu rendimento e/ou na sua qualidade
final. É um fenômeno ainda não bem identificado em
todos os casos, de causa multifatorial associada a
transtornos fisiológicos metabólicos e/ou nutricionais
com implicações nos mecanismos de síntese e
secreção lácteas. Os desequilíbrios em energia e
proteína associados às características da ração, com
implicações no ambiente ruminal e comprometimento
do metabolismo geral (acidose), são os fatores de
maior consideração nos casos que ocorreram em
Cuba. Essa síndrome teve maior ocorrência em bovinos
com alto potencial genético e em épocas de estresse
nutricional e/ou calórico.
Barros et al. (1999), no Uruguai, notaram influência
da época do ano sobre a ocorrência de leite com
resultado positivo na prova do álcool, observando uma
freqüência aparentemente maior no Outono e na
mudança de estação de Inverno para Primavera,
estando associada com períodos de seca.
No período de seca do ano de 1993, em Havana, foi
realizado um estudo em 227 propriedades leiteiras
com 15.000 vacas em ordenha. Das amostras
analisadas, 79% apresentaram resultado positivo no
teste do álcool, com acidez menor que 13 ºD (graus
Dornic), indicando que nem sempre o resultado positivo
no álcool está relacionado com acidez elevada.
Nesse estudo, foi acompanhado o processo de ordenha
para excluir adulteração por aguagem, bem como foi
conferida a ocorrência de mastite, excluindo amostras
positivas ao California Mastitis Test (CMT) com duas
ou mais cruzes (Ponce e Hernández, 2001).
Na região Sul do Rio Grande do Sul, Brasil, Oliveira
et al. (2002), estudando a ocorrência de leite instável,
analisaram 141 amostras de leite com acidez titulável
inferior ou igual a 20 ºD e contagem de células
somáticas (CCS) abaixo de 1,28 x 106 mL-1, e encontraram
52 (36,88%) com reação positiva no teste do
álcool.
Timm et al. (2002), no período compreendido entre
Maio e Julho de 2002, estudando leite com instabilidade
protéica, encontraram em 274 amostras de leite
produzido em propriedades rurais do extremo sul do
Oliveira DS e Timm CD RPCV (2007) 102 (561-562) 17-22
21
Brasil, 126 (45,99%) com reação positiva na prova do
álcool e 148 (54,01%) com reação negativa. Das
amostras positivas, 22 (17,46%) estavam com acidez
acima de 20 ºD, sendo consideradas com caseína
instável devido à acidificação pela multiplicação
bacteriana. Cento e quatro (82,54%) amostras
positivas na prova do álcool apresentaram acidez até
20 ºD, indicando que a perda da estabilidade protéica
foi causada por outros fatores que não a acidez.
Donatele et al. (2003), analisando a relação do teste
de alizarol a 72%, acidez e CCS, em leite de 847
quartos de 37 animais de uma propriedade no Rio de
Janeiro, Brasil, verificaram que 287 se mostraram
instáveis ao alizarol. Entre estas, 257 apresentaram pH
entre 6,4 e 6,8 e 30 acima de 6,8; 77 demonstraram
acidez titulável inferior a 15 ºD, 171 entre 15 e 18 ºD
e 39 entre 18,1 e 20 ºD. Os autores observaram que
amostras de leite positivas no teste do alizarol não
apresentavam acidez adquirida (acima de 20 ºD) e
possuíam resistência térmica.
No Uruguai, Barros et al. (2000), estudando
variações na composição do leite individual em
função da positividade à prova do álcool, encontraram
146 amostras de leite negativas na prova do álcool e 70
positivas. Segundo esses autores, a estabilidade do
leite ao teste do álcool depende da composição das
pastagens, da composição química do leite, das
propriedades das micelas de caseína e dos componentes
do soro lácteo. A reação positiva de leite com
pH normal (6,6 a 6,8) ao teste do álcool pode estar
relacionada com variações metabólicas ou nutricionais
e com o período de lactação das vacas.
Zadow (1993) menciona que desde os primeiros
estudos sobre estabilidade do leite ao etanol, se
determinou que os cátions bivalentes e a concentração
de etanol têm um importante efeito na prova, estabelecendo
que a concentração de etanol requerida para
coagular a caseína em um volume igual de leite está
inversamente relacionada com a concentração de íons
de cálcio. De acordo com Holt (1991), uma concentração
elevada de Ca2+ tende a unir as caseínas favorecendo
a coagulação. Barros et al. (1998) estudando a
relação entre cálcio iônico e teste do álcool no leite,
observaram diferenças significativas entre os teores de
Ca2+ de leites positivo e negativo no teste do álcool,
sendo os valores médios de 0,110 ± 0,014 e 0,083 ±
0,017 g/L, respectivamente.
Barros (2001) associou a ocorrência de leite
instável com dietas ricas em cálcio, com deficiências
ou desbalanços minerais (Ca, P, Mg) e com mudanças
bruscas na dieta.
Chavez et al. (2004) estudaram a composição de
leite com estabilidade alterada e observaram que baixa
concentração de caseína foi um dos fatores que
caracterizou as amostras de leite instável, embora a
concentração total de proteína tenha sido similar entre
os grupos com amostras de leite instável e de leite
estável. Importantes diferenças entre grupos também
foram observadas quanto aos elementos minerais,
dentre os quais Cl, Na e K, que apresentaram valores
mais elevados no grupo de amostras de leite instável
do que no grupo de leite estável. Os resultados obtidos
neste trabalho corroboram a tese de que a força
dielétrica do meio tem importante papel na precipitação
induzida pelo etanol. O aumento da força iônica,
resultante da elevação dos níveis de Cl, Na e K, reduz
a constante dielétrica do meio enfraquecendo a
barreira energética que evita a coagulação. Os autores
também observaram valores mais elevados para Ca2+
no grupo de amostras de leite instável, embora com
menor nível de significância.
Conclusão
A produção de leite com caseína instável por
animais sadios é um problema que tem acometido
bacias leiteiras em diversas regiões. Leites com estas
alterações apresentam diminuição no teor de caseína e
aumento na concentração de íons, particularmente
cálcio, e parecem estar correlacionados com épocas de
carência alimentar ou dietas deficitárias. Embora as
causas da ocorrência de leite com proteína instável
sem acidez adquirida ainda não sejam completamente
conhecidas, os estudos realizados são sugestivos
de que estejam relacionadas a manejo nutricional
inadequado.
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Clostridioses dos pequenos ruminantes
Clostridiosis of small ruminants
Francisco C. F. Lobato*1, Felipe M. Salvarani1, Ronnie A. de Assis2
1Laboratório de Bacteriose e Pesquisa da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais
Departamento de Medicina Veterinária Preventiva
Av. Presidente Antônio Carlos 6627, CEP 30123-970, CP 567, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
2Setor de clostridioses. Laboratório Nacional Agropecuário de Minas Gerais (LANAGRO / MG), Brasil
ARTIGO DE REVISÃO
23
Resumo: As clostridioses dos pequenos ruminantes são
causadas por microrganismos patogênicos do gênero
Clostridium. Estes agentes são encontrados no solo e trato
digestivo dos animais e do homem. Os clostrídios são bactérias
anaeróbias que penetram no corpo do animal na forma de
esporos, através de alimentos contaminados ou feridas. As toxinas
são produzidas no organismo do animal ou são ingeridas
pré-formadas. As infecções e intoxicações causadas por esses
agentes são responsáveis por grandes perdas econômicas nos
sistemas de produção de pequenos ruminantes. O diagnóstico
das clostridioses depende da detecção das toxinas ou detecção
in situ do agente bacteriano, no caso das mionecroses e hepatite
necrótica. O controle e a profilaxia das clostridioses estão
associados a medidas corretas de manejo e, principalmente, ao
emprego de vacinas, que são, na maioria das vezes, toxóides
e/ou bacterinas, em combinação de dois ou mais agentes. A
utilização sistemática de imunógenos tem reduzido em grande
parte a mortalidade e as perdas econômicas advindas dos
quadros clínicos causados pela multiplicação ou pela ação das
toxinas produzidas por microrganismos do gênero Clostridium.
Palavras-chave: Clostridioses, pequenos ruminantes, diagnóstico,
controle
Summary: Pathogenic microorganisms of the genus
Clostridium cause Clostridiosis in small ruminants. These
agents are found in the soil and digestive tract of animals,
including human beings. The clostridia are anaerobic microorganisms
that penetrate in the body of the animals in the form of
spores through contaminated food and/or wounds. Toxins are
produced inside the organism of the animals or are ingested
when preformed. The infections and intoxications caused by
these agents are responsible for great economical losses in
production systems of small ruminants. The diagnosis of the
clostridiosis mediated by toxins depends on the detection of the
involved toxin(s) and not on the detection and isolation of the
bacterial agent only. The control and prophylaxis of clostridiosis
are associated with correct measures of management and vaccination.
The vaccines are, most of the time, a combination of two
or more antigens (toxoids and/or bacterins). The systematic
use of immunogens has largely reduced the mortality and the
economic losses due to clostridial diseases.
Keywords: Clostridiosis, small ruminants, diagnosis, control
Introdução
O grupo de infecções e intoxicações causadas por
bactérias anaeróbias do gênero Clostridium são
chamadas clostridioses. Estes microrganismos são
bacilos, Gram positivos e têm a habilidade de passar
por uma forma de resistência chamada esporo e
podem se manter potencialmente infectantes no solo
por longos períodos, representando um risco significativo
para a população animal e humana (Titball et
al., 2006).
Muitos processos infecciosos que afetam as explorações
ovinas e caprinas são determinados pelos
clostrídios. Existem cerca de 100 espécies distribuídas
em áreas geográficas distintas, sendo a maioria constituinte
da microbiota intestinal, porém apenas algumas
delas são capazes de causarem enfermidades nestes
animais, ocasionando grandes prejuízos econômicos
para os produtores (Lobato e Assis, 2000).
As infecções e intoxicações causadas pelas bactérias
do gênero Clostridium nos pequenos ruminantes,
podem ser classificados em grupos distintos:
a) Mionecroses: representadas pelo carbúnculo
sintomático e gangrena gasosa ou edema maligno. São
afecções em que os agentes Clostridium chauvoei,
Clostridium septicum, Clostridium novyi tipo A,
Clostridium perfringens tipo A e Clostridium sordellii
multiplicam-se na musculatura e tecido subcutâneo,
resultando em um quadro de toxemia (Sterne e Batty,
1975).
b) Enterotoxemias: afecções causadas pelos agentes
Clostridium perfringens tipos A, B, C, D, e provavelmente
o tipo E (Songer, 1996), e ocasionalmente
Clostridium sordellii e Clostridium septicum. Esses
microrganismos multiplicam no trato intestinal dos
animais e produzem exotoxinas responsáveis pelo
quadro nosológico.
c) Doenças hepáticas: hepatite necrótica e hemoglobinúria
bacilar são causadas pelo Clostridium novyi
tipo B e Clostridium haemolyticum, respectivamente.
R E V I S TA P O R T U G U E S A
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
DE
*Correspondência: flobato@vet.ufmg.br
Lobato FCF et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 23-34
24
d) Doenças neurotrópicas: são afecções em que o
sistema nervoso é primariamente acometido. Os
agentes envolvidos nesse grupo são Clostridium botulinum
e Clostridium tetani.
Toxinas clostridiais
Clostridium chauvoei e Clostridium septicum
Estes microrganismos produzem quatro toxinas
principais: alfa (hemolítica, necrotizante e letal), beta
(DNase), gama (hialuronidase) e delta (hemolisina). A
toxina alfa é a principal proteína envolvida nos
quadros patológicos das mionecroses devido às suas
atividades biológicas. Seu mecanismo de ação é
baseado principalmente na formação de poros e lise
osmótica, exibindo uma liberação pré-lítica de íons
potássio (Ballard et al., 1992; Gordon et al., 1997;
Tweten, 2001). A toxina alfa produzida pelo C. chauvoei,
de origem cromossomal, tem peso molecular de
53,5 kDa e a toxina alfa secretada pelo C. septicum, de
origem plasmidial e cromossomal, tem peso molecular
de 49 kDa (Hatheway, 1990; Tweten, 2001). Moussa
(1958) demonstrou que anticorpos contra toxina alfa
de C. chauvoei não neutralizam toxina alfa de C. septicum,
demonstrando não ocorrer proteção cruzada
entre as espécies.
Clostridium perfringens
São classificados de A a E (Tabela 1), de acordo
com a produção de quatro toxinas principais: alfa,
beta, épsilon e iota. Duas novas toxinas foram
descobertas, beta-2 e enterotoxina, estando relacionadas
com alguns tipos de C. perfringens.
Tabela 1 - Classificação dos diferentes tipos de Clostridium
perfringens.
Tipo Alfa Beta Beta-2 Épsilon Iota Enterotoxina
A + + +
B + + + +
C + + + +
D + + +
E + + +
Fonte: Petit el at. (1999).
Toxina alfa. Codificada pelo gene plc, de origem cromossomal,
com peso molecular de 43 kDa e ponto
isoelétrico no pH de 5,4. É uma fosfolipase C que
hidrolisa a fosfatidilcolina e, em menor proporção, a
esfingomielina, na dependência de íons cálcio. A
ação da toxina alfa caracteriza-se por hemólise
intravascular, danos capilares, processos inflamatórios,
agregação plaquetária e alterações do metabolismo,
culminando com a morte celular (Songer, 1996; Petit
et al., 1999; Titbal et al., 2006).
Toxina beta. Codificada pelo gene cpb, de origem
plasmidial, com peso molecular de 40 kDa e ponto
isoelétrico no pH de 5,6 (Hatheway, 1990). Sua ação
caracteriza-se pelo efeito citotóxico através da formação
de poros, atuando nos canais seletivos de sódio
e potássio, causando despolarização das membranas
celulares excitáveis e alterações na permeabilidade
vascular do sistema nervoso (Shatursky et al., 2000;
Tweten, 2001).
Toxina beta-2. Codificada pelo gene cpb-2, de origem
plasmidial, com peso molecular de 28 kDa (Bueschel
et al., 2003). Investigações epidemiológicas demonstraram
a maior ocorrência do gene cpb-2 entre os
animais doentes, sugerindo que a toxina codificada
por este gene tem função relevante no processo
patogênico, como possível fator de virulência (Gibert
et al., 1997; Klaasen et al., 1999; Gkiourtzidis et al.,
2001). Seu mecanismo de ação não está completamente
esclarecido, mas envolve a lise celular através
da formação de poros na membrana (Petit et al., 1999).
Toxina épsilon. Codificada pelo gene etx, de origem
plasmidial, é secretada na forma de protoxina, com
peso molecular de 32,7 kDa e, pela ação de enzimas
proteolíticas é convertida na forma ativa, com peso
molecular de 31,2 kDa (Hatheway, 1990; Petit et al.,
1999). Seu mecanismo de ação envolve a ligação
específica a receptores na superfície das células
endoteliais promovendo a desestabilização da membrana
com alteração da permeabilidade vascular com
resultante escape de líquidos e destruição celular
(Songer, 1996).
Toxina iota. Formada por duas subunidades protéicas
imunologicamente distintas denominadas iota A,
codificada pelo gene iap, de origem plasmidial, com
peso molecular de 47,5 kDa e ponto isoelétrico no pH
de 5,2; e iota B, codificada pelo gene ibp, de origem
plasmidial, com peso molecular de 105 kDa e ponto
isoelétrico no pH de 4,2. A toxina iota é produzida na
forma de protoxina, sendo ativada na presença de
enzimas proteolíticas. Seu mecanismo de ação
envolve desorganização do citoesqueleto das células
com consequente morte celular (Marvaud et al.,
2002).
Enterotoxina. Codificada pelo gene cpe, de origem
cromossomal e/ou plasmidial, com peso molecular de
35 kDa e ponto isoelétrico no pH de 4,3. Seu mecanismo
de ação envolve a ligação com receptores
específicos na superfície das células epiteliais do
intestino dos animais, levando a formação de poros e
desequilíbrio osmótico da célula com consequente lise
celular (Li e McClane, 2006).
Toxina secundárias. São representadas, principalmente,
pelas toxinas: theta, codificada pelo gene
PfoA, de origem cromossomal, com peso molecular de
51 kDa e mecanismo de ação envolvendo atividades
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hemolíticas e necrosantes; delta, com peso molecular
de 42 kDa e mecanismo de ação envolvendo atividade
hemolítica; kappa, codificada pelo gene colA, de
origem cromossomal, com peso molecular de 80 kDa
e mecanismo de ação envolvendo hidrólise de
colágeno e necrose celular; lambda, codificada pelo
gene lam, de origem plasmidial, com peso molecular
não determinado e mecanismo de ação envolvendo
atividades proteolíticas; neuramidase, codificada pelo
gene nanH, de origem cromossomal, com peso molecular
de 64 kDa e mecanismo de ação envolvendo
aglutinação de eritrócitos, resultando num aumento da
viscosidade sanguínea e formação de trombos
(Hatheway, 1990; Petit et al., 1999).
Clostridium novyi
Produz cinco toxinas principais: alfa, com peso
molecular de 260-280 kDa e ação citotóxica; beta,
com peso molecular de 32 kDa e caracterizada como
fosfolipase C de ação hemolítica; gama e delta, com
pesos moleculares ainda não determinados e ação
semelhante a toxina beta; e épsilon, com peso molecular
ainda não determinado e ação de lipase (Schirmer
e Aktories, 2004).
Clostridium sordellii
Entre as toxinas produzidas por essa bactéria temos
a lectininase, hemolisina lábil ao oxigênio, e uma fibrinolisina,
as quais são capazes de causar choque com
posterior hipotensão, aumento do hematócrito com
marcada neutrofilia, generalizado edema pulmonar,
acúmulo de fluídos no peritônio e outras cavidades
corporais (Geny et al., 2007).
Clostridium botulinum
As neurotoxinas são as principais toxinas responsáveis
pelo quadro patológico do botulismo. Existem
sete sorotipos de neurotoxina botulínica, que permitem
a classificação de C. botulinum em sete tipos, divididos
de A a G. As neurotoxinas são codificadas pelo
gene BoNT. A origem desse gene varia entre os
diferentes tipos de C. botulinum. Os tipos C e D tem
origem em bacteriófagos, os tipos A, B, E e F origem
cromossomal e o tipo G origem plasmidial
(Brüggemann, 2005).
As neurotoxinas assemelham não somente no
mecanismo de ação, mas também na sua organização
estrutural, produzindo uma cadeia polipeptídica inactiva
com 150 kDa e após a lise bacteriana, as BONTs
são liberadas e clivadas por proteases exógenas e
endógenas e uma neurotoxina activa bivalente é gerada
com uma cadeia pesada (H, 100 kDa) e uma cadeia
leve (L, 50 kDa) interligadas por uma ponte dissulfídrica.
A importância dessa ligação está diretamente
relacionada à sua neurotoxicidade quando a toxina é
apresentada no espaço extracelular (Brunger et al.,
2007).
Outra importante toxina produzida pelo C. botulinum
tipo C é a toxina C2, que não é considerada uma
neurotoxina verdadeira. É uma toxina binária, formada
pelo componente I (C2I) com peso molecular de
50 kDa e o componente II (C2II) com peso molecular
de 105 kDa. Seu mecanismo de ação envolve alteração
da permeabilidade vascular e atividade letal (Kaiser et
al., 2006).
Clostridium tetani
Tetanospasmina. Codificada pelo gene TeTx, de
origem plasmidial, com peso molecular de 150 kDa é
uma neurotoxina e age inibindo a liberação de neurotransmissores
inibitórios, como o ácido gama globulínico
(GABA) e a glicina, levando a um quadro de
paralisia espástica (Brüggemann, 2005).
Tetanolisina. É uma hemolisina, com peso molecular
de 48 kDa e que tem seu mecanismo de ação baseado
na lise celular através da formação de poros por
hidrólise de fosfolipídeos de membrana (Cornille e
Roques, 1999).
Mionecroses
Carbúnculo sintomático ("manqueira" ou "mal
de ano")
O carbúnculo sintomático ocorre em várias espécies
animais, sendo bovinos e ovinos os mais acometidos.
Nos bovinos a infecção é "endógena" causada pelo
Clostridium chauvoei (Sterne e Batty, 1975; Gyles,
1993), em ovinos é principalmente de origem "exógena"
causada pelo mesmo agente, e desenvolve-se rapidamente
após contaminações de feridas provenientes de
tosquias, partos distócicos, castrações, vacinações e
outras intervenções realizadas em condições não
assépticas (Roberts e McEwen, 1931; Buxton e
Donachie, 1991, Assis et al., 2004). Entretanto,
carbúnculo sintomático em ovinos sem qualquer
evidência de feridas tem sido relatado, envolvendo a
musculatura esquelética (Marsh et al., 1928; Stiles,
1943) e o miocárdio (Glastonbury et al., 1988).
Clinicamente o animal apresenta temperatura elevada,
anorexia e depressão. O local afetado torna-se edematoso
e à palpação observa-se crepitação decorrente
das bolhas de gás produzidas pela multiplicação da
bactéria e quando um membro é atingido, o animal
apresenta claudicação. A evolução da doença para
morte ocorre geralmente em até 48 horas. A necrópsia
observa-se edema, hemorragia e necrose miofibrilar,
exalando acentuado odor rançoso ou butírico. A
histopatologia do músculo, principal espécime clínico
utilizado para o diagnóstico definitivo das mionecroses,
observam-se zonas de necrose de coagulação rodeadas
por células inflamatórias, bem como a presença de
bacilos (Hulland, 1993).
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Gangrena gasosa (edema maligno)
A gangrena gasosa ou edema maligno é considerado
uma infecção "exógena", produzida por um ou
mais dos seguintes agentes: C. septicum, C. chauvoei,
C. novyi tipo A, C. perfringens tipo A e C. sordellii
(Assis et al., 2002). Estes microrganismos penetram
em feridas cirúrgicas ou acidentais, decorrentes de
castração, tosquia, parto, punção venosa, vacinação,
ou do cordão umbilical (Morris et al., 2002; Radostits
et al., 2002). Estes fatores propiciam uma diminuição
do oxigênio molecular, levando a um baixo potencial
de óxido-redução nos tecidos, favorecendo a germinação
dos esporos dos clostrídios ali localizados, com
a consequente produção de toxinas principalmente a
toxina alfa que causa efeito letal e citolítico (Lobato e
Almeida, 1997). Acomete várias espécies animais,
sendo mais freqüente em bovinos e ovinos. Surtos da
doença, envolvendo pequenos ruminantes, têm sido
relatados com elevada mortalidade (Richards e Hunt,
1982; Lima et al., 2006; Costa et al., 2007).
A sintomatologia inclui febre, anorexia, taquicardia
e depressão, ocorrendo também toxemia que faz com
que o quadro evolua para a morte em poucas horas ou
geralmente em um a três dias (Smith, 1984). As lesões
macroscópicas e microscópicas são semelhantes às do
carbúnculo sintomático, com ocorrência de edema
crepitante nos músculos e tecidos subcutâneos, que
inicialmente são quentes e doloridos. Com a evolução
da doença, tornam-se frios e indolores, sendo comum
a ocorrência de hemorragias e necrose. Em geral na
gangrena gasosa ocorre com maior frequência uma
celulite (afeta principalmente o tecido subcutâneo)
que uma miosite (Buxton e Donachie, 1991).
Uma condição peculiar dos ovinos é a afecção
denominada "big head" ou "cabeça inchada", sendo
relatada em carneiros que têm o tecido subcutâneo da
região da cabeça, pescoço, e áreas circunvizinhas,
traumatizados por "lutas". As feridas funcionam como
porta de entrada para esporos do microrganismo
(Sterne e Batty, 1975).
Enterotoxemias
Enterotoxemia é o termo usado para descrever
doenças causadas por toxinas produzidas no trato
gastrintestinal, principalmente pelo C. perfringens e
com menor frequência por C. septicum (Braxy)
(Songer, 1996), e C. sordellii (Al-Mashat e Taylor,
1983a, b). Os diferentes tipos de C. perfringens são
classificados como A, B, C, D e E em relação à
produção de quatro diferentes exotoxinas alfa, beta,
épsilon e iota (Niilo, 1980). Entretanto, o agente
produz várias outras exotoxinas chamadas de
secundárias (McDonel, 1986). Em ovinos é mais
comumente descrita a enterotoxemia pelos tipos B, C
e D, embora alguns autores descrevam a enterotoxemia
nessa espécie pelo Clostridium perfringens tipo A,
enfermidade denominada de "yellow lamb disease" ou
"doença do cordeiro amarelo" (Songer, 1996; Uzal,
2001).
Clostridium septicum
Uma condição particular de ovinos, determinada
por C. septicum, é a enfermidade denominada
"Braxy", caracterizada por injúrias na parede do
abomaso em decorrência da ingestão de pastagens
congeladas que favorecem a infecção pelo microrganismo
e o desencadeamento do processo, produzindo
lesões locais no abomaso, intestino delgado e toxemia
(Songer, 1996). A enfermidade está restrita a determinadas
regiões geográficas e já foi relatada em
cordeiros recém-nascidos no Reino Unido (Buxton e
Donachie, 1991), assim como em outras partes da
Europa, Austrália e EUA (Songer, 1996).
Clostridium perfringens tipo A
A doença do "cordeiro amarelo" é uma enterotoxemia
causada pela toxina alfa produzida pelo C. perfringens
tipo A, e tem sua patogenia baseada na
hemólise de eritrócitos com a liberação de hemoglobina.
Os animais acometidos apresentam depressão, anemia,
icterícia e hemoglobinúria. O curso clínico da
doença é de seis a 12 horas, podendo o animal vir a
óbito (Songer, 1996).
Clostridium perfringens tipo B
É o agente causador da disenteria em cordeiros
recém-nascidos. Esta afecção acomete cordeiros com
menos de duas semanas de idade e é causada pela
ação das toxinas beta e épsilon produzidas por este
agente (Buxton e Donachie, 1991). A principal
fracção tóxica responsável pela disenteria dos
cordeiros é a toxina beta, que é inativada por enzimas
proteolíticas como a tripsina. O fato de a doença ocorrer
primariamente em animais recém-nascidos advém do
excesso de colostragem e também por ser o colostro
fonte de fatores anti-tripsínicos, favorecendo por sua
vez a proliferação do agente com produção dessa
toxina (Barker et al., 1993).
O curso é super-agudo, em geral em poucas horas os
animais apresentam dores abdominais, redução na
sucção do colostro e/ou leite e fezes semi-fluidas e
coradas de vermelho. Ocasionalmente, animais que
sobrevivam por mais dias, podem desenvolver no sistema
nervoso central (SNC) uma lesão conhecida por
encefalomalacia focal simétrica (EFS) causada pela
ação da toxina épsilon (Buxton e Donachie, 1991),
além de apresentarem enterite, extensa hemorragia e
ulceração do intestino delgado (Songer, 1997). A
doença tem sido também relatada em ovinos e
caprinos adultos no Iran (Niilo, 1980).
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Clostridium perfringens tipo C
A enterotoxemia causada pelo C. perfringens tipo C
produz um quadro clínico-patológico muito semelhante
ao produzido pelo Clostridium perfringens tipo B,
sendo a toxina beta a principal envolvida (Barker et
al., 1993). É descrito como agente da enterite-hemorrágica
em ovinos recém-nascidos, pelos mesmos
fatores já descritos na disenteria dos cordeiros.
Também é responsável por um quadro super agudo em
ovinos adultos denominado de "Struck", que se caracteriza
por morte súbita (Niilo, 1980).
Clostridium perfringens tipo D
C. perfringens tipo D causa a enterotoxemia comumente
denominada de doença da superalimentação
("overeating disease") ou do rim pulposo ("pulpy kidney
disease"). Enfermidade de distribuição mundial,
que afeta primariamente ovinos de qualquer idade
com exceção dos recém-nascidos (Scholes et al.,
2007), raramente caprinos e provavelmente bovinos
(Niilo, 1980; Uzal et al., 2003a). A doença é causada
pela rápida multiplicação do C. perfringens tipo D no
intestino delgado e subsequente absorção da toxina
épsilon, que é produzida na forma de protoxina. Esta
é convertida em uma toxina letal pela ação da tripsina
digestiva (Buxton e Donachie, 1991) ou por toxinas
secundárias do C. perfringens (McDonel, 1986).
C. perfringens tipo D pode estar presente no intestino
de animais sadios em pequena quantidade e produz
toxinas que são eliminadas com os movimentos
intestinais normais sem causar alterações patológicas
no organismo do animal (Baldassi et al., 1995).
Porém, quando ocorrem alterações na microbiota
ruminal em decorrência de mudanças bruscas na alimentação,
fornecimento de dietas ricas em carbohidratos
e pobre em fibras, dentre outros fatores, o
agente multiplica em proporções logarítmicas entre
quatro a oito horas, produzindo grandes quantidades
da toxina épsilon. A toxina atua sobre o epitélio intestinal,
causando aumento da permeabilidade vascular.
Ao ganhar a circulação geral, chega aos órgãos, como
cérebro, rins, pulmões, fígado e coração, onde se liga
a receptores específicos nas células endoteliais, levando
a uma degeneração dessas células. Com aumento
da permeabilidade vascular, ocorre extravasamento de
líquido e proteínas para o espaço perivascular, com
consequente edema. Quando ocorre no tecido cerebral
é denominado edema perivascular proteináceo eosinofílico
ou microangiopatia (Uzal et al., 1997a).
Em condições naturais e na maioria dos casos, a morte
dos animais ocorre durante as primeiras seis a 18 horas,
mas se sobrevivem por mais de 36 a 48 horas, uma
necrose do tecido cerebral é produzida pela compressão
ocasionada pelo edema, conhecida como EFS (Hartley,
1956; Uzal, 2001). Essa alteração é característica no
caso de enterotoxemia em ovinos por C. perfringens tipo
D, sendo um achado importante para o diagnóstico
definitivo da doença nessa espécie.
Em ovinos, a forma clínica mais frequente da enfermidade
é a super-aguda, com morte entre quatro a oito
horas, sendo raramente observados sinais clínicos,
quando ocorrem, são principalmente alterações
neurológicas como opistótono, movimentos de pedalagem,
entre outros; e alterações respiratórias como
taquipnéia e edema pulmonar. Na forma aguda, os animais
sobrevivem por até 24 horas e os sinais clínicos
são geralmente os mesmos observados na forma
super-aguda. Já na forma sub-aguda ou crônica, que
tem um curso de 48 a 72 horas, pode ser observada,
além dos sinais descritos, a ocorrência de cegueira em
alguns animais (Uzal, 2001). Caprinos também podem
apresentar essas três formas da doença, porém as
lesões neurológicas são pouco frequentes devido a
uma menor absorção intestinal da toxina épsilon
(Buxton, 1978; Uzal et al., 1994; Uzal et al., 1997a;
Colodel et al., 2003). Consequentemente observam-se
principalmente lesões entéricas, como diarréias e
enterocolites, sendo as lesões neurológicas restritas a
achados histopatológicos de edema perivascular proteínaceo
eosinofílico ou microangiopatia (Blackwell
et al., 1991, Uzal & Kelly, 1996; Colodel et al., 2003).
À necrópsia dos ovinos, os achados podem ser
inexistentes (Uzal, 2001), mas em alguns casos encontram-
se as seguintes alterações: hidrotórax, hidropericárdio,
hidroperitôneo, edema pulmonar com acúmulo
de grandes quantidades de espuma na traquéia e brônquios,
septos interlobulares dos pulmões engrossados
pelo acúmulo de líquido e, em alguns casos, hérnia do
cerebelo, que consiste na saída do mesmo para fora da
calota craniana através do forame Magno (Uzal, 2001;
Facury Filho, 2004). Não é comum encontrar lesões
intestinais, porém pode-se observar uma ligeira
enterite catarral no intestino delgado (Uzal, 2001;
Facury Filho, 2004). Hiperglicemia e glicosúria
podem ser observadas, assim como o outro achado
que tem relação com o nome genérico de "doença do
rim pulposo", referente a uma alteração autolítica da
cortex renal (Songer, 1997). Em caprinos, além das
alterações anteriormente descritas, observam-se
quadros de enterocolites, hemorragias da serosa do
cólon (Colodel et al., 2003), e edema dos linfonodos
mesentéricos (Blackwell e Butler, 1992).
Clostridium perfringens tipo E
C. perfringens tipo E produz enterotoxemia em
cordeiros, bezerros e coelhos (Barker et al., 1993).
Sua patogenia está envolvida com a produção da
toxina iota, que precisa ser ativada por enzimas proteolíticas
para promover a sua atividade biológica,
causando citólise. O quadro clínico envolve diarréia
hemorrágica com morte do animal em poucas horas.
À necrópsia observam-se áreas de hemorragia e
edema na mucosa intestinal, podendo atingir a mucosa
do abomaso (Songer e Miskimmins, 2004).
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Doenças hepáticas
Hepatite necrótica
A hepatite necrótica é uma enfermidade de caráter
agudo que ocorre frequentemente em ovinos e raramente
nos bovinos devido à associação entre C. novyi
tipo B e trematódeos, principalmente, Fasciola hepatica
(Assis et al., 2001a). Entretanto há uma descrição
da doença na ausência de F. hepatica por Uzal et al.
(1996a), onde provavelmente uma overdose de
anti-helmínticos tenha sido o fator predisponente ao
lesionar o parênquima hepático. A doença é também
denominada "black disease", devido à presença de
sangue venoso cianótico no tecido subcutâneo (Assis
et al., 2001a). C. novyi tipo B, produz duas potentes
toxinas: alfa (classicamente letal) e beta (necrotizante
e hemolítica), sendo a alfa considerada a mais importante
na patogenia do agente. No fígado são observadas
áreas de infarto necrótico de 2-3 cm de diâmetro,
rodeadas por uma larga zona de intensa hiperemia
(Kelly, 1985).
Hemoglobinúria bacilar
A hemoglobinúria bacilar é uma infecção causada
pelo C. haemolyticum, geralmente de localização
geográfica limitada, estando associada a áreas úmidas
e à presença de infecções por trematódeos, principalmente
F. hepatica. A enfermidade tem sido descrita
no México, Índia, Nova Zelândia, Austrália e América
do Sul (Pianta, 1997). A doença ocorre usualmente
nos bovinos, acometendo esporadicamente os ovinos
(Uzal, 2001) sendo causada pela ação da toxina beta
que é uma potente lecitinase (Kelly, 1985). Os danos
causados ao tecido hepático pelas larvas do parasita
permitem a proliferação do agente e a produção de
toxinas, as quais provocam a destruição de eritrócitos
com liberação de hemoglobina. Os principais sinais
clínicos são: depressão, anorexia, diarréia sanguinolenta,
hemoglobinúria e choque, culminando com a
morte em um a três dias após o início dos sintomas
(Assis et al., 2001a). Também se observa um quadro
de anemia associado à hemólise intravascular. À
necrópsia, as lesões são semelhantes às da hepatite
necrótica, mas a área do infarto necrótico é usualmente
maior e única. Os rins podem apresentar coloração
vermelho-amarronzada, devido à impregnação
pela hemoglobina, os vasos peritoneais injetados, e em
alguns casos observa-se uma severa peritonite fibrino-
-hemorrágica (Kelly, 1985).
Doenças neurotrópicas
Botulismo
O botulismo é uma das principais doenças de bovinos
adultos podendo acometer outras espécies como
os ovinos e caprinos (Azevedo et al., 1999), sendo
responsável por levar um grande número de animais à
morte. A principal categoria afetada é a de fêmeas em
gestação e ou lactação, criadas em pastagens deficientes
em fósforo, que desenvolvem o hábito da
osteofagia ou sarcofagia. Animais podem se intoxicar
ingerindo neurotoxinas produzidas pelo C. botulinum
presentes em suplementos alimentares, matéria
orgânica de origem vegetal e animal em putrefação e
água estagnada (Lobato e Almeida, 1997). O mecanismo
de ação da toxina envolve o bloqueio nervoso pré-
-sináptico por inibição da liberação de acetilcolina na
placa motora. A toxina ocupa os sítios relativos ao íon
cálcio na fibra colinérgica, evitando a exocitose da
acetilcolina, que é cálcio dependente, resultando numa
flacidez neuromuscular generalizada que tem início
nos membros posteriores progredindo no sentido
crânio-caudal, atingindo todos os músculos esqueléticos
(Titball et al., 2006). Vários surtos da doença,
envolvendo pequenos ruminantes, têm sido relatados
em diversos países (Van Der Lugt et al., 1995;
Azevedo et al., 1999; Otter et al., 2006; Van Der
Burght et al., 2007; Lobato et al., 2008).
Os sinais clínicos e curso da doença dependem da
quantidade de toxina ingerida. Os sinais mais comuns
são incoordenação motora, primariamente dos
membros posteriores que progride no sentido cranial,
incapacidade de se locomover e levantar culminando
com morte por parada respiratória. A propriocepção
do animal continua normal por todo o curso da doença
e não são encontradas lesões significativas à necropsia
dos animais acometidos (Lobato et al., 2007). No
botulismo é importante o diagnóstico diferencial, pois
a sintomatologia clínica apresentada inicialmente é
semelhante a várias doenças infecciosas, metabólicas
ou envenenamentos (Tabela 2).
Tétano ("Lockjaw")
O tétano é uma toxi-infecção altamente letal que
acomete o homem e os animais domésticos, causada
pela tetanospasmina, uma potente neurotoxina produzida
pelo C. tetani. Os ovinos e caprinos apresentam
menor sensibilidade à neurotoxina tetânica em
relação à outras espécies animais, sendo os equinos a
espécie mais sensível (Lobato et al., 2007).
A infecção se dá geralmente através de feridas
acidentais ou cirúrgicas, em contato com esporos do
agente presente em esterco ou nos solos. Os esporos
do microrganismo podem se manter infectantes no
solo por períodos superiores há 40 anos. Nas feridas,
os esporos encontram condições de anaerobiose
favoráveis para germinarem, multiplicarem e produzirem
a tetanospasmina, a qual é transportada
através dos axônios da via nervosa periférica por um
mecanismo retrógrado, ligando-se nas terminações
pré-sinápticas ao nível do sistema nervoso central
(SNC), impedindo a liberação de neurotransmissores
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Lobato FCF et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 23-34
Tabela 2 - Diagnóstico diferencial do botulismo nos pequenos ruminantes.
Doença Características diferenciais Confirmação laboratorial
Listeriose Andar em círculos podendo ocorrer Bacteriologia e histopatologia do cérebro
desvio da cabeça com torcicolo e aborto. e teste sorológico.
Raiva Salivação e tremor muscular. Pesquisa do corpúsculo de Negri ou do
Caprinos são comumente vírus no cérebro.
agressivos.
Toxemia da gestação Ocorre principalmente no último mês Hipoglicemia, cetonemia e cetonúria.
em ovinos de gestação.
O animal apresenta encefalopatia com
cegueira, tremor muscular e convulsões.
Ataxia enzoótica Incoordenação dos membros posteriores Análise do teor de cobre no soro.
com evolução crônica até à queda e morte
por inanição.
Polioencefalomalácia Cegueira, pressão da cabeça contra Não é realizado.
obstáculos, andar em círculos, hiperestesia O diagnóstico é terapêutico, através da
e convulsões tônico-clônicas periódicas. administração de cloridrato de tiamina.
Intoxicação por chumbo Anorexia, estase ruminal, edema craniano. Dosagem de chumbo sanguíneo, nas fezes,
no fígado, rins e conteúdo do retículo.
Traumatismo medular Observadas de acordo com a localizaçao Não realizado. Diagnóstico baseado
ou cerebral da lesão. no histórico, sinais clínicos e achados de
necrópsia.
Deficiência de magnésio Convulsões tetânicas. Análise do teor de magnésio no soro.
Intoxicação por Anorexia, convulsões. Níveis do fator tóxico nos tecidos.
hidrocarbonetos clorados
Intoxicação por Dispnéia, colapso, diarréia, hiperestesia, Níveis de colinesterase no sangue e
organofosforados salivação. nos tecidos.
Tabela 3 - Materiais de eleição das principais clostridioses que afetam os pequenos ruminantes.
Clostridioses Material de eleição
Botulismo 250g de conteúdo intestinal, conteúdo ruminal e fragmentos de fígado, bem como 20 mL
de soro sanguíneo e de água estagnada, em frascos estéreis.
Carbúnculo sintomático e Fragmentos de músculo lesado refrigerado e em formol a 10%.
gangrena gasosa
Hemoglobinúria bacilar Fragmentos de fígado lesado refrigerado e em formol a 10%.
Hepatite necrótica Fragmentos de fígado lesado refrigerado e em formol a 10%.
Enterotoxemia por 50 ml de conteúdo intestinal refrigerado, em frascos estéreis e cérebro inteiro em formol
Clostridium perfringens tipo D a 10%.
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inibitórios, principalmente glicina, resultando em
espasmos musculares tônicos e hiperexcitabilidade
reflexa (Bizzini, 1993).
As contrações musculares podem ser tão fortes a
ponto de causarem fraturas das vértebras. Além disso,
observam-se: distensão abdominal, agalactia, ataxia,
cólicas, desidratação, constipação intestinal, timpanismo,
cianose, febre, excitação, miotonia, dispnéia,
opistótono, trismo da mandíbula, sialorréia, disfagia,
midríase, taquicardia, incontinência urinária, vômitos,
regurgitação, prolapso de terceira pálpebra, podendo
em alguns casos, ocorrer morte súbita do animal. O
período de incubação é de cinco dias a 15 semanas,
com média de sete dias. O curso clínico dura em
média de quatro a sete dias. A morte ocorre devido à
parada respiratória. À necropsia, não são encontradas
lesões significativas (Driemeier et al., 2007).
Diagnóstico
Colheita e remessa de material
Para a realização do diagnóstico laboratorial das
principais clostridioses, que acometem os pequenos
ruminantes, é necessário conhecer qual o material a
ser colhido e a forma adequada de submissão do
mesmo para o local de realização dos exames
(Madeley, 1985). Deve-se proceder à necrópsia pouco
tempo após a morte do animal (no máximo seis horas)
ou em estado agônico, pois a maioria dos clostrídios
invade a carcaça rapidamente, mascarando os resultados
do diagnóstico final. Os materiais de eleição e a
forma de envio são apresentados na Tabela 3.
Mionecroses
Diferentemente do botulismo, tétano e enterotoxemias,
em que a detecção da(s) toxina(s) produzida
pelos agentes envolvidos é imprescindível para o diagnóstico,
nas mionecroses a detecção dos agentes é
suficiente para se ter um diagnóstico conclusivo.
Alguns métodos imunológicos de diagnóstico podem
ser empregados como a imunofluorescência direta
(IFD), teste "padrão-ouro" para mionecroses, que
permite a detecção dos agentes em esfregaços de
cultivo (Batty e Walker, 1963; Pinto e Abreu, 1992;
Assis et al., 2001b) e em impressões (claps) obtidas
diretamente dos tecidos durante a necropsia (Assis et
al., 2005); a imunohistoquímica (IHQ) em cortes
histológicos e/ou esfregaços de cultivo (Conesa et al.,
1995; Vanelli e Uzal, 1996a,b; Assis et al., 2005) e as
seguintes técnicas de PCR: que amplificam sequências
conservadas da subunidade 16s rRNA (Kuhnert et al.,
1997; Takeuchi et al., 1997; Uzal et al., 2003b), da
subunidade 16S-23S rDNA (Sasaki et al., 2000 a,b;
Sasaki et al., 2001), a sequência gênica que codifica a
flagelina de C. chauvoei (Kojima et al., 2001) e a que
codifica a flagelina de C. chauvoei, C. septicum, C.
novyi tipos A e B e C. haemolyticum (Sasaki et al.,
2002; Assis et al., 2008).
Enterotoxemias
O diagnóstico confirmatório está na dependência
direta da detecção da(s) toxina(s) produzida pelos
agentes, diretamente no conteúdo intestinal. O método
convencional para detecção destas toxinas é o teste de
soroneutralização em camundongos, entretanto devido
à discussões éticas por parte de grupos humanitários,
está sendo gradualmente substituída por metodologias
in vitro: ELISA (Weddel e Worthington, 1984; El
Idrissi e Ward, 1992; Uzal et al., 2003a; Carvalho,
2004), empregos de linhagens celulares (Knight et al.,
1990; Lindsay et al., 1995; Souza Júnior, 2005),
aglutinação em látex (Songer, 1997) e contraimunoeletroforese
(Uzal et al., 2003a). Também existem
diferentes técnicas de PCR que, apesar de não
detectarem diretamente a(s) toxina(s) produzida pelos
C. perfringens dos tipos A-E, e sim os genes que
codificam a produção das mesmas, permitem a tipificação
do C. perfringens envolvido em um determinado
caso ou surto (Uzal et al., 1996b; Uzal et al., 1997b;
Meer e Songer, 1997; Vieira, 2006). Apesar da presença
de toxinas no conteúdo intestinal ser o mais
importante indicador das enterotoxemias, é necessário
combinar este achado com outros, especialmente o
histórico do animal e da propriedade, sinais clínicos,
achados de necropsia e histopatologia dos órgãos com
lesões. No caso da enterotoxemia por C. perfringens
tipo D, é imprescindível a realização de histopatologia
do cérebro concomitantemente à detecção da toxina
épsilon (Uzal, 2004).
Hepatite necrótica e hemoglobinúria bacilar
O diagnóstico da hepatite necrótica baseia-se no
isolamento, e na detecção do agente pela técnica de
IFD (Sterne e Batty, 1975). Na hemoglobinúria
bacilar, além do isolamento e a IFD, tem sido utilizada
a técnica de IHQ, empregando o complexo peroxidase-
antiperoxidase (PAP) (Uzal et al., 1992). Da
mesma maneira que nas mionecroses e enterotoxemias,
achados de necrópsia e subsequente histopatologia
de tecidos dão suporte ao diagnóstico definitivo
dessas enfermidades.
Botulismo
O diagnóstico do botulismo é baseado na anamnese,
sinais clínicos, isolamento e principalmente na
demonstração e identificação da toxina(s) botulínica(
s). Os espécimes de eleição são: soro, conteúdo
intestinal, conteúdo ruminal, ossos e alimentos suspeitos.
A técnica mais utilizada é a soroneutralização
em camundongos. Uma vez que haja suspeita da presença
da toxina(s), o que é verificado pela morte dos
camundongos, a identificação da mesma(s) é feita
com anti-soros específicos (Lobato e Assis, 2001). No
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Brasil, também tem sido empregada a técnica de
microfixação do complemento (Dutra et al., 1993).
Tétano
No tétano, o diagnóstico laboratorial pode ser feito
pela demonstração da neurotoxina. Entretanto na
maioria dos casos, o diagnóstico está baseado apenas
na anamnese e sintomatologia clínica, sem referência
a testes laboratoriais (Lobato e Assis, 2001).
Controle e profilaxia
As enfermidades causadas por microrganismos do
gênero Clostridium ocasionam consideráveis perdas
nos diferentes sistemas de produção de pequenos
ruminantes, uma vez que o tratamento, na maioria dos
casos é impraticável. Devido às características ecológicas
dos agentes, que são ubiquitários do trato digestivo
dos animais e solo, e pela forma de resistência por
meio de esporos, a erradicação dessas patologias é
praticamente impossível. O controle e profilaxia
devem basear-se em medidas adequadas de manejo e
vacinações sistemáticas de todo o rebanho, já que os
animais estão em permanente contato com os agentes
e com os fatores que poderão desencadear as doenças.
As vacinas clostridiais são na sua grande maioria
polivalentes, contendo em sua composição múltiplos
antígenos e são usadas como estratégia frente a uma
grande variedade de agentes e/ou toxinas. Os
imunógenos devem ser administrados por via subcutânea,
preferencialmente, em duas doses intervaladas
de 4-6 semanas na primo-vacinação e reforço
anual, com exceção para o Clostridium haemolyticum
que deverá ser semestral. Quando o rebanho é sistematicamente
vacinado, os anticorpos colostrais protegem
os animais por até três a quatro meses após o nascimento,
devendo então a primo-vacinação ser realizada
após esse período (Lobato e Assis, 2000).
De acordo com a literatura nenhuma vacina é produzida
especificamente para prevenir enterotoxemia
em caprinos, sendo as desenvolvidas para ovinos
utilizadas em caprinos (Uzal e Kelly, 1996). Porém, de
acordo com Uzal et al. (1998), os caprinos têm títulos
de anticorpos menores e menos persistentes, sendo
necessárias mais pesquisas para o desenvolvimento de
novas vacinas que atestem a eficácia dessas vacinas
para essas espécies.
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Anestesia para cirurgias oftálmicas em canídeos
Anesthesia for ophthalmic surgeries in canines
Roberta Carareto1, Newton Nunes*2, Marlos Gonçalves Sousa1, Patrícia Cristina Ferro2,
Piedad Natália Henao Guerrero3, Celina Tie Nishimori2, Danielli Parrilha de Paula2,
Elaine Dione Venêga da Conceição2
1Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal do Tocantins,
Câmpus de Araguaína, Rodovia BR 153 Km 112, Araguaína TO, Brasil, CEP 77800-000
2Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP,
Câmpus de Jaboticabal SP, Brasil
3Department of Small Animal Clinical Sciences, Virginia-Maryland Regional College of Veterinary Medicine,
Blacksburg, Virginia, Estados Unidos da América
ARTIGO DE REVISÃO
35
Resumo: As anestesias para realização das cirurgias oftálmicas
possuem várias particularidades, as quais são fundamentais para
que se possa conduzir com sucesso as intervenções cirúrgicas.
Com o objetivo de tornar os procedimentos cirúrgicos seguros e
adequados para o anestesista e o cirurgião, bem como
confortáveis para os pacientes, os autores tecem considerações
relativas à pré-medicação, indução e manutenção da anestesia.
Bem como à obtenção de campo operatório satisfatório, com a
produção de midríase, centralização do globo ocular e redução
dos efeitos da anestesia sobre a pressão intra-ocular.
Palavras-chave: anestesia, cirurgia oftálmica, oftalmologia
veterinária
Summary: There are several issues in anesthesia for ophthalmic
procedures. The knowledge of such features is considered
mandatory to obtain success in these surgeries. Aiming at making
surgical procedures safer for the anesthetist and more comfortable
for the patient, the authors discuss premedication, induction and
maintenance of anaesthesia, as well as the achievement of adequate
surgical requirements in ophthalmology, such as midriasis,
centralization of the eyeball and the abolition or control of the
effects of anesthesia on intraocular pressure.
Keywords: anesthesia, ophthalmic surgery, veterinary ophthalmology
Introdução
Com o avanço da Oftalmologia Veterinária e a
utilização de técnicas e equipamentos sofisticados
para o tratamento de enfermidades oftálmicas intra e
extra-oculares, são necessários protocolos anestésicos
mais elaborados, pois as cirurgias oftálmicas são
procedimentos delicados e qualquer movimento do
paciente pode comprometer a sua acuidade visual e o
sucesso da cirurgia.
Basicamente, a finalidade da anestesia oftálmica
será proporcionar segurança ao paciente, uma adequada
manutenção das funções vitais e oferecer ao cirurgião
um campo operatório viável, ou seja, não congestionado
e imóvel, por meio do relaxamento dos músculos
extra-oculares, de modo que a posição do globo
ocular fique neutra e se evitem forças que possam
deformar o olho (Thurmon et al., 1996). Nestes
termos, as cirurgias intra-oculares merecem maiores
cuidados, pois é necessário que se mantenha o posicionamento
adequado do olho, se proporcione o maior
diâmetro pupilar possível e que a pressão intra-ocular
(PIO) seja mantida próxima dos valores normais, para
que o globo ocular não fique excessivamente afundado
na cavidade orbitária (Gelatt, 2003).
O uso de sedativos, por via intravenosa, associados
ao bloqueio retrobulbar e à anestesia tópica, são técnicas
largamente utilizadas na oftalmologia humana.
Entretanto, tal protocolo requer um paciente calmo e
cooperante, o que quando se trata de cães nem sempre
é possível, tornando necessário, na grande maioria dos
procedimentos oftálmicos, a utilização de técnicas que
proporcionem anestesia geral.
Complementarmente, é possível afirmar que, devido
à necessidade de anestesia geral, a morbidade torna-se
ainda maior pelo fato da monitorização do plano
anestésico por meio da avaliação dos reflexos palpebrais,
corneanos, bem como a posição do globo estar
parcialmente comprometida. Além disso a manipulação
cirúrgica do globo pode causar alterações
sistêmicas consideráveis.
Diâmetro pupilar
O diâmetro pupilar é regido por dois músculos, o
constritor da pupila, que é circular, concêntrico e possui
R E V I S TA P O R T U G U E S A
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
DE
*Correspondência: newton@fcav.unesp.br
Tel: +55 (16) 3209-2626
Carareto R et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 35-42
36
inervação parassimpática, e o dilatador da pupila,
posicionado radialmente e de inervação simpática
(Slatter, 1998).
Nas cirurgias intra-oculares o diâmetro pupilar deve
ser o maior possível, portanto, a administração de
agentes parassimpatolíticos é recomendada, visto que,
bloqueando a acção do músculo constritor, a midríase
sobrevem por acção do músculo dilatador. Nesse sentido
a atropina é o fármaco comumente utilizado como
agente midriático pré-cirúrgico (Slatter, 2001).
Outro fator importante que interfere no tamanho da
pupila é a rápida liberação de prostaglandinas, que
ocorre com a manipulação da câmara anterior, acção
esta que induz mióse refratária à atropina, além de
produzir aumento transitório da PIO. Face a este
evento, é indicado o emprego de inibidores de
prostaglandinas, como o flunixin meglumine, na dose
de 1 a 2 mg/kg, aproximadamente uma hora antes da
cirurgia (Nunes e Laus, 1995).
O cetorolac também se tem mostrado um anti-inflamatório
com efeitos anti-prostaglandínicos significativos
(Tomás et al., 2003).
Posição do globo ocular
No que se refere à duração do procedimento cirúrgico
e à precisão da técnica operatória, a posição do globo
ocular é de grande importância para cirurgias intra-oculares,
sendo a semi-rotação discreta ou centralização do
globo benéfica para a intervenção intra-ocular (Charoy
et al., 2003; Nunes e Laus, 1995). Para o posicionamento
adequado do globo ocular, pode-se utilizar
relaxantes musculares de acção periférica ou ainda,
anestesia local retro-bulbar. Entre os bloqueadores neuromusculares
(BNM), recomenda-se o uso dos agentes
não despolarizantes, pois alteram pouco a PIO e permitem
a reversão completa de seus efeitos, mediante a
administração de neostigmina (Litwiller et al., 1975).
Com o uso de BNM não despolarizantes (rocurônio,
pancurônio, vecurônio ou outros) como parte do protocolo
anestésico, mesmo em subdoses, deve ser efetuada
a monitorização respiratória cautelosa para determinar
a necessidade ou não de assistência respiratória, pois
não é possível prever a resposta de cada animal ao
fármaco, devendo sempre estar-se preparado para
instituir a ventilação (Bechara, 2002).
É importante atentar para o fato de que, com o
emprego de bloqueadores neuromusculares, embora
haja centralização do globo ocular, devido ao relaxamento
muscular, as manobras cirúrgicas poderão
produzir movimentação excessiva no globo, o que
pode dificultar a cirurgia. Este fato leva à reflexão
sobre a utilidade da técnica de produção de miorrelaxamento,
uma vez que muitos cirurgiões preferem
direcionar o globo ocular para a posição adequada,
mediante pinçamento da esclera. Nestes casos o bloqueio
neuromuscular pode ser abolido.
Pressão intra-ocular
Durante os procedimentos anestésicos, as condições
que favorecem a alteração da pressão intra-ocular
(PIO) são: variações da pressão venosa e arterial,
hipercapnia, intubação orotraqueal e acção de fármacos.
Toda a variação no fluxo venoso oftálmico resulta
em alteração desta variável. Além disso, vias aéreas
obstruídas, tosse e outro esforço qualquer também
podem elevar este parâmetro (Stead, 1996). Já a interferência
da pressão arterial somente ocorrerá em casos
extremos, pois a PIO mantém-se constante numa
ampla variação das pressões arteriais (Bechara, 2002).
Qualquer situação que cause hipoventilação, com
conseqüente hipercapnia, como obstrução das vias
aéreas, plano anestésico profundo ou fármacos que
produzam depressão respiratória, irá contribuir para o
aumento da PIO por dilatação dos vasos intra-oculares.
Por outro lado, a hiperventilação (hipocapnia),
tende a manifestar efeitos opostos (Stead, 1996).
A maioria dos fármacos utilizados para anestesia
diminui a PIO. Segundo Vanetti (1996), os anestésicos
gerais facilitam a drenagem do humor aquoso e
diminuem a pressão arterial, com consequente
redução do volume sanguíneo intra-ocular e vasoconstrição
da coróide, influenciando significativamente na
diminuição dos seus valores. Uma excepção deve ser
feita à quetamina e à succinilcolina, que produzem
aumento moderado da PIO, sendo que o aumento proporcionado
pela quetamina pode ser explicado pela
marcada elevação da pressão arterial, que é nítida
quando da administração do fármaco (Nunes e Laus,
1995; Stead, 1996).
Durante a cirurgia, a pressão exercida pelo músculo
orbicular das pálpebras sobre o globo, a contracção
dos músculos extra-oculares, as suturas de fixação do
olho excessivamente tracionadas e as manobras cirúrgicas
intempestivas podem levar a aumento da PIO
(Vanetti, 1996).
A possibilidade de aumento da PIO durante procedimento
cirúrgico intra-ocular, com globo ocular aberto,
deve ser evitada, pois pode resultar na extrusão do
vítreo e perda permanente da visão (Nunes e Laus,
1995).
Reflexo oculo-cardíaco (ROC)
O ROC é um reflexo trigêmico vagal. Os impulsos
aferentes originam-se nos nervos ciliares curtos e
longos e subseqüentemente atravessam o gânglio
ciliar e os impulsos eferentes são conduzidos através
do nervo vago ao coração (Vanetti, 1996). Este fenômeno
é observado com maior frequência em animais
jovens (Thurmon et al., 1996).
Tal reflexo é causado pela tracção dos músculos
extra-oculares devido à manipulação ocular ou mesmo
à pressão manual sobre o globo. É mais observado
Carareto R et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 35-42
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durante a cirurgia dos músculos oculares, reparação
do descolamento de retina e enucleação. A manifestação
do ROC dá-se principalmente por bloqueio
átrio-ventricular, bradicardia, ondas bigeminas e
ectópicas. Caso estes ritmos anormais não sejam
corrigidos podem culminar em paragem cardíaca
(Stead, 1996).
Apesar de alguns autores recomendarem a administração
profilática de atropina antes das cirurgias
oculares, este agente deve ser utilizado com cautela,
visto que o uso indiscriminado pode ser deletério,
tendo em vista a diminuição do tempo de enchimento
ventricular e o aumento do consumo de oxigênio pelo
miocárdio, podendo resultar em isquemia miocárdica
(Thurmon et al., 1996; Bechara, 2002).
Alguns pesquisadores recomendam o uso de BNM
para prevenção do ROC, isto porque, com a utilização
destes agentes, o globo ocular torna-se imóvel e centralizado,
não sendo necessária a tracção dos músculos
extra-oculares (Young et al., 1991).
O bloqueio retro-bulbar com lidocaína, embora seja
efetivo no tratamento de episódios de estimulação do
ROC, está associado a inúmeras complicações, tais
como hemorragia retro-bulbar, proptose globo ocular,
extravasamento de corpo vítreo se o olho for perfurado,
e aumento da PIO (Thurmon et al., 1996).
Fundamentalmente, o tratamento do ROC consiste
na administração de fármacos parassimpatolíticos
(atropina 0,02 mg/kg IV), melhoria da ventilação, já
que a hipercapnia estimula os músculos extrínsecos, e
interrupção da manipulação do globo ocular (Bechara,
2002).
Anestesia
Anestesia local para cirurgia oftálmica
O primeiro anestésico local usado clinicamente foi a
cocaína e o seu uso na oftalmologia remonta ao século
XIX (Koller, 1934). O fato desta substância induzir
reacções conjuntivais severas, além de erosões superficiais
da córnea, levou ao desenvolvimento de novos
agentes para uso tópico como a lidocaína, a tetracaína
e a proparacaína, entre outros.
Embora estes anestésicos continuem sendo utilizados
rotineiramente na prática oftalmológica veterinária,
algumas das técnicas em que teriam aplicação, são
impraticáveis devido ao comportamento e temperamento
dos pacientes.
Anestésicos locais de uso oftálmico
A proparacaína (0,5%) é o anestésico de uso tópico
mais popular em oftalmologia veterinária. Em cães,
produz anestesia local dentro de 0,25 a 2 minutos,
podendo o efeito que permanecer entre 10 a 15 minutos
(Formston, 1964). A proparacaína é um anestésico
menos tóxico para a córnea que a tetracaína, mas o seu
uso crônico e repetido também tem sido associado a
complicações corneanas graves (Rosenwasser, 1990).
Com o emprego de concentrações menores de
proparacaína tem-se procurado reduzir ou eliminar o
seu potencial de toxicidade corneana (Bisla e
Tanelian, 1992). Maurice e Singh (1985) instilaram
proparacaína a 0,3% em olhos de coelhos por uma
semana e não constataram ulceração do epitélio
corneano.
A tetracaína é outro anestésico local, cujo início de
acção ocorre aos 5 a 10 minutos e a mesma permanece
ao redor de 2 horas (Skarda, 1996). Sua potência e
toxicidade são 10 vezes maiores que as da procaína. A
concentração empregada em anestesia ocular é de
0,5% e, em outras mucosas, de 1 a 2%. Este agente é
efetivo só quando aplicado topicamente, não obstante,
a irritação na conjuntiva, quemose, hipersensibilidade
e dor na instilação são muito mais comuns quando
comparada com a proparacaína, tanto no homem
como no cão (Bartfield et al., 1994). A tetracaína
reduz a sensibilidade táctil corneana, que é um importante
mecanismo de protecção (Peyman et al., 1994),
e é tóxica para a córnea quando utilizada por tempo
prolongado e repetidamente (Marcondes, 1999).
A lidocaína foi introduzida na prática clínica em
1944. A distribuição através dos tecidos é muito maior
que a da procaína e as injeções aplicadas ao redor de
um tronco nervoso penetram nele mais efetivamente,
o que provavelmente contribui para a sua marcante
actividade analgésica local (Hall e Clark, 1987).
Dentre os seus efeitos tóxicos, destacam-se sonolência,
tremores musculares, hipotensão, náuseas e vômitos
(Hall e Clark, 1987). A dose máxima permitida é
7 mg/kg ou 9 mg/kg com vasoconstritor. Sua latência
é de 10 minutos e o seu período de acção varia entre
60 e 120 minutos (Skarda, 1996).
A bupivacaína é um anestésico local de acção
duradoura (2 a 4 horas). É cerca de 4 vezes mais
potente que a lidocaína e 8 vezes mais potente e mais
tóxico que a procaína. Pode ser empregada em
bloqueios nervosos regionais. Sua dose máxima permitida
é de 2 mg/kg e as concentrações comumente
empregadas são 0,25 e 0,5%. Possui latência de 30 a
50 minutos e duração de 8 a 12 horas (Hall e Clark,
1987).
Anestesia superficial ou tópica
É o resultado da aplicação do anestésico local sobre
a córnea e mucosa conjuntival, com a finalidade de
bloquear as terminações nervosas e provocar a perda
da sensibilidade dolorosa. O anestésico mais usado
nesta técnica é a proparacaína (0,5%). A anestesia
ocorre rapidamente (1-6 minutos) e continua-se por 10
a 15 minutos após uma instilação. Porém, pode-se
manter até por 2 horas com seguidas instilações, sem
produzir efeitos colaterais. Uma série de 3 a 5 instilações
de 1 a 2 gotas de proparacaína, com intervalos
Carareto R et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 35-42
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de 1 minuto podem ser necessários para produzir uma
anestesia satisfatória da córnea e conjuntiva (Skarda,
1996).
Esta técnica é usada para procedimentos diagnósticos
e terapêuticos, incluindo tonometria, exame do
olho afetado e da terceira pálpebra (Skarda, 1996),
remoção de corpos estranhos, obtenção de fragmentos
conjuntivais, injeções subconjuntivais e eletrorretinografia
(Thurmon et al., 1999).
Embora alguns autores recomendem a utilização de
anestésicos tópicos para exame do olho afectado,
Slatter (1992) adverte que a perda dos reflexos protectores,
ocasionada por tais agentes, incrementa as
possibilidades de lesões adicionais.
Anestesia por infiltração
Método pelo qual os anestésicos locais são injetados
em pequenas quantidades nos tecidos por via intradérmica,
subcutânea ou mais profundamente em áreas
musculares. Neste caso o medicamento difunde-se até
às terminações nervosas para produzir o seu efeito.
Este método não é muito utilizado na prática oftálmica
veterinária.
Anestesia perineural ou regional
É obtida pelo bloqueio da condução do(s) nervo(s)
sensitivo(s) que inerva(m) a região, para produzir a
perda da sensibilidade periférica. A anestesia regional
do olho produz geralmente redução profunda da visão,
devido ao efeito direto do anestésico sobre o nervo
óptico (Verma et al., 1990; Arora et al., 1991). Porém,
os graus da redução variam de acordo com a técnica
utilizada.
Bloqueio do ramo oftálmico do nervo trigêmeo: A
anestesia do olho e da órbita é produzida mediante
dessensibilização do ramo oftálmico do nervo
trigêmeo. Necessita-se de uma agulha com 2,5 cm de
calibre 22, que é inserida ventralmente ao processo
zigomático ao nível do canto lateral. O ponto exacto
deve ser 0,5 cm cranial ao bordo anterior da porção
vertical do ramo da mandíbula. A agulha é direcionada
medialmente ao ramo da mandíbula no sentido
médio-dorsal e ligeiramente caudal, até alcançar os
nervos lacrimal, zigomático e oftálmico na fissura
orbital. A colocação de 2 ml de anestésico produzirá
acinesia do globo, devido à proximidade dos nervos
abdutores, oculomotor e troclear do nervo oftálmico
(Thurmon et al. 1999).
Anestesia retro-bulbar: O uso de uma agulha com
7,5 cm de calibre 20 diminui o risco de puncionar o
globo ocular. A agulha é inserida na conjuntiva previamente
anestesiada, através do canto lateral do olho,
avançando-a, sem puncionar o globo, em direção à
articulação mandibular oposta, até encontrar a base da
órbita, onde se depositam 2 ml do agente anestésico
(Thurmon et al., 1999). Uma modificação da técnica
é descrita por Ward e Hendrix (1999), sendo a aplicação
do anestésico feita nos quatro quadrantes do
olho. No cão a anestesia retro-bulbar, apesar de simples,
incorre em riscos, como injecção de anestésico diretamente
na região subaracnóide, podendo acarretar
depressão do sistema nervoso central, com possível
paragem respiratória e cardíaca, além de injecção
intravascular, punção do globo ocular e hemorragia
retrobulbar (Thurmon et al., 1996). Devido aos riscos
inerentes à técnica, a mesma deve ser feita em animais
anestesiados visando apenas a centralização do globo
ocular. Actualmente esta técnica é substituída pela
anestesia peri-bulbar devido à sua maior segurança.
Anestesia peri-bulbar: É uma variação da técnica
anterior, baseada na existência de uma membrana
intermuscular, a qual aparentemente separa os espaços
intra-conal e extra-conal (Ripart et al., 2001). Esta
técnica é realizada com a introdução de uma agulha
25 x 7 de calibre 21 na porção superior da cavidade
orbitária, em direcção ao fórnice, injetando de 2 a 4 ml
de cloridrato de bupivacaína a 0,5%, tendo como
referência uma leve projecção do globo ocular para
fora da órbita. Chaves et al. (1997) utilizaram esta
técnica de anestesia loco-regional e obtiveram centralização
do globo ocular, abolição dos reflexos
corneal e palpebral e diminuição do nistagmo, evitando-
se hemorragias expulsivas e a extrusão da lente.
As técnicas descritas anteriormente são indicadas
em pacientes críticos (classificados como ASA III ou
IV) encaminhados para procedimentos cirúrgicos, a
fim de evitar eventuais complicações causadas pela
anestesia geral. Entretanto, na maioria dos animais,
estas técnicas necessitam da associação à anestesia
geral, limitando-se o seu uso apenas à obtenção centralização
do globo ocular, fundamental em cirurgias
como a facectomia.
Anestesia geral para cirurgia intra-ocular
A anamnese e o exame clínico detalhado devem ser
realizados nos pacientes que serão submetidos à cirurgia
ocular. Os animais eleitos para cirurgias oftálmicas
são, na sua maioria, ou muito jovens, apresentando
doenças oftálmicas congênitas, ou idosos. Nos
pacientes idosos é comum encontrar alterações na
função cardíaca e uma variedade de alterações
metabólicas. Somando-se a isto, estes animais normalmente
utilizam terapia medicamentosa crônica as
quais podem interferir no procedimento anestésico.
Finalmente, a anestesia geral é necessária na maioria
dos procedimentos oftálmicos, exceto os invasivos
(ex.: remoção de suturas ou remoção de corpos
estranhos superficiais), o que aumenta os riscos para o
paciente (Bechara, 2002).
Uma anestesia geral efectiva e segura para pacientes
Carareto R et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 35-42
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oftálmicos requer manutenção da PIO próxima do
normal, prevenção da activação do ROC, controle de
hemorragias, e completa imobilização do globo. A
intubação orotraqueal em cães e gatos deve ser evitada
antes do bom aprofundamento da anestesia para evitar
tosse e reflexo do vômito, pois estas respostas à
intubação aumentam a pressão venosa causando
aumento da PIO (Bechara, 2002; Thurmon et al.,
1996).
Anestesia geral para cirurgia extra-ocular
Em se tratando de cirurgias extra-oculares, não
existe a preocupação em manter a PIO, centralizar e
imobilizar o globo ocular. Assim sendo, as técnicas
aplicadas rotineiramente podem ser utilizadas em
animais de pequeno porte.
Monitorização
Os procedimentos anestésicos oftálmicos devem
sempre ser acompanhados de monitorização. No
entanto, o controle da profundidade anestésica por
meio do esquema clássico de Guedel fica impraticável
face aos olhos serem o objeto da intervenção cirúrgica,
com consequente dificuldade de avaliação dos reflexos
óculo-palpebrais. Portanto, outras formas de monitorização
são indispensáveis para a segurança e eficiência
do acto anestésico.
Um método eficiente para monitorização do plano
anestésico é a avaliação da pressão arterial, pois
quando o plano anestésico se torna superficial ocorre
a sua elevação e o inverso é indicativo de plano
anestésico mais profundo (Nunes e Laus, 1995).
Além das variáveis barométricas, é necessário
observar o traçado eletrocardiográfico, principalmente
no que se refere à determinação da ocorrência
de reflexo óculo-cardíaco, além de outras possíveis
arritmias. A capnometria e a oximetria também são
dados importantes para avaliação da oxigenação do
paciente, evitando assim possíveis complicações
cardio-respiratórias oriundas de planos anestésicos
profundos, insuficiência respiratória ou demais alterações
associadas (Thurmon et al., 1996).
Recentemente o índice bi-espectral (BIS) tem-se
mostrado bastante eficaz na monitorização da profundidade
anestésica, evitando planos anestésicos profundos,
reduzindo a morbidade anestésica, bem como
planos superficiais, uma vez que se observa boa correlação
entre as alterações no BIS e a probabilidade de
resposta à incisão de pele (Sebel et al.,1997).
A integração entre anestesistas e cirurgiões também
é de grande valia na monitorização do paciente, pois o
cirurgião pode fornecer informações sobre a movimentação
do globo ocular ou das pálpebras, indicando
um plano superficial.
Medicação pré-anestésica
A medicação pré-anestésica deve diminuir a
ansiedade, tranquilizar o paciente, prevenir a emése e
a tosse, além de promover indução suave e diminuir a
quantidade de anestésico necessária à manutenção da
anestesia (Slatter, 1998; Thurmon et al., 1996).
Os fármacos mais utilizados como pré-anestésicos
são os anticolinérgicos, os tranquilizantes, os ansiolíticos
e os opióides (Thurmon et al., 1996).
Anticolinérgicos: a atropina e o glicopirrolato
podem ser usados para diminuir a salivação e a
secreção das vias aéreas e também para combater a
bradicardia causada pelo ROC. A atropina, administrada
em cães 30 minutos antes da cirurgia, na dose de
0,044 mg/kg por via intravenosa, pode prevenir a
ocorrência do reflexo óculo-cardíaco, bem como
proporcionar midríase (Stead, 1996). Apesar da
recomendação de administração profilática de
atropina antes das cirurgias oculares, a incidência de
arritmias cardíacas e taquicardia sinusal é muito maior
antes e após a indução anestésica em cães que receberam
este fármaco no período pré-anestésico (Muir,
1978). Em cirurgias intra-oculares onde a midríase é
necessária, sugere-se a administração tópica de
atropina a 1% antes da indução anestésica, pois a
obtenção de midríase com aplicação tópica deste fármaco
depois de estabelecida a sedação e a anestesia
torna-se mais difícil. Se a dilatação for insuficiente,
pode-se administrar adrenalina intra-ocular para
facilitar a midríase (Collins et al., 1995). Os anticolinérgicos
assim como os anestésicos gerais diminuem
dramaticamente a produção lacrimal, portanto a
protecção corneal com pomada oftálmica é recomendada
durante a anestesia (Greene 2004).
Tranquilizantes, ansiolíticos: O tranquilizante a ser
utilizado deve favorecer as condições clínicas do
paciente e atender às características inerentes ao
reflexo pupilar para a realização de uma cirurgia
intraocular. Em animais saudáveis os fenotiazínicos
como a levomepromazina ou clorpromazina, na dose
de 1 mg/kg, por via intravenosa, podem ser empregados
associados ou não a um benzodiazepínico (Nunes e
Laus, 1995). As propriedades anti-eméticas dos fenotiazínicos
aliadas ao relaxamento muscular de acção
central produzido pelos benzodiazepínicos constituem
uma boa opção de tranquilização. O diazepam na dose
de 1 mg/kg produz midríase podendo, portanto, ser
utilizado em pacientes submetidos a procedimentos
intra-oculares (Miller, 1989; Bechara, 2002).
áð2 agonistas: A xilazina é um sedativo efetivo para
cavalos e bovinos, porém em cães e gatos pode causar
vômito e promover bradicardia, além de ser potente
produtora de miose, tornando-a indesejável em cirurgias
intra-oculares (Nunes e Laus, 1995). Segundo
Carareto R et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 35-42
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Hsu et al., (1981), ela pode produzir midríase em
algumas espécies devido à inibição do tônus parassimpático
da íris ou provavelmente devido à estimulação
de receptores áð2 adrenérgicos situados na íris.
Em coelhos, gatos e macacos, a xilazina parece
diminuir a pressão intra-ocular por supressão da
função simpática reduzindo o fluxo do humor aquoso
(Burke e Potter, 1986).
Opióides: Os opióides apresentam diferentes efeitos
sobre o diâmetro pupilar nas diferentes espécies. Por
exemplo, a morfina causa miose em cães e coelhos, e
midríase em gatos, ratos e macacos. A utilização de
opióides como pré-anestésicos em cirurgias de catarata
em cães não é indicada, pois neste caso é necessário
que a pupila esteja dilatada para remoção do cristalino
(Thurmon et al.,1996).
Indução anestésica
A grande maioria dos agentes anestésicos diminuem
a PIO, com excepção da quetamina e da tiletamina
que, embora elevem a PIO, podem ser utilizadas para
indução, mesmo nas facectomias, pois com doses
baixas, aplicadas por via intravenosa, a PIO se
normalizará em 10 a 15 minutos. Apesar deste efeito
transitório sobre a PIO, a midríase causada por agentes
dissociativos é de grande valia para cirurgias intra-
-oculares (Nunes e Laus, 1995).
Os barbitúricos e o propofol diminuem a pós-carga,
a pressão sanguínea, relaxam a musculatura extra-ocular
e promovem diminuição do humor aquoso por
aumento da drenagem, levando portanto à diminuição
da PIO (Cunningham, 1986). O tiopental, frequentemente
utilizado para a indução anestésica, produz
miose puntiforme, sendo portanto contra-indicado nas
cirurgias intra-oculares (Nunes e Laus, 1995).
O etomidato induz mioclonias que podem causar
aumento na PIO e não deve ser utilizado isoladamente,
principalmente em pacientes com lesões penetrantes
no olho (Thurmon et al., 1996).
Outro método de indução é o emprego de agentes
anestésicos voláteis, associados ou não ao óxido
nitroso (N2O). Para tanto, é necessário que o paciente
seja cooperativo e permita a contenção física, ou esteja
em estado crítico, caso em que a administração de
fármacos injetáveis indutores é passível de risco
(Nunes e Laus, 1995).
A administração de óxido nitroso associado ao
oxigênio e ao agente anestésico volátil é segura e proporciona
vantagens, como menor tempo de indução,
menor concentração requerida do anestésico volátil e
midríase, sendo esta dependente da quantidade de
N2O na mistura. O agente anestésico volátil a ser
empregado pode ser qualquer halogenado disponível
no mercado, sendo o halotano o mais utilizado por seu
baixo custo. Isofluorano e sevofluorano também podem
ser usados, mas devido ao alto custo destes fármacos
reserva-se a sua utilização para pacientes portadores
de patologias que contra-indiquem o uso do halotano
(Thurmon et al.,1996).
O desfluorano ainda não foi estudado com a finalidade
de aferir a sua viabilidade como agente indutor
para anestesia oftálmica. Entretanto, devido à sua
conhecida propriedade irritante sobre as mucosas, este
fármaco é contra-indicado na indução direta (Kong et
al., 2000).
Manutenção anestésica
A manutenção da anestesia com agentes dissociativos
promove aumento da PIO, permanência dos
reflexos protetores óculo-palpebrais e nistagmo, não
permitindo um campo operatório adequado. Deste
modo, o seu uso é contra-indicado em cirurgias
intra-oculares (Nunes e Laus, 1995). A anestesia
dissociativa é utilizada apenas para procedimentos
ambulatórios (diagnósticos e terapêuticos), assim
como para cirurgias extra-oculares como correcção de
entrópio ou ectrópio, excisão de tumores conjuntivais
e correcção da glândula da terceira pálpebra (Bechara,
2002).
Os barbitúricos diminuem a PIO e produzem miose
puntiforme, que é indesejável em cirurgias intra-oculares
(Massone, 1999). Já o propofol é uma alternativa
para a manutenção anestésica em cirurgias oculares,
principalmente quando não se dispõe do aparelho de
anestesia inalatória ou quando um dos membros da
equipe não se pode expor aos agentes inalatórios (por
exemplo, gravidez). A administração pode ser feita em
bolus ou através de infusão contínua (Batista et al.,
2000). Em cães submetidos à cirurgia da catarata, a
infusão contínua de propofol associada à administração
de pancurônio ou vecurônio para a centralização
do globo ocular mantêm estáveis os parâmetros
cardio-vasculares. A taxa de infusão para manter o
animal em plano cirúrgico é de 0,47 mg/kg/min. A
frequência respiratória diminui após a indução e início
da manutenção com propofol, sendo estabilizada com
ventilação controlada após bloqueio neuromuscular
(Bechara, 1998).
Os relaxantes musculares não despolarizantes (por
exemplo, pancurônio, vecurônio e atracúrio) são
comumente utilizados durante a manutenção anestésica
para assegurar imobilidade completa do globo
ocular. Quando associados a um analgésico potente,
os relaxantes musculares promovem analgesia balanceada,
diminuindo a necessidade de anestésico e o
nível de depressão cardio-pulmonar (Sullivan et al.,
1998). Em aves, estes fármacos são utilizados para
produzir midríase, pois a musculatura da íris é estriada
ao contrário da dos mamíferos, que é lisa (Collins
et al., 1995). Após o término da cirurgia, o paciente
deve permanecer sob ventilação controlada por alguns
Carareto R et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 35-42
41
minutos e, se a respiração espontânea não retornar, é
necessária a utilização de antagonistas dos bloqueadores
neuro-musculares. Normalmente utiliza-se
a atropina na dose de 0,02 mg/kg por via intravenosa
seguida pela neostigmina na dose de 0,02 a 0,04
mg/kg pela mesma via, sendo que estas medicações
não estão associadas com aumento da PIO (Thurmon,
1996).
Alguns pesquisadores sugerem a utilização de doses
reduzidas de pancurônio (0,022 mg/kg/minuto), a fim
de promover um bom posicionamento do globo ocular,
sem entretanto causar uma depressão respiratória
significativa (Sullivan et al., 1998). Em cães, quando
o pancurônio (0,06 mg/kg IV) é comparado com o
vecurônio (0,1 mg/kg, IV) observa-se que o tempo de
latência do vecurônio é menor, porém o tempo de
acção dos fármacos é semelhante (Bechara et al.,
1998). A succinilcolina, bloqueador neuro-muscular
despolarizante, não deve ser utilizada rotineiramente
em procedimentos oftálmicos pois causa fasciculações
musculares que elevam a PIO, sendo portanto contra-
-indicada em cirurgias do glaucoma. Há relatos de que
quando administrada no estágio I da anestesia causa
aumento da PIO de 5,3 mmHg, mas quando aplicada
no plano III não ocorrem nenhuma alterações
(Craythorne et al., 1960). O uso de relaxantes musculares
periféricos requer controle da ventilação a fim de
prevenir a hipercapnia e os seus efeitos deletérios
sobre a PIO.
Os agentes voláteis halogenados são sem dúvida a
melhor alternativa para a manutenção da anestesia. O
halotano produz hipotensão dependente da dose, o que
consequentemente acarretará a diminuição da PIO. A
acção hipotensiva do halotano em planos anestésicos
cirúrgicos pode ser revertida pela infusão contínua de
metaraminol na dose de 2mg/kg/min promovendo a
manutenção da PIO em níveis fisiológicos (Bolzan,
1998). O isofluorano, por causar menor hipotensão,
pouco altera a PIO (Nunes e Laus, 1995), sendo que o
mesmo é observado com o sevofluorano. Em todas as
espécies, técnicas anestésicas inalatórias de alto fluxo
são recomendadas ao invés das de baixo fluxo para
que a concentração alveolar reflita mais proximamente
a concentração de saída do vaporizador, assegurando
assim profundidade adequada da anestesia.
A manutenção da anestesia com mistura de óxido
nitroso deve ser realizada com cautela em cirurgias de
reparação do deslocamento de retina, na qual é realizada
a injecção intra-vítrea do gás hexafluoreto de
enxofre (SF6). O óxido nitroso possui maior solubilidade
no sangue que o nitrogênio, resultando em
rápida difusão de óxido nitroso para dentro de qualquer
cavidade do organismo contendo ar ou outros gases,
aumentando drasticamente a PIO. Nestes casos é
recomendado a interrupção do fornecimento de óxido
nitroso 15 a 20 minutos antes da injeção intra-ocular
do gás SF6 (Collins et al., 1995).
Recuperação anestésica
A recuperação suave, a prevenção de arritmia, e a
analgesia são essenciais para o sucesso da cirurgia
realizada. Os delírios, a incoordenação e a tosse
podem causar deiscência dos pontos cirúrgicos,
provocar hemorragia intra-ocular, ou descolamento da
retina, acarretando perda da visão. O uso de tranquilizantes,
sedativos e/ou analgésicos no período pré- e
pós-operatório promoverão melhor recuperação
anestésica (Thurmon et al., 1996). Sendo a córnea um
dos tecidos mais inervados do olho, as cirurgias intra-
-oculares causam muita dor; desta forma é obrigação
do profissional manter o bem estar do animal através
de analgésicos. Instalações limpas, silenciosas, confortáveis
e com pouca luz também são fundamentais.
E finalmente, o uso de colares promovem alguma
proteção para a ferida cirúrgica evitando assim
possíveis complicações.
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Morfologia e morfometria do timo em galinhas de Angola (Numidea
meleagris galeata)
Morphology and morphometry of thymus in Guinea fowl (Numidea
meleagris galeata)
Marcelo Ismar Santana*1, Pedro Primo Bombonato2,
Frederico Ozanam C. e Silva3, Hildebrando Gomes Benedicto2
1Laboratório de Anatomia Veterinária, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (Campus Poços de Caldas)
Rua Alfredo Lopes, 76. Jardim Centenário, Poços de Caldas, MG. Cep 37.704-259
2Departamento de Cirurgia, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo
Av. Prof. Dr. Orlando Marques de Paiva, 87. Cidade Universitária, São Paulo, SP. Cep 05508-900
3Departamento de Medicina Animal, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Uberlândia
Av. Pará, 1720, Campus Umuarama, Bloco 2T. Uberlândia, MG. Cep 38400-902
RPCV (2007) 102 (561-562) 43-48
43
Resumo: Este trabalho investigou a morfologia, topografia e
biometria dos lobos tímicos em 30 galinhas de Angola
(21 machos e 9 fêmeas), oriundos dos municípios de Franca e
Sorocaba, Estado de São Paulo (Brasil), que após eutanásia
(Halotano 10v%, 3 min.), tiveram seus lobos tímicos dissecados,
medidos com paquímetro (comprimento x largura x espessura)
e analisados quanto suas topografias e morfologias
individuais. Os lobos tímicos apresentaram-se localizados
preferencialmente dorsolaterais ao pescoço, desde os ossos
claviculares até seu terço cranial (73,30% para o antímero
direito e 90% para o antímero esquerdo), com número médio de
13,33 lobos por antímero e média de 1,12 cm de comprimento,
0,34 cm de largura e 0,22 cm de espessura. Quando correlacionados
os dados (Teste de Correlação de Pearson, áð ð= 1%)
obteve-se que o comprimento e a largura dos lobos não influenciam
seus números e posições.
Palavras-chave: Timo, morfologia, morfometria
Summary: This research was conducted with the aim of study
the thymic morphology, topography and biometry on 30 Guinea
fowls (21 males and 9 females) from Franca and Sorocaba, São
Paulo state Brazil which after euthanasia (Halotano 10v%,
3 minutes) had their thymic lobe dissected and measured (length
x width x thickness) and had analyzed their individual topography
and morphology. Thymic lobes were preferentially
dorsolateraly located to the neck from claviculars bones to third
cranial portion to the neck (73,30% to the right side and 90% to
the left side) with an average number of 13,33 lobes per side of
neck and length average of 1,12 cm, width average of 0,34 cm
and thickness average of 0,22. After correlation s (Pearson
correlation test, áð ð= 1%) it was found that lobe s length and
width don t influence its number or position.
Keywords: Thymus, morphology, morphometry
Introdução
Durante as décadas de sessenta e setenta, as aves,
especialmente os frangos e congéneres, tornaram-se
populares entre imunologistas (Plagge, 1941; Jankovic
e Isakovic, 1964) como um animal experimental e
modelo imunológico.
No entanto, um excelente número de revisões centradas
no campo da imunologia clínica de aves são
encontradas (Glick, 1978; Rose, 1979), onde de certa
forma, aspectos anatómicos foram pouco comentados,
talvez porque foram publicados em jornais de
imunologia, avicultura ou ciência veterinária, implicando
numa superficialidade de informações anatómicas
destes órgãos, o que criou certa inquietação, já que
perguntas básicas deixaram de ser respondidas como a
morfologia comparativa do órgão, o desenvolvimento
e a involução do timo nas aves quando comparadas
aos mamíferos (Defendi e Metcalf, 1964).
No entanto, esta preocupação precede no tempo,
já que Hammond e Bird (1942) realizaram estudo
concernente ao peso do timo em galinhas, mas relacionando-
o com o crescimento dos pintinhos, além do
trabalho de Hohn (1947) interessado nas mudanças
sazonais do peso do timo em patos. Porém, características
morfológicas (topografia, forma, comprimento,
largura, espessura) não foram abordadas em ambos os
trabalhos, assim aspectos básicos e de suma importância
para a anatomia comparativa deixaram de ser
investigados.
Nos últimos anos, alguns poucos trabalhos foram
realizados neste sentido para aves domésticas
(Nascimento, 2002; Carvalho e Santana, 2003), abordando
principalmente aspectos inter-raciais. Em
decorrência destes fatos, o objetivo deste trabalho foi
R E V I S TA P O R T U G U E S A
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
DE
*Correspondência: misantana@pucpcaldas.br
Ismar Santana M et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 43-48
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estudar a anatomia macroscópica (número, topografia,
morfologia e biometria dos lobos tímicos) em galinhas
da Angola, levantando dados comparativos para
subsidiar outros estudos concernentes ao desenvolvimento
e regressão do timo nas aves.
Material e métodos
Foram utilizados 30 exemplares de galinhas da
Angola (Numidea meleagris galeata), sendo 21
machos e 9 fêmeas, com idades e pesos variados,
oriundas de fazendas das regiões de Franca e
Sorocaba, Estado de São Paulo - Brasil.
Para a anestesia das aves utilizamos o protocolo
padrão sugerido por Rosskpof e Woerpel (1996), ou
seja, a utilização de sobredose de gás anestésico
(Halotano, Cristália Produtos Químicos e Farmacêuticos
Ltda), 10v%, durante 3 minutos, valendo da sua
característica de alta difusão pelo sistema respiratório
das mesmas, obtendo, portanto, aprofundamento do
plano anestésico, com subseqüente óbito dos animais,
conforme recomenda o Colégio Brasileiro de
Experimentação Animal.
Após confirmação do óbito, as aves foram imediatamente
perfundidas com formol tamponado a 10% e
dissecadas, sendo que, para a descrição dos lobos
tímicos, o órgão foi dividido em duas porções cervicais,
uma direita e outra esquerda, os quais foram
dissecados com material cirúrgico convencional,
valendo quando necessário do campo visual de uma
lupa Nikon® SMZ645, modelo C-DS.
Para tanto, visando à identificação dos lobos tímicos
cervicais, foi feita uma incisão mediana ventral na
pele da região cervical com seu rebatimento dorsal,
além da retirada do tecido adiposo e conjuntivo que
recobriam os mesmos, bem como, a remoção do osso
esterno juntamente com os músculos peitorais,
seccionando as paredes laterais da cavidade toracoabdominal,
incidindo as costelas, os ossos coracóides
e as clavículas, além das porções láterocraniais dos
músculos peitorais, resultando na exposição da cavidade
toracoabdominal, o que facilitou a observação
dos lobos situados mais caudalmente ao pescoço.
Para realização da biometria do órgão, as mensurações
dos lobos tímicos foram feitas através da
utilização de paquímetro Mitutoyo®, sendo que, para a
padronização das medidas, optou-se pela obtenção do
comprimento (eixo crânio-caudal), da largura (eixo
dorso-ventral) e da espessura (eixo látero-lateral) dos
lobos tímicos.
O número, a situação (frente ao plexo vasculoneural
do pescoço), morfologia e biometria dos lobos tímicos
foram transferidos para fichas individuais, onde os
dados puderam ser tabulados e trabalhados estatisticamente
através do teste de Correlação de Pearson com
significância de 1%, executado em programas compatíveis
com o ambiente Windows®.
Ainda, a nomenclatura anatómica utilizada para
designação das estruturas anatómicas tratadas neste
trabalho está de acordo com a Nomina Anatomica
Avium (Baumel, 1993).
Resultados
A porção cervical do timo foi identificada para
todos os 30 casos estudados, apresentando lobos individualizados,
com tamanhos diferenciados e formas
irregulares, variando desde ovalados a triangulares,
porém alongados no sentido crânio-caudal. Estavam
presentes em ambos os antímeros, desde o osso clavicular
até os terços médio (26,70% para o antímero
direito e 10% para o esquerdo) e cranial (73,30% para
o antímero direito e 90% para o esquerdo) do pescoço
(Figura 1).
Figura 1 - Desenho esquemático da região cervical e porção cranial da
cavidade celomática, mostrando a distribuição dos lobos tímicos nos três
terços do pescoço, em ambos os antímeros, bem como a relação com as
artérias comuns do nervo vago direita (a) e esquerda (b), esôfago (e) e
inglúvio (i).
Ismar Santana M et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 43-48
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Em todos os casos, os lobos tímicos que se apresentavam
em íntima relação com a artéria comum do
nervo vago (Figura 1), mostravam-se envoltos por uma
delgada membrana de tecido conjuntivo, juntamente
com o nervo vago e a veia jugular, formando um
fascículo subcutâneo, localizado dorsolateralmente ao
pescoço. Porém, aqueles lobos localizados mais caudalmente
(os quais representam 1,53% dos lobos do
antímero direito e 2,28% do esquerdo), ou seja, antes
da origem da artéria comum do nervo vago, não
estavam envoltos por este fascículo, e sim recobertos
pelo saco aéreo clavicular.
No antímero direito, além do pescoço lateralmente,
o fascículo também se relacionava ventralmente com
o esôfago e o inglúvio e, no antímero esquerdo, com a
traquéia medialmente.
Em 7 casos (21%) foi notada a presença das glândulas
tireóides penetrando no parênquima de lobos
tímicos adjacentes, sendo este fato observado 3 vezes
(10%) para o antímero direito e 4 vezes (13,33%) para
o antímero esquerdo, e nos outros casos estudados,
uma proximidade muito grande das estruturas supracitadas,
mas, sem haver a penetração do parênquima.
O número total de lobos, independentemente do
antímero, variou de 7 a 22, sendo observado 7, 8, 15,
17, 18, 19, 21 e 22 lobos em 1 caso cada (3,33%), 9,
10, 14 e 16 lobos em 2 casos cada (6,66%), 12 lobos
em 3 casos (10%), 11 lobos em 5 casos (16,66%) e
13 lobos em 6 casos (20%), com média de 13,33,
mediana de 13 e desvio padrão de 3,61.
No entanto, quando considerado o antímero direito,
o número de lobos variou de 3 a 12 distribuídos da
seguinte maneira: 11 e 12 lobos observados em 1 caso
cada (3,33%), 8 e 9 lobos em 2 casos cada (6,66%), 3
e 4 lobos em 3 casos cada (10%), 5 lobos em 4 casos
(13,33%), 6 lobos em 6 casos (20%) e 7 lobos em 8
casos (26,66%), com média de 6,33, mediana de 6 e
desvio padrão de 2,15.
Para o antímero esquerdo, o número de lobos encontrados
variou de 4 a 11, distribuídos da seguinte
maneira: 11 lobos em 1 caso (3,33%), 9 e 10 lobos em
2 casos cada (6,66%), 4 lobos em 3 casos (10%), 7
lobos em 4 casos (13,33%), 5 lobos em 5 casos
(16,66%), 8 lobos em 6 casos (20%) e 6 lobos em 7
casos (23,33%), com média de 6,8, mediana de 6,5 e
desvio padrão de 1,86.
Com relação à biometria do órgão, o comprimento
médio dos lobos tímicos foi de 1,12 cm, com largura
média de 0,34 cm e espessura média de 0,22 cm,
estando os mesmos relacionados com estruturas vasculares
e nervosas, para os quais foram determinadas
suas posições relativas, sendo considerado para isto,
suas proximidades com os mesmos, e quando possível,
a participação no fascículo subcutâneo.
Desta forma, para o antímero direito, ficou estabelecido
que nos 30 casos estudados 4,53 lobos em
média ocupavam a posição dorsolateral, em 21 casos
1,76 lobos ocupavam posição ventromedial, em 5
casos 2,8 lobos ocupavam a posição ventrolateral e em
3 casos 1 lobo ocupava a posição dorsomedial. Para o
antímero esquerdo, nos 30 casos estudados 1,51 lobos
em média ocupavam a posição dorsolateral, em 26
casos 1,54 lobos ocupavam a posição ventromedial,
em 8 casos 1,57 lobos ocupavam a posição ventrolateral
e em 4 casos 1,56 lobos ocupavam a posição
dorsomedial.
Também, deve-se ressaltar que para a galinha da
Angola, os maiores ou menores lobos podem estar
distribuídos em qualquer das três porções do pescoço
(cranial, médio e caudal).
Quanto à análise dos resultados obtidos (Teste de
Correlação de Pearson) para os confrontos do número
de lobos tímicos com seus respectivos comprimentos,
larguras, espessuras e posições, observaram-se correlações
positivas de baixa, média e alta intensidade e
negativas de baixa e média intensidade.
Discussão
De uma forma geral, nos tratados clássicos de anatomia,
ainda que de "escolas científicas" diferentes,
nota-se que as descrições relacionadas ao timo são
genéricas e muitas vezes coincidentes, quase sempre
tomando os galiformes como modelo (Schwarze e
Schröder, 1972; Nickel et al., 1977; Getty, 1981), que
quando não, utilizam informações relativas aos galiformes
de maneira análoga aos patos e gansos, como
as citações de Payne (1971).
Mas, como referido por Santana et al. (2001),
apesar dos tratados terem descrito pertinentemente o
timo, nota-se uma preocupação generalista referente
ao órgão, o que levou a uma escassez de dados mais
precisos acerca do mesmo, principalmente quando
trataram de seus aspectos topográficos.
Porém, a quase inexistência de referências nos
tratados sobre a topografia e dados concernentes à
biometria do órgão é contraditória com as informações
neles mesmos constantes sobre a importância
do timo e de particularidades referentes ao seu desenvolvimento
e regressão, bem como as implicações
funcionais delas decorrentes.
Desta forma, devem-se levar em consideração os
relatos de Onyeanusi et al. (1991) e Santana et al.
(2001) que se ocuparam, além do estudo dos vasos
destinados ao timo, da descrição topográfica dos
mesmos frente ao plexo vasculoneural do pescoço, já
que tal observação mereceu atenção neste trabalho,
principalmente por ser objeto de grande variação.
Neste sentido, ressalta-se que Onyeanusi et al.
(1991) realizaram suas observações em galinhas da
Angola, os quais descreveram que a posição mais frequente
foi a ventral. No presente trabalho, no entanto,
a posição mais encontrada foi a dorsolateral, sendo
que a diferença observada decorre principalmente em
função da baixa amostragem utilizada pelos autores, já
Ismar Santana M et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 43-48
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que em investigações semelhantes, porém com maior
número de exemplares, realizadas em galinhas domésticas
(Baumel, 1964; Santana et al., 2000 e Santana et
al., 2001) e pombos domésticos (Carvalho e Santana,
2003), a posição dorsolateral foi a predominante, sugerindo
não ter sido este o objetivo principal daquelas
descrições.
Também, deve-se considerar que a posição dorsolateral
dos lobos tímicos está relacionada com a
presença de outros órgãos cervicais como a traquéia, o
esôfago e o inglúvio, que ocupam posição ventral em
relação a eles, deslocando-os dorsalmente, coadunando
com os descritos por Baumel (1964) e Carvalho e
Santana (2003).
Além da descrição da posição dos lobos tímicos,
Onyeanusi et al. (1991), Santana et al. (2001) e
Nascimento (2002) observaram a presença do órgão
(com lobos maiores e mais largos) ocupando dois
terços do pescoço, ou seja, nas suas porções caudal e
média, sendo o terço cranial desprovido de lobos,
além de Schwarze e Schröder (1972) e Nickel et al.
(1977) terem relatado a presença de lobos na cavidade
celomática.
Entretanto, no material estudado foram observados
lobos tímicos dispostos, com menor frequência,
apenas nos terços caudal e médio do pescoço, sendo a
maioria deles encontrados em seus três terços, bem
como a ausência de lobos cavitários, destoando daquelas
descrições. Porém, este facto deve estar relacionado
com as diferentes idades observadas nas aves trabalhadas,
bem como no padrão de involução do órgão, já
que em nossos resultados, as aves que apresentaram
lobos nos dois terços do pescoço eram adultos idosos,
fato também observado para outros galiformes
(Santana et al., 2000).
De acordo com Kendall (1980) e Carvalho e
Santana (2003) se presume que aves adultas apresentem
menos lobos dispostos no terço cranial devido à
involução do timo começar, preferencialmente, no
sentido cranial para caudal, sendo provavelmente que
este é um padrão observado para os galiformes
(Santana et al., 2001). No entanto, esta premissa deve
ser melhor avaliada através da observação do órgão
em outros gêneros e espécies de aves, utilizando animais
com idades variadas, procurando a definição de
um padrão de desenvolvimento e regressão do timo,
aspectos com os quais este trabalho visa contribuir.
No respeitante a presença do fascículo de tecido
conjuntivo que envolveu os lobos tímicos, artéria
comum do nervo vago, nervo vago e veia jugular, cabe
assinalar que este esteve presente em todos os casos
observados, indo de encontro aos relatos de Baumel
(1964). Isto, em nossa opinião, e como já descrito por
Santana et al. (2001), deve representar uma constante
dentre os galiformes, face aos relatos de Ede (1965),
Schwarze e Schröder (1972), Nickel et al. (1977),
Kendall (1980), King e Mclelland (1984), Baumel
(1993), Pereira (1998) e Nascimento (2002), que
confirmaram a presença dos lobos tímicos em íntima
relação com o plexo vasculoneural.
Porém, vale destacar que os lobos mais caudais, ou
seja, aqueles situados mais próximos da cavidade
toraco-abdominal, estão envoltos pelo saco aéreo
clavicular, não sendo encontrado, para isto, nenhum
relato semelhante na literatura compulsada, o que de
certa forma representa a comum confusão feita entre o
fascículo e o saco aéreo, já que estes estão justapostos
e de certa forma, intimamente unidos. Este facto
mereceu atenção maior de nossa parte, apesar de não
ser o objetivo central de nosso trabalho, pois com uma
dissecação cuidadosa auxiliada pelo campo visual de
uma lupa, foi possível em alguns segmentos, separar
os folhetos inerentes a cada estrutura.
Com relação ao número, forma e tamanho dos lobos
tímicos observou-se uma variabilidade considerável,
principalmente por não apresentarem padronização
nestes aspectos, coadunando com os relatos feitos por
Payne (1971), Hohn (1947, 1956 e 1961), Getty
(1981), Pereira (1998), Santana et al. (2000), Santana
et al. (2001), Nascimento (2002) e Carvalho e Santana
(2003), sendo Nickel et al. (1977) e Kendall (1980), os
únicos a descreverem uma similaridade de forma e
tamanho entre eles.
Neste caso, para justificar a ausência de similaridade,
tomou-se como parâmetro o comprimento, a
largura e a espessura dos lobos tímicos em ambos os
antímeros, onde foi observado que mesmo nos
menores lobos, a maioria apresentava comprimento
maior que a largura, o que gerou a formação de lobos
longos, e através disto, com tamanhos e formas variadas,
como afirmou Hohn (1947, 1956 e 1961), que citou
inclusive, para o pato e o ganso doméstico, que os
maiores lobos encontrados foram os caudais, enquanto
para os falconídeos, passeriformes e columbídeos
(Carvalho e Santana, 2003), os maiores foram aqueles
próximos ao ângulo da mandíbula.
Isto, provavelmente, decorre do facto que os columbídeos,
assim como os passeriformes e falconídeos,
por serem aves voadoras, apresentam a entrada da
cavidade celomática mais estreita que a dos galiformes
e anseriformes, principalmente pela grande massa dos
músculos peitorais, encurvados dorso-medialmente e
em justa posição com o pescoço e o inglúvio, os quais
estão projetados lateralmente em ambos os antímeros,
levando a um menor espaço para qualquer órgão
disposto nesta região (Carvalho e Santana, 2003).
Porém, não podemos fazer estas afirmações em
nosso trabalho, já que como relatado, o tamanho dos
lobos é variado, não apresentando, portanto, uma
padronização. Isto é, os maiores lobos podem estar
dispostos em qualquer segmento da cadeia de lobos
tímicos e não somente em uma região específica.
Outro fator a ser observado é o número total de
lobos que, quando confrontados com os resultados
encontrados na literatura, foram diferentes daqueles
comentados por Schwarze e Schröder (1972), Payne
Ismar Santana M et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 43-48
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(1971), Nickel et al. (1977), Kendall (1980), Getty
(1981), King e Mclelland (1984), Onyeanusi et al.
(1991), Santana et al. (2000), Pereira (1998); Santana
et al. (2001), Nascimento (2002) e Carvalho e Santana
(2003), quando observados os valores mínimos e
máximos, sendo este um fator de variação individual,
decorrente da família, género ou linhagens diferentes.
Por outro lado, quando o número de lobos tímicos é
trabalhado no concernente às suas médias, fica patente
que não existem grandes disparidades entre os diferentes
galiformes e o pombo doméstico (Carvalho e Santana,
2003), já que a média para os primeiros é de 13 lobos
por antímero contra 9 para os últimos, mostrando desta
forma, similitudes entre os diferentes géneros trabalhados,
o que vem corroborar com a hipótese de um padrão
semelhante para a distribuição dos lobos nos diferentes
grupos de aves domésticas (Carvalho e Santana, 2003),
apesar de termos levado em conta às características
anatómicas inerentes a cada género, gerando assim, a
necessidade de novas avaliações deste porte para os
perus, patos, gansos e outras aves silvestres, para confirmação
destas variáveis.
Quanto ao descrito por Getty (1981), Santana et al.
(2000), Santana et al. (2001) e Nascimento (2002),
referente à penetração do tecido tímico pela glândula
tireóide, cabe dizer que somos concordantes com tal
afirmação, já que tal facto ocorreu em 7 exemplares
estudados, sendo nossa opinião coadunante com a de
Santana et al. (2001), onde de acordo com a grande
variabilidade de tamanho e proximidade topográfica
apresentada pelos órgãos, as chances desta interação
estão aumentadas, principalmente quando tratados os
lobos tímicos situados mais caudalmente.
Para os dados métricos do timo e seus lobos notamos
correlações positivas e negativas de baixa e média
intensidade, o que caracteriza que quanto maior o
número de lobos tímicos, maior será o timo como
órgão e menor o tamanho dos lobos individualmente.
No entanto, as variações de intensidade destas correlações
ocorrem, provavelmente, por inferência direta
com a idade, sugerindo que o processo de desenvolvimento
do órgão pode sofrer interferência pela última,
face à utilização de aves com idades variadas.
As posições dos lobos tímicos também não interferem
no comprimento dos mesmos, já que mantém correlações
de baixa intensidade e com tendência a
nulidade, mas, quando correlacionadas com o número
de lobos de ambos os antímeros, o que denota é que a
posição do lobo interfere, de forma positiva com o
número de lobos, indicando que quanto mais lobos
mais preferencialmente estes se colocam em posição
dorsolateral e ventrolateral.
No entanto, estes eventos não encontram reparo na
literatura compulsada, já que não foram elementos de
trabalho para nenhum os autores consultados, inclusive
os específicos como é o caso de Onyeanusi et al.
(1991), Pereira (1998), Santana et al. (2001) e
Nascimento (2002).
Conclusões
Os timos das galinhas de Angola encontram-se
distribuídos no pescoço, em ambos os seus antímeros,
na forma de lobos individualizados, com formatos
irregulares medindo em média 1,12 cm de comprimento,
0,34 cm de largura e 0,22 cm de espessura,
com número médio de 13,33 lobos por antímero,
situados preferencialmente nos três terços do pescoço
e em posição dorsolateral ao plexo vasculoneural do
pescoço.
Porém, o número de lobos tímico correlaciona-se
diretamente ao tamanho do timo como órgão, mas, o
comprimento, a largura e a espessura dos lobos não
interferem nas posições ocupadas pelos mesmos.
Desta forma, os modelos dos arranjos tímicos da
galinha de Angola podem ser considerados semelhantes
a outros galiformes e columbídeos, mostrando
que as modificações genéticas provocadas pelo
homem para o género Gallus não influenciaram no
padrão de distribuição do timo, resguardando as
devidas diferenças individuais nas proporções para as
correlações biométricas observadas.
No entanto, novas observações para os parâmetros
trabalhados devem ser levadas em consideração para
outras espécies de aves domésticas como o peru,
ganso, pato, etc., assim como as aves silvestres, para
complementação dos resultados obtidos.
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Ramos do arco aórtico no mocó (Kerodon rupestris)
Aortic arch branches of the in rock cavy (Kerodon rupestris)
Marcela dos S. Magalhães1, José Fernando G. de Albuquerque2, Moacir F. de Oliveira2,
Paula de C. Papa3, Carlos Eduardo B. de Moura*1
1Departamento de Morfologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Caixa postal 1524,
Campus Universitário Lagoa Nova, 59072-970 Natal RN, Brasil
2Departamento de Ciência Animal, Universidade Federal Rural do Seminárido
3Departamento de Cirurgia, Setor de Anatomia, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo
RPCV (2007) 102 (561-562) 49-52
49
Resumo: No presente trabalho, foram utilizados 20 espécimes
de Kerodon rupestris, 5 fêmeas e 15 machos. Após o preenchimento
do sistema arterial com neoprene-látex 450 corado com
pigmento específico, foi realizada dissecação para observação
da disposição dos ramos do arco aórtico. Em 13 preparações
(65%), originou-se do tronco braquiocefálico no sentido crânio-
-dorsal a artéria subclávia direita e posteriormente o tronco
bicarotídeo, o qual origina as artérias carótidas comuns direita e
esquerda. Em seis casos (30%), o tronco braquiocefálico
originou primeiramente a artéria carótida comum esquerda,
depois, separadamente, um tronco da artéria subclávia direita e
artéria carótida comum direita. Em um único animal (5%) o
tronco braquiocefálico trifurcou-se, originando as artérias
subclávia direita, carótida comum direita e carótida comum
esquerda. Em todos os casos os únicos ramos que emergiram do
arco aórtico foram o tronco braquiocefálico e a artéria subclávia
esquerda.
Palavras-chave: anatomia comparativa, sistema circulatório,
roedores
Summary: In this study 20 specimens of Kerodon rupestris,
5 females and 15 males were used. After performing the injections
with neoprene-latex 450 stained with specific pigment,
animals were dissected for description of aortic arch branches.
In 13 preparations (65%), the right subclavian artery was
originated from braquiocephalic trunk, from which also
emerged the bicarotid trunk originating the right and left
common carotid arteries. The left common carotid artery was
originated from braquiocephalic trunk in 6 cases (30%),
followed by the right subclavian artery and right common
carotid artery in the trunk. The braquiocephalic trunk divided
into three branches: the right subclavian artery and right and left
common carotid arteries, only in one animal (5%). The left
subclavian artery originated directly from the aortic arch in all
the cases.
Keywords: comparative anatomy, circulatory system, rodents
Introdução
A caatinga é caracterizada pela presença de arbustos
espinhosos e florestas sazonalmente secas, cobrindo a
maior parte dos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande
do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe,
Bahia e a parte nordestina de Minas Gerais. Este
ecossistema é marcado por um regime de chuvas
extremamente irregular de ano para ano, o que resulta
em secas severas periódicas (Krol et al., 2001; Chiang
e Koutavas, 2004). A maioria das chuvas (50-70%) se
concentra em três meses consecutivos (fevereiro,
março e abril) apesar da alta variação anual e dos
longos períodos de seca serem freqüentes (Nimer,
1972).
A caatinga tem sido descrita como um ecossistema
pobre em espécies e endemismo (Vanzolini et al.,
1980; Andrade-Lima, 1982; Prance, 1987). Entretanto,
Leal et al. (2003) ressaltam que estudos recentes têm
desafiado esse ponto de vista e demonstrado a
importância da caatinga para a conservação da biodiversidade
brasileira. A caatinga é uma anomalia
climática e funciona como um importante laboratório
para estudos de adaptação a um regime de chuvas
altamente variável e estressante por parte das plantas,
invertebrados e vertebrados (Leal et al., 2005). Os
roedores são animais que apresentam extraordinárias
variedades de adaptações ecológicas e suportam os
mais variados tipos de climas e altitudes, podendo
com isso apresentar grande número de adaptações
funcionais. O estudo destes animais contribui para o
avanço das ciências morfológicas, ampliando o
conhecimento de sua biologia, além disso, vem
revelando a grande importância da fauna silvestre da
região, e isso tem favorecido a sua preservação.
No nordeste, entre essas espécies está o mocó
Kerodon rupestris, um mamífero roedor da família
Caviidae, evolutivamente próximo ao porquinho-da-
-índia (Cavia porcellus). O mocó ocorre em afloramentos
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CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
DE
*Correspondência: cadumoura@ufrnet.br
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rochosos na caatinga, é altamente arborícola e se
alimenta de folhas e botões das árvores que tendem a
se agrupar nesses microhabitats mais mésicos
(Lacher, 1981). É um animal altamente adaptado a
condições de temperatura elevada, escassez de
alimento e água, principalmente em períodos de
grande seca que periodicamente devasta a região do
semi-árido nordestino.
O arco aórtico foi estudado em ratos de laboratório
(Hebel e Stromberg, 1982), porquinhos da índia
(Cooper e Schiller, 1975; Kabak e Haziroglu, 2003),
cutia (Carvalho et al., 1993), castor (Grasse e
Dekeiser, 1995), pacas (Oliveira et al., 2001), porcos
espinhos (Atalar et al., 2003), gambás (Reckzigel et
al., 2003) e chinchilas (Araújo et al., 2004). Para
roedores, Grasse e Dekeiser (1995) descreveram que,
do arco aórtico origina-se o tronco braquiocefálico,
no qual surge primeiro e separadamente a artéria
subclávia esquerda e a artéria carótida comum esquerda.
Depois emergiu um tronco comum formado pela artéria
subclávia direita e artéria carótida comum direita.
Verifica-se na literatura a escassez de dados sobre a
anatomia dos mocós. O presente trabalho teve como
objetivo contribuir com o conhecimento da anatomia
desse animal, descrevendo o comportamento do arco
aórtico e seus ramos, sendo este o foco de algumas
pesquisas envolvendo morfologia de animais silvestres.
Estabeleceu-se assim, um modelo padrão e suas principais
variações para esta espécie.
Material e métodos
No presente trabalho foram utilizados 20 mocós (15
machos e 5 fêmeas), que vieram a óbito por causas
naturais no Centro de Multiplicação de Animais
Silvestres da Universidade Federal Rural do semi-
-árido do Rio Grande do Norte (CEMAS/UFERSARN),
autorizado para criação com fins científicos pelo
IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis) - registro IBAMA-RN
nº 12.492 004 (Figura 1). Procedeu-se a seguir a
abertura da caixa torácica e do saco pericárdico para
posterior corte do ápice cardíaco, objetivando a canulação
da Aorta através do ventrículo esquerdo. Em
seguida, foi injetada solução salina para lavagem do
sistema arterial, seguindo-se a injeção de neoprene
látex 450 corado em vermelho para facilitar a visualização
do sistema arterial. As peças permaneceram sob
água corrente por uma hora para polimerização do
material injetado. Após este tempo, foram imersas em
formol a 10% para fixação, no prazo mínimo de 72
horas. Procedeu-se, então, a dissecação para observação
da disposição dos colaterais do arco aórtico. Os
resultados foram registrados através de desenhos
esquemáticos e imagens fotografadas.
Para descrever os resultados encontrados utilizou-se
a nomenclatura universal do ICVGAN (2005).
Resultados
Em mocó, o arco aórtico originou, primeiramente,
o tronco braquiocefálico e em seguida a artéria
subclávia esquerda. O tronco braquicefálico, após
trajeto no sentido crânio-dorsal, originou as artérias
carótidas comum direita e esquerda e lateralmente a
artéria subclávia direita. As artérias carótidas comum
seguem a área lateral da traquéia, junto com o tronco
vagossimpático do sistema nervoso autônomo. A
artéria subclávia esquerda originou os seguintes
ramos: a artéria vertebral, a artéria torácica interna, o
tronco costocervical e a artéria cervical superficial.
Após a emissão desses ramos, a artéria subclávia
esquerda, ao alcançar o espaço axilar, passa a ser
denominada de artéria axilar e possui um maior
calibre em relação aos outros ramos derivados da
artéria subclávia, podendo ser considerada a continuação
da artéria subclávia esquerda. A artéria subclávia
direita, embora possua origem cranial e uma trajetória
homóloga a primeira, originou os mesmos ramos em
todos os mocós estudados.
O comportamento descrito variou em alguns animais
a respeito da origem da artéria subclávia direita e das
artérias carótidas comum direita e esquerda. Em 13
animais, aproximadamente, 65% dos casos, o tronco
braquiocefálico originou primeiro a artéria subclávia
direita e em um tronco separado das artérias carótidas
comum esquerda e direita surgiram definindo este
comportamento de tronco bicarotídeo (Figura 2-A e
Figura 1 - Fotografia do mocó (Kerodon rupestris) em cativeiro no
Centro de Multiplicação de Animais Silvestres da Universidade Federal
Rural do semi-árido do Rio Grande do Norte (CEMAS/UFERSA-RN).
Magalhães MS et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 49-52
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Figura 3). Em seis animais, ou cerca de 30%, o tronco
braquiocefálico originou primeiro a artéria carótida
comum esquerda, depois separadamente um tronco da
artéria subclávia direita e artéria carótida comum
direita (Figura 2-B). Em um único animal (5%) a
divisão do tronco braquiocefálico apresentou um
aspecto de trifurcação dando origem às artérias carótidas
comum esquerda e direita e a artéria subclávia
direita (Figura 2-C).
Discussão
O presente trabalho é pioneiro na descrição do arco
aórtico e seus ramos no mocó, portanto a discussão a
seguir faz uma análise comparativa utilizando os
resultados descritos para espécies silvestres, em
especial com roedores.
A descrição feita por Grasse e Dekeiser (1995) estabeleceu
um modelo comportamental para roedores
onde do arco aórtico originava apenas o tronco
braquiocefálico, de onde primeiro surgia a artéria subclávia
esquerda e a artéria carótida comum esquerda e
separadamente emergia um tronco comum formado
pela artéria subclávia direita e a artéria carótida
comum direita. O arranjo do arco aórtico e seus ramos
em mocó não seguiu essa descrição de padrão comportamental
feita para roedores.
Segundo Reckzigel et al. (2003), estudando 28 gambás,
do arco aórtico emergiu o tronco braquiocefálico
e a artéria subclávia esquerda. A partir do tronco
braquiocefálico originou-se em 11 animais primeiramente
a artéria subclávia direita e, posteriormente, o
tronco bicarotídeo formado pelas artérias carótidas
comum direita e esquerda, sendo que este padrão foi
coincidente com o encontrado na maioria dos casos
(65%) em mocós. Esse comportamento também foi
encontrado em porquinho da índia por Cooper e
Schiller (1975) e Kabak e Haziroglu (2003), em cutia
por Carvalho et al. (1993), em castor por Grasse e
Dekeiser (1995). Entretanto esse comportamento de
tronco bicarotídeo foi ausente em pacas (Oliveira et
al., 2001), porcos espinhos (Atalar et al., 2003) e
chinchilas (Araújo et al., 2004).
Estudos feitos em chinchila por Araújo et al. (2004),
verificaram que na maioria dos animais, do arco
aórtico surgia o troco braquiocefálico e a artéria
subclávia esquerda, e que o tronco braquiocefálico
originou primeiro a artéria carótida comum esquerda e
logo após, a artéria subclávia direita emergiu em
tronco com a artéria carótida comum direita. Esse
comportamento também foi encontrado em 30% dos
animais utilizados neste trabalho. Esse arranjo apareceu
em todas as pacas estudadas por Oliveira et al.
(2001), bem como em ratos de laboratório (Hebel e
Stromberg, 1982), cutia (Carvalho et al., 1993),
porquinhos da índia (Kabak e Haziroglu, 2003) e
como uma variação em gambás (Reckzigel et al.
2003). Outro comportamento encontrado em gambás
(Reckzigel et al., 2003) foi a formação, a partir do
tronco braquiocefálico, de uma trifurcação que deu
origem às artérias subclávia direita, carótida comum
direita e carótida comum esquerda. Essa disposição
apareceu em 5% dos mocós estudados.
Para Atalar et al. (2003) em porco espinho,
Reckzigel et al. (2003) em gambá, Araújo et al. (2004)
em chinchila, do arco aórtico emergiu o tronco
braquiocefálico, a artéria carótida comum esquerda e
artéria subclávia esquerda. Essa disposição apareceu
Figura 2 - Representação do arco aórtico e seus colaterais (A-C), no
mocó (Kerodon rupestris). 1. arco aórtico, 2. tronco braquiocefálico,
3. artéria subclávia esquerda, 4. artéria subclávia direita, 5. artéria
carótida comum direita, 6. artéria carótida comum esquerda
Figura 3 - Fotografia do arranjo mais freqüente do arco aórtico e seus
colaterais no mocó. ACCD: artéria carótida comum direita, ACCE: artéria
carótida comum esquerda, TBC: tronco bicarotídeo, TB: tronco braquiocefálico,
ASD: artéria subclávia direita, ASE: artéria subclávia esquerda
Magalhães MS et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 49-52
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em todos os casos de porco espinho estudados por
Atalar et al. (2003), e como uma variação em gambá
(Reckzigel et al., 2003) e chinchila (Araújo et al.,
2004). Entretanto em mocó, esse padrão não foi
encontrado em nenhuma de nossas preparações,
evidenciando que os únicos ramos que emergiram do
arco aórtico foram o tronco braquiocefálico e a artéria
subclávia esquerda, ocorrendo variação apenas na
origem da artéria subclávia direita e das artérias
carótidas comum direita e esquerda.
Em resumo, os ramos do arco aórtico em mocós
mostraram similaridade aos observados em outros
animais silvestres. Os resultados desse trabalho
poderão contribuir para o avanço das pesquisas no
campo da anatomia comparativa.
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Sarcomas dos tecidos moles no gato: estudo do conteúdo de ADN nuclear
e do seu valor prognóstico pela técnica de citometria de imagem
Soft tissue sarcomas in cats: nuclear DNA content study and its prognostic
value by image cytometry
Cristina Ochôa*1, Carlos Palmeira2, 3
1Departamento de Patologia, Laboratório Nacional de Investigação Veterinária, INRB-IP, 4485-655 Vairão VCD
2Serviço de Imunologia, IPOPFG, EPE, 4200-072 Porto
3Grupo de Patologia, Universidade Fernando Pessoa, 4200-150 Porto
RPCV (2007) 102 (561-562) 53-59
53
Resumo: No gato, os sarcomas cutâneos apresentam comportamento
biológico agressivo, recidivando frequentemente e
metastizando. Apesar das características histopatológicas de
grande malignidade destes tumores, as alterações genómicas
das células neoplásicas permanecem mal caracterizadas. Os
estudos da ploidia de ADN fornecem informações mais precisas
do comportamento biológico dos tumores e têm sido cada vez
mais utilizados na obtenção de informação com validade
prognóstica. Neste estudo avaliamos o conteúdo de ADN das
células neoplásicas de 41 sarcomas dos tecidos moles do gato,
através da técnica de citometria de imagem, com especial
interesse na caracterização das seguintes variáveis citométricas:
ploidia de ADN, índice de ADN (IA) e percentagem de células
com conteúdo de ADN superior a 2,5c, 5c e 9c. O acompanhamento
clínico foi possível para 33 dos casos analisados,
tendo-se relacionado as variáveis citométricas com a sobrevida,
na tentativa de avaliar a sua importância como factores de
prognóstico. Os sarcomas felinos apresentaram aneuploidia de
ADN em 34 neoplasias (82,9%) e o valor médio de IA foi de
1,5, notando-se frequentemente fracções celulares com conteúdos
de ADN superiores a 5c e 9c. As variáveis citométricas
avaliadas não apontaram para associação significativa com a
sobrevida, à excepção da variável citométrica fracção de
células>2,5c, revelando prognóstico mais favorável para os
gatos cujas neoplasias continham esta fracção elevada. Do
presente trabalho resulta que as variáveis citométricas avaliadas
têm baixa importância como factores de prognóstico, neste
tipo de patologia. No entanto, os fenómenos de instabilidade
genética podem estar relacionados com o comportamento
biológico agressivo e desempenhar um papel importante na
patogenia dos sarcomas felinos.
Palavras-chave: gato; sarcomas; factores de prognóstico;
conteúdo de ADN; ploidia de ADN
Summary: The soft tissue sarcomas in cats have aggressive
biological behaviour with frequent recurrence and occurrence
of metastases. Despite their malignant histopathological
features, tumour cell genomic alterations remain poorly
evaluated. Nuclear DNA content studies provide more accurate
information about biological neoplasic behaviour and are relevant
prognostic parameters in many tumour types. In this study,
41 feline soft tissue sarcomas have been evaluated by image
cytometry, with particular interest for the following cytometric
variables: DNA ploidy, DNA index (IA) and number of cells
exceeding 2,5 c, 5c and 9 c. The follow-up was possible to
determinate in 33 cats, in which the prognostic value of the
aforementioned cytometric variables was tested. The feline
sarcomas showed DNA aneuploidy in 34 (82,9%) of the
analysed cases. The IA average was 1,5 and frequently there
were cell fractions exceeding 5c and 9c. The cytometric
variables have no significant prognostic value, except for the
number of cells exceeding 2,5c, revealing better prognosis for
cats with higher levels for this parameter. From this work it was
concluded that cytometric variables have no significant
prognostic value, but genetic instability events could be related
to aggressive biological behaviour and could take part in feline
sarcomas pathogenesis.
Keywords: cat, sarcomas, prognostic factors, DNA content,
DNA ploidy
Introdução
Classicamente a caracterização das neoplasias é
realizada com base nas características citológicas e
histológicas. Contudo, à medida que novos conhecimentos
emergem, novas técnicas são usadas para
apoiar o diagnóstico histológico, estabelecer o
prognóstico e melhorar o conhecimento da história
natural das neoplasias. A avaliação de anomalias
cromossómicas torna-se particularmente útil no
diagnóstico dos sarcomas dos tecidos moles indiferenciados.
A citogenética constitui uma ferramenta
importante para o médico patologista, já que a
maioria dos sarcomas dos tecidos moles contêm
aberrações cromossómicas, muitas das quais carac-
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CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
DE
*Correspondência: cristina.ochoa@lniv.min-agricultura.pt
Ochôa C e Palmeira C RPCV (2007) 102 (561-562) 53-59
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terísticas de alguns tipos histológicos. Infelizmente, a
análise citogenética é laboriosa estando o seu sucesso
dependente do êxito do citogeneticista em cultivar as
células tumorais (Fletcher, 1995). Em Medicina
Veterinária a sua aplicação está limitada pela sua
grande exigência, quer em recursos económicos, quer
em meios técnicos. A técnica de citometria de
imagem, no entanto, permite a análise de material de
arquivo, possibilitando ao operador uma monitorização
activa na selecção das células e na rejeição de
artefactos (Pape et al., 1992; Mitchie et al., 1994),
permitindo a caracterização da ploidia de ADN
assim como desenvolver estudos retrospectivos que
relacionam o tempo de sobrevida com os parâmetros
avaliados na pesquisa de factores de prognóstico
(Soini et al., 1992; Pape et al., 1992; Cattoretti et al.,
1992; Baas et al., 1994; Clemo et al., 1994; Stenersen
et al., 1994; Jösten e Rudolph, 1997; Subdo et al.,
2001). Vários estudos de citometria de imagem e de
fluxo encontraram associação entre a ploidia de
ADN e o grau histológico (Pape et al., 1992; Clemo et
al., 1994; Böcking et al., 1994; van Velthoven et al.,
1995b), a metastização (Lee et al., 1994), a
recorrência (Böcking et al., 1994; Lee et al., 1994)
e a progressão da doença (Sazaki et al., 1992;
Zarbo, 1995; Subdo et al., 2002) em vários tipos de
neoplasias.
No presente trabalho caracterizaram-se mais profundamente
os sarcomas dos tecidos moles felinos
através da técnica de citometria de imagem tentando-
-se ainda obter algumas informações sobre o acompanhamento
clínico dos animais no sentido de
averiguar a importância dos parâmetros avaliados
como factores de prognóstico.
Material e métodos
Neste trabalho estudaram-se 47 sarcomas dos tecidos
moles de gatos, recorrendo a amostras incluídas
em parafina, do arquivo histológico do Laboratório de
Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina
Veterinária da Universidade Técnica de Lisboa.
Foram efectuados cortes de 6 ¼m de espessura
que foram depositados em lâminas revestidas por
poli-L-lisina (Sigma). Procedeu-se à coloração de
Feulgen utilizando-se o "kit" de coloração "CAS
DNA" (Becton Dickinson, Cell Analysis System,
Emhurst, III). Este "kit" de coloração utiliza a tionina
para marcar especificamente o ADN nuclear,
produzindo uma coloração azul da cromatina. Esta
marcação é feita de forma estequiométrica resultando
numa intensidade de coloração proporcional à quantidade
de ADN (Martinez-Nistal et al., 1993; Lee et al.,
1994; Cohen et al., 2001; Haroske et al., 2001).
Todo o procedimento foi realizado de acordo com as
indicações do fabricante. Em cada banho de coloração
foi incluída uma lâmina com hepatócitos de rato para
calibração do citómetro de imagem e controlo externo
da coloração. Após desparafinação e hidratação, as
preparações histológicas, juntamente com uma lâmina
de calibração, foram submetidas a hidrólise ácida
numa solução de ácido clorídrico 5N (Merck) durante
60 minutos, sendo depois transferidas para a "solução
de coloração" onde ficaram durante 60 minutos, após
os quais foram submetidas a três passagens sucessivas
pela "solução de lavagem". Seguiram-se a diferenciação
em álcool ácido a 1%, desidratação e montagem
com Entellan® (Merck). As preparações histológicas
foram guardadas ao abrigo da luz até posterior leitura
(Oliveira et al., 2005).
Análise do conteúdo de ADN
A quantificação e interpretação dos resultados
foram efectuadas no sistema de análise de imagem
CAS 200® (Cell Analysis System, Inc., Elmhurst, III)
através do programa "Quantitative DNA Analysis
3.0". Este programa permite medir o conteúdo de
ADN nuclear em cortes de tecidos e estabelecer a
correcção entre o conteúdo de ADN de um núcleo
individual e a espessura do corte. Uma vez quantificado,
o conteúdo de ADN foi expresso em "unidades c"
(onde o "c" representa a quantidade de ADN de uma
célula haplóide de cromossomas monocromatídicos).
A ploidia foi determinada como "ploidia de ADN"
para diferenciá-la claramente da contagem cromossómica
obtida pelas técnicas de citogenética (Chieco e
Derenzini, 1999).
Após a calibração do aparelho com a lâmina
contendo hepatócitos de rato, procedeu-se à análise
das preparações histológicas das neoplasias em
estudo. Analisou-se em cada lâmina o valor médio do
pico G0/G1 de um número mínimo de vinte linfócitos
peritumorais. Os linfócitos funcionaram como controlo
interno da ploidia de ADN, constituindo a população
de células de referência para definir o pico G0/G1
diplóide de ADN (2c). A análise do conteúdo de ADN
das células neoplásicas foi realizada através da leitura
de um mínimo de cem núcleos bem focados e preservados,
evitando-se os sobrepostos, destruídos ou
marginais (Bacus et al., 1993; van Velthoven et al.,
1995a; Reeder et al., 1997; Oliveira et al., 2005).
Os resultados da análise de citometria de imagem
foram apresentados sob a forma de histogramas de
ADN, representando a distribuição da população
celular em função da intensidade da coloração do
ADN nuclear. Através da análise dos histogramas
foram avaliados os seguintes parâmetros: a ploidia de
ADN, índice de ADN (IA), percentagem de células
com teor de ADN superior a 2,5c, 5c e 9c.
Na interpretação dos histogramas de ADN consideraram-
se os seguintes conceitos:
População de células de referência: população de
células não neoplásicas com conteúdo de ADN
conhecido, funcionando como garantia de controlo e da
reprodutibilidade da análise e permitindo estabelecer
Ochôa C e Palmeira C RPCV (2007) 102 (561-562) 53-59
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o pico diplóide (Wied et al., 1989; Hardisson et al.,
1993; Lee et al., 1994).
População diplóide (2c): população com conteúdo
de ADN considerado idêntico ao das células de referência
para uma determinada espécie (Orfao et al.,
1993; Stöckle et al., 1993; Wheless et al., 1993; Lee
et al., 1994).
População aneuplóide: população ou clone celular
com conteúdo de ADN anormal, como tal, diferente
da população celular diplóide de referência (Wheeless
et al., 1993; Lee et al., 1994).
Para cada uma das neoplasias em estudo foi
identificado o pico G0/G1 e calculados o IA, o
desvio-padrão e o coeficiente de variação (CV).
O IA representa a razão entre o valor médio de
conteúdo de ADN do pico G0/G1 da população de
células em estudo e do pico G0/G1 das células de
referência.
Definiu-se a região diplóide de ADN como o
conteúdo de ADN compreendido entre o valor médio
do pico G0/G1 da população de referência ± 2
desvios-padrão (Oliveira et al., 2005). As neoplasias
que apresentavam o pico G0/G1 compreendido nesta
região foram classificadas como diplóides de ADN.
Por sua vez, aquelas cujos picos G0/G1 se localizavam
fora desta região, foram classificadas como aneuplóides
de ADN (Raju et al., 1993; Oliveira et al.,
2005). Os tumores que apresentaram histogramas de
ADN com duas ou mais populações aneuplóides
foram classificados como multiplóides.
O CV do pico G0/G1 da população de referência é
uma medida de precisão que exprime a variabilidade
da população celular estudada (Orfao et al., 1993; Lee
et al., 1994) e serviu como controlo de qualidade dos
estudos citométricos realizados.
Foram avaliadas também as percentagens de células
com conteúdo de ADN superior a 2,5c, 5c e 9c. As
células com conteúdo de ADN superior a 2,5c poderão
corresponder a células em proliferação, enquanto que
as células com valor de ADN superior a 5c indicam
muito possivelmente núcleos verdadeiramente aneuplóides.
A população de células com conteúdo de
ADN superior a 9c representa núcleos aneuplóides,
muito aberrantes e com conteúdo de ADN muito elevado
(Auer et al., 1980).
Estudo da sobrevida
Os animais em estudo foram sujeitos a excisão
cirúrgica para extirpação do tumor primário, sem
tratamento adicional. O seguimento clínico foi possível
para 33 animais e a data do final do estudo foi 31 de
Dezembro de 2002. Foram registadas as datas da
cirurgia e a eventual data da morte natural ou por
eutanásia através de contacto telefónico com o clínico
veterinário assistente. Quando alguma destas informações
não estava disponível, e sempre que possível,
foram contactados os proprietários dos animais. Os
resultados ambíguos ou incompletos foram eliminados
do estudo. Estas informações foram utilizadas para a
determinação do parâmetro denominado tempo de
sobrevida total (TST), definido pelo intervalo de
tempo (em dias) desde a data da primeira excisão até
à data da morte do animal ou à data final do estudo.
Análise estatística
Os resultados foram expressos em frequências
absolutas e relativas (percentagens) e para as variáveis
numéricas foi calculada a mediana, valores mínimo e
máximo, e utilizou-se a mediana como valor "cut off".
A sobrevida global foi calculada pelo método de
Kaplan-Meyer. As variáveis citométricas foram
categorizadas em dois grupos e relacionadas com o
TST. Foram calculadas as medianas do TST para cada
uma das categorias, e as diferenças entre os grupos
foram comparadas pelo teste de log-rank, com o
objectivo de estudar a sua importância como possíveis
factores de prognóstico.
As associações encontradas foram consideradas
significativas para valores de p750.0001.750.000 CS) 41,1 14
Total 100 34
CS células somáticas.
Mendonça A et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 175-180
177
Em termos semanais, o valor médio das CCS de
todo o rebanho situou-se quase sempre ao nível de
infecção com agentes de baixa patogenicidade (entre
os dois limites), aspecto ilustrado na Figura 1. A
média global foi mesmo de 1111x103 ±356x103 CS/ml
de leite (c.v.=32,1%).
Após avaliação individual das curvas de eliminação
de células somáticas (CS), as cabras foram divididas
em três grupos distintos: cabras não infectadas (sãs),
cabras infectadas por pm e cabras infectadas por pM
(Figura 2). Em média, o leite das cabras sãs possuía
642x103 ±399x103 CS/ml (c.v.=62,2%), o das cabras
infectadas por pm 854x103 ±321x103 CS/ml
(c.v.=37,5%) e o das cabras infectadas por pM
1455x103 ±420x103 CS/ml (c.v.=28,9%).
Discussão
Tratando-se de um estudo preliminar, que conta com
a limitação de não ter sido possível fazer a recolha
sistemática das amostras de leite em assepsia a cada
metade mamária, para diagnóstico bacteriológico, não
foi dada grande relevância a outros factores responsáveis
pelas variações fisiológicas do número de células
somáticas, nomeadamente a fase da lactação, a idade
das fêmeas (nº de partos), o número de crias e o tipo
de ordenha, manual ou mecânica, entre outros. Aliás,
as regras utilizadas para o diagnóstico de MSC,
propostas por de Crémoux et al. (1996) e de Crémoux
(2000), que neste trabalho quisemos testar para a raça
Serrana, não incluem a análise directa dos diferentes
factores responsáveis por esta variação fisiológica do
número de CS no leite, pelo que o delineamento não
previu a análise da sua influência.
O objectivo deste trabalho não foi, assim, a análise
aprofundada da influência destes parâmetros na eliminação
de CS, que só seria viável se correlacionados
com as variações de CS das metades mamárias com
diagnóstico bacteriológico negativo, mas sobretudo
testar a sua triagem em grupos de diferente status
sanitário, mediante critérios previamente definidos.
De um modo geral, considera-se que a fase da
lactação é o parâmetro mais influente na variação
fisiológica da eliminação de CS, com as contagens
celulares a subir regularmente desde o início ao fim da
lactação (Bergonier et al., 1996; Paape, 2001).
Variações para um lado e outro desta tendência são
normais e frequentes, devidas ao efeito de diluição ou
concentração com origem, respectivamente, no
aumento ou diminuição da produção de leite
(Bergonier et al., 2003).
A este respeito Contreras et al. (1996) mostra ser a
meia lactação (segundo e terceiro meses) a fase em
que a contagem de células somáticas é mais eficiente,
para efeitos de diagnóstico de infecção intra-mamária,
evitando assim os períodos extremos, inicial e final.
Ainda de acordo com Bergonier et al. (2003) esta
metodologia de diagnóstico pontual é menos eficiente
que uma aproximação dinâmica, baseada em leituras
sistemáticas e apoiada em dois a três limites de
aceitação (resultado duvidosos ou infectados com
patogénicos menores, respectivamente, para os ovinos
e caprinos). O número de partos é também causa de
aumento das contagens celulares (Sánchez et al.,
1999), sem que essa variação possa comprometer a
sua utilidade.
A eventual infecção pelo vírus da artrite - encefalite
caprina, frequente na região (Fevereiro, M., comunicação
pessoal), não foi pesquisada. No entanto,
estudos recentes apontam para uma influência reduzida
no aumento de células somáticas no leite das fêmeas
seropositivas (Aleandri et al., 1996; Turin et al.,
2005). A influência directa desta patologia na variação
das contagens celulares deveria no futuro ser melhor
avaliada (Bergonier et al., 2003).
Muito embora a eventual presença de micoplasmose
não tenha sido objecto de pesquisa prévia, registos de
vários anos do rebanho em causa apontam para um
estatuto de não infecção por este organismo, uma vez
não há qualquer indício da sua sintomatologia, como
septicemias, poli artrites ou conjuntivites. Autores
como Bergonier et al. (1996) e Contreras et al. (2007)
consideram que o aumento de CS no leite de fêmeas
com esta patologia é exuberante, o que não se verificou
(animais sãos 642x103 ±399x103 CS/ml, cabras
infectadas por pm 854x103 ±321x103 CS/ml, cabras
infectadas por pM 1455x103 ±420x103 CS/ml),
comparativamente com valores frequentemente citados
na literatura internacional.
Por fim, o significado das flutuações celulares em
leite de cabra não está ainda totalmente compreendido,
Figura 1 - Valores médios semanais das contagens de células somáticas
(x 103 CS/ml).
Figura 2 - Valores médios semanais das contagens de células somáticas
observados entre as cabras não infectadas, infectadas com pm e com pM.
2500
2000
1500
1000
500
0
21 Jan
4 Fev
18 Fev
3 Mar
17 Mar
31 Mar
14 Abr
28 Abr
12 Mai
26 Mai
9 Jun
23 Jun
7 Jul
21 Jul
21 Jan
4 Fev
18 Fev
3 Mar
17 Mar
31 Mar
14 Abr
28 Abr
12 Mai
26 Mai
9 Jun
23 Jun
7 Jul
21 Jul
(x103 CS/ ml)
Limiar Máximo
Limiar Mínimo
2500
2000
1500
1000
500
0
(x103 CS/ ml)
Limiar Máximo
Limiar Mínimo
Datas das colheitas
Datas das colheitas
Mais virulentos
Menos virulentos
Não infectadas
Mendonça A et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 175-180
178
sendo certo que a infecção intra-mamária é a causa
mais importante de variação das contagens celulares e
a contagem destas, o método mais fiável de presunção
do status sanitário das fêmeas do rebanho
(MacDougall et al., 2001; Bergonier et al., 2003)
Em consequência, cada um destes parâmetros influi
na curva de eliminação de CS de cada animal, razão
pela qual se construiu uma curva relativa a cada
fêmea. Foi a análise cuidadosa de cada uma destas
curvas que serviu de base à distribuição das fêmeas
correspondentes pelas diferentes categorias (sãos,
infectadas com patogénicos menores e infectadas com
patogénicos menores) segundo as supracitadas regras
de decisão, sendo que esta análise individual reflecte o
efeito da fase da lactação, número de partos e demais
causas de variação fisiológica.
Após a formação dos grupos, estes resultados
individuais das curvas de eliminação de CS foram
traduzidos em médias de cada um dos grupos formados,
para efeitos de apresentação gráfica sintética,
como se pode visualizar na Figura 2.
Podemos assim considerar, sob estes condicionalismos,
que a influência daqueles parâmetros se encontra
implícita nas curvas apresentadas.
De entre os resultados obtidos no decurso deste estudo,
salientamos que 41,2% das cabras permaneceram
sempre sãs e 58,8% estiveram, nalgum momento, infectadas
por microrganismos patogénicos (÷ð2 = 6,480;
Pd"0,05) (Quadro 1). Das cabras infectadas, 30,0%
foram-no por patogénicos maiores e 70,0% por
patogénicos menores (÷ð2 = 32,000; Pd"0,001). Como
consequência deste facto, e dependendo da espécie
microbiana implicada, dos factores intrínsecos e
extrínsecos à maturação do queijo, à conservação e à
sensibilidade particular do consumidor, podem sobrevir
eventuais acidentes de saúde pública. Por outro lado, as
fêmeas infectadas produzem geralmente menos leite
(Bergonier et al., 1996; Kalantzopoulos, 1996; Baudry
et al., 1996; Jaubert et. al., 1996) e de pior qualidade
higiénica (Contreras et al., 1994) e tecnológica
(Pasquini et al., 1996; Pellegrini et al., 1996; Pirisi et
al., 1996; Pizzilo et al., 1996; Morgan, 2000; Pirisi
et al., 2000). Acresce ainda o facto do leite produzido
por estas fêmeas poder ser nutricionalmente deficitário
e estar na origem de diarreias, com reflexos nas taxas de
sobrevivência e de crescimento dos cabritos. Estudos
recentes indiciam a possibilidade da quebra de produção
de leite, em cabras, ser diminuta ou inexistente,
assim como não ser sempre possível associar altas
contagens celulares a infecções evidentes. Estes resultados
contrariam estudos ante-riores, de acordo com
os quais o estado de infecção tem como consequência
a diminuição da produção de leite (Baudry et al.,
1996; Jaubert et al., 1996), o aumento de células
somáticas no leite (Contreras et al., 1999; Leitner et
al., 2004), além da nossa própria experiência, em trabalhos
anteriores (não publicados), diferenças que
poderão ter como causa diferenças metodológicas
(raça, técnicas utilizadas), variações celulares devidas
a causas não infecciosas ou simplesmente a incerteza
própria da metodologia de diagnóstico. Por outro lado,
é sabido que diferentes agentes patogénicos podem
suscitar respostas celulares de dimensão muito diferente
(Haenlein, 2002). A validação deste método
necessita assim de uma confirmação rigorosa, que
permita elucidar a real influência da infecção intra-
-mamária na eventual perda de produção, mais frequentemente
relatada em ovinos do que em caprinos,
razão pela qual seria interessante a realização de mais
trabalho neste domínio, à semelhança do estudo muito
abrangente conduzido por Peris et al. (1996), em ovelhas
de leite, onde essa associação ficou quantificada. A
generalidade dos autores continua, contudo, a considerar
que a CCS é um dos métodos mais fiáveis para o
diagnóstico de mastites subclínicas em cabras de leite.
Em termos semanais, o valor médio das CCS de
todo o rebanho situou-se quase sempre ao nível de
infecção com agentes de baixa patogenicidade, entre
os dois limites (Figura 1). A média global foi mesmo
de 1111x103 ±356x103 CS/ml de leite (c.v.=32,1%).
Neste trabalho, porque não foi feita a confirmação das
MSC por um método de referência não se podem
inferir, com certeza absoluta, os estados de infecção.
Contudo, se se aceitarem como válidos, para esta raça
e sistema de exploração, os limites propostos por de
Crémoux et al. (1996) e de Crémoux (2000), os resultados
obtidos indiciam uma prevalência importante
desta patologia no rebanho estudado.
Após avaliação individual das curvas de CCS, as
cabras foram divididas em três grupos distintos:
cabras não infectadas (sãs), cabras infectadas por pm
e cabras infectadas por pM (Figura 2). Em média, o
leite das cabras sãs possuía 642x103 ±399x103 CS/ml
(c.v.=62,2%), o das cabras infectadas por pm 854x103
±321x103 CS/ml (c.v.=37,5%) e o das cabras infectadas
por pM 1455x103 ±420x103 CS/ml (c.v.=28,9%).
Apenas a diferença observada entre cabras sãs e
cabras infectadas por pm foi estatisticamente não
significativa (P>0,05). As restantes diferenças revelaram-
se muito significativas (Pd"0,001). Assim,
considerou-se que o limiar superior (1750x103 CS/ml)
pode ser válido para distinguir entre metades
mamárias infectadas com pM ou com pm, mas já o
limite inferior (750x103 CS/ml) poderá ser demasiadamente
baixo ou alto para distinguir entre glândulas
mamárias sãs e glândulas mamárias infectadas. Esta
questão só poderá se elucidada mediante o estudo
extensivo da relação entre as MSC e a eliminação
celular, com recurso ao diagnóstico microbiológico e
correlação com o número de células somáticas eliminadas
no leite, para esta raça.
Ao que tudo indica urge, efectivamente, proceder ao
rastreio rigoroso de MSC em caprinos, como forma de
defender o bem-estar animal, a qualidade do leite e
dos produtos lácteos, a economia da exploração e a
saúde pública.
Mendonça A et al. RPCV (2007) 102 (561-562) 175-180
179
Conclusões
Os resultados observados neste estudo indiciam a
existência de uma importante prevalência de MSC
entre as cabras da raça Serrana. A utilização de regras
de decisão propostas para outras raças é normalmente
abusiva, mas permite um exercício de avaliação e
fornece um termo de comparação. Em Portugal deverá
ser feito um esforço no sentido de estudar a incidência
desta patologia entre as raças caprinas e ovinas
nacionais, para que se possam estabelecer limites
susceptíveis de permitir decisões seguras por parte das
autoridades (legislação e fiscalização), dos produtores
e dos industriais nacionais.
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Suplemento
DA REVISTA PORTUGUESA DE CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
Vol. CII · Nº 561-562
Cristiano Sheppard Cruz
António Martins Mendes
Faculdade de Medicina Veterinária - TULisbon, Av. da Universidade Técnica, 1300-477 Lisboa
SUPLEMENTO
183
Origens
Christiano Alfredo Shepard Cruz ou Cristiano
Sheppard Cruz ou ainda Christiano Cruz, nasceu na
freguesia de Nossa Senhora dAssumpção, Distrito de
Leiria, filho de Alfredo Eduardo Cruz e de D. Berta
Sheppard Cruz, no dia 6 de Maio de 1892. Na cidade
de Leiria realizou os seus estudos primários. Seu pai,
que era militar, conseguiu ser transferido, primeiramente
para Santarém para que ele realizasse o curso
geral dos liceus do 1º ao 5º ano e depois para Coimbra,
para que pudesse frequentar o curso complementar,
6º e 7º do ensino secundário no respectivo Liceu,
completando-o em 1910.
Formação Profissional
Seu pai aconselha-o a matricular-se no Curso de
Veterinária, pois em sua opinião teria uma carreira
assegurada, pelo menos no exército. Christiano, obedientemente,
frequentou a Escola de Veterinária de
1910 a 1915, revelando-se um bom aluno.
No seu tempo a Escola de Veterinária estava ainda
sob a reorganização do ensino feita pouco depois da
proclamação da República, ao abrigo do disposto no
Decreto de 12/12/910. O Instituto de Agronomia e
Veterinária fora então dividido em dois estabelecimentos.
O Instituto Superior de Agronomia ocupou
instalações na Tapada da Ajuda. A Escola de Medicina
Veterinária continuou na velha Quinta da Cruz do
Tabuado, que até então partilhara com a Agronomia, e
onde permaneceu até 1999. A área inicial foi sendo
pouco a pouco devorada pela urbanização de Lisboa e
as instalações reduzidas progressivamente até a um
mínimo quase incomportável, como todos sabemos.
Pouco tempo depois da defesa da sua tese a Escola
foi ainda objecto de mais outra reforma, pelo Decreto
com força de Lei de Julho de 1918 (reforma Sidónio
Pais), passando a designar-se Escola Superior de
Medicina Veterinária provavelmente uma manifestação
de reconhecimento do ditador, pois o esquadrão
do Hospital Veterinário, sob o comando do tenente
médico veterinário Gualdino de Brito Vasques (de
quem o autor foi aluno de Doenças Infecto-
Contagiosas) tomou o seu partido, ocupando posições
na Rotunda, como referem diversos jornais da época.
Alfredo Christiano Sheppard Cruz foi um profissional
distinto, mas foi também e talvez principalmente,
um notável artista plástico de referência na
História da Arte Moderna no nosso país.
Actividade como artista plástico
Como artista plástico, sob o nome de Christiano
Cruz, ele não foi uma ficção. Existiu e tem uma obra
produzida, talvez possamos dizer "freneticamente",
num período de 6-7 anos (Rodrigues, 1989).
Segundo Travassos Dias (1950) quase toda a sua
produção artística estendeu-se por numerosos jornais
e revistas da época, tais como: "Gorro", "Farsa",
"Centauro", "Águia", "Novidades", "A Luta", "A
Rajada" e foi extraordinariamente valiosa «... pelo
talento e rigor do traço, elevada intuição plástica e
espontaneidade que imprimia aos seus desenhos reveladores...
de uma correcção técnica e de um acentuado
individualismo, atributos que tiveram poderosa
influência na formação estética de grande parte dos
seus camaradas de arte».
Na sua juventude foi companheiro de nomes
Grandes na Arte Moderna Portuguesa, tais como
Barradas, Almada Negreiros, Bernardo Marques...
Segundo Augusto França (1985) ...a sua lembrança
acode aos companheiros desse período como o
primeiro de todos, pela sua cultura e pela maturidade
artística. Foi Christiano Cruz quem forneceu uma
arma caricatural e cruel contra os adversários
académicos baptizando-os de "botas-de-elástico...,
alcunha que entrou depois na linguagem corrente, até
aos nossos dias. O seu nome e a sua personalidade
artística são abundantemente referidas por José
Augusto França, a quem coube o privilégio de retirar
o seu nome e a sua obra do quase esquecimento em
que se encontrava, incluindo-os destacadamente na
sua obra "A Arte em Portugal no século XX" (Augusto
França, 1985). Até então ele ter-se-ia transformado
"numa espécie de mito, pois a sua lembrança acudia
apenas aos seus companheiros como o primeiro de
todos. Nessa fase que José Augusto França considera
R E V I S TA P O R T U G U E S A
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
DE
SUPLEMENTO RPCV (2007) 102 (561-562) 183-188
184
como primeira ...participam as suas excelentes caricaturas
e desenhos humorísticos [...] até um traço
admiravelmente sintético que nenhum outro artista
tinha então.
Sabe-se que publicou o seu primeiro desenho no
"Jornal dos Alunos" do Liceu de Coimbra, em
Novembro de 1910 com cerca de 13 anos de idade
imediatamente se revelando como humorista e desenhador
original e talentoso. Em 1912, já residente em
Lisboa, participou no I Salão dos Humoristas
Portugueses. Na fotografia do acontecimento
inaugurado pelo
Presidente da República, Dr.
Manuel de Arriaga Christiano
Cruz aparece bem visível. Já nessa
época, entre as absorventes funções
oficiais de Presidente, sobressaía a
de inaugurador de exposições e benemérito
auxiliar dos artistas... comprando-
lhes um ou dois quadrinhos,
pagos pelo orçamento do estado...
Nesse tempo vivia-se ainda sob a
influência do grande Rafael Bordalo
Pinheiro o pai dos humoristas portugueses.
O próprio Salão fora obra
do seu filho Manuel Gusmão.
Christiano Cruz entendia que os
tempos haviam mudado, que tinha
chegado a altura dos artistas se libertarem
do passado, de criarem o seu próprio estilo, de
recrearem, de inovarem. Essa posição, a fina ironia
dos seus desenhos, o seu inconformismo, irritaram o
conservadorismo reinante, para quem Bordalo
Pinheiro seria inultrapassável. Christiano abordava
temas e figuras da sua época; recusava-se a praticar,
dominantemente, a caricatura política, apresentando
novas formas e novos tipos de desenho humorístico.
Caricaturava outras pessoas, novas figuras com usos e
costumes semelhantes. Foi por isso considerado um
"homem temível", aos 20 anos de idade.
No ano seguinte, a 6 de Junho de 1913, ainda participou
no II Salão dos Humoristas Portugueses. Nessa
exposição Christiano Cruz foi considerado como "um
novo que já é mestre dos novos". Contudo, o grupo
dos "conservadores bordalistas" continuava dominante.
Houve forte polémica jornalística, durante a
qual Christiano Cruz lançou a sua palavra de ordem,
declarando: "A Guerra à bota-de-elástico!". Talvez
tenha então começado a sua desilusão como artista
plástico, pois o meio cultural e artístico eram, de
facto, fortemente limitativos, condicionados e condicionantes
(Mendes, 1989).
Em 1915 afirmava que "o meio não estimula
ninguém". Por esse tempo estaria já frequentando o 5º
ano de Veterinária. Decidiu então abandonar a vida
artística e dedicar-se apenas ao curso e à profissão
escolhida ou talvez mesmo pensando no exílio, como
forma de protesto e de fuga ao meio.
Em 1917, já com o curso de Medicina Veterinária
completo, mas sem ter ainda defendido a sua "dissertação
inaugural", serviu em França como alferes
médico veterinário miliciano do Corpo Expedicionário
Português (Rodrigues, 1989). Dessa sua
experiência deixou-nos, também, algumas memórias
do seu dom artístico, desenhando o álbum "Cenas de
Guerra", a lápis e tinta-da-china e executando algumas
pinturas de inspiração local. Depois do armistício
regressou a Portugal.
Mas antes disso interrompera a
estadia em França, no mês de
Março de 1918 para vir a Lisboa
defender com sucesso, a sua dissertação
intitulada: "Sobre o oxigénio
em terapêutica", e adquirir o titulo
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